Crítica

Crítica De repente pai: filme família garante boa diversão

De Repente Pai

De Repente Pai é um filme bastante família, agradável, que não ofende os neurônios, mas que também não os põem para trabalhar mais que o normal

De Repente Pai, refilmagem do longa-metragem canadense Meus 533 Filhos (2011), possui uma premissa das mais instigantes, que se destaca ainda mais por se tratar de um caso que realmente aconteceu. E mesmo com algumas falhas observadas em sua execução, ao final do filme fica o sentimento de que a experiência foi agradável, nada que se torne inesquecível, mas também nada que seja digna de execração publica.

O filme conta a história de David Wozniak (Vince Vaughn), que com seus quarenta e poucos anos ainda vive uma vida estritamente adolescente, com pouco espaço para responsabilidades e com imaturidade de sobra. Ele trabalha como motorista do açougue da família, emprego conquistado somente pelo fato de ser filho do dono; na vida pessoal, mantém um relacionamento instável com a namorada (a linda Cobbie Smulders), além de possuir uma dívida com agiotas de 80 mil dólares.

É neste contexto de caos que a história de David toma ares ainda mais espetaculares quando ele é informado que o período em que foi doador assíduo de esperma lhe rendeu ao longo dos anos 533 filhos biológicos, e que destes, mais de uma centena entrou na justiça para ter o direito legal de conhecê-lo.

Antes de tudo, devemos avisar que De Repente Pai é um remake (literalmente falando) do longa-metragem canadense Meus 533 Filhos, dirigido (também) por Ken Scott, mas falado em francês. Ken Scott optou por contar, detalhe por detalhe, a história original, só que agora sendo falada em inglês e com rostos mais conhecidos na linha de frente do projeto. Foi uma decisão preguiçosa, mas compreensível, já que a produção possuía a única função de chegar ao mercado americano (e mundial consequentemente). Para isso era – infelizmente – necessário transportá-la para o idioma inglês e apresentar algum rosto conhecido, que fizesse o público querer ir ao cinema.

Esse rosto conhecido, Vince Vaughn, já se tornou um expert em filmes destes moldes, fazendo papeis de rapazes irresponsáveis, inconsequentes, mas divertidos. O desafio para este projeto foi a inclusão de todo um plote dramático, primeiro na relação que ele estabelece com a namorada, que se encontra grávida de um futuro filho seu; depois, a relação que ele passa a construir com seus filhos biológicos (sem que eles saibam), numa tentativa de ao menos ser o anjo da guarda de algum deles.

É neste momento do filme que o roteiro se perde, principalmente por não conseguir encontrar um ponto de equilíbrio entre o drama e a comédia. Vince Vaughn, que dificilmente será um ator multifacetado, não consegue mudar esta sensação de confusão no espectador, sendo exatamente o mesmo personagem, sem nenhuma camada interna, nas duas perspectivas.

Assim, a história intercala ótimos momentos de graça, quando ele, por exemplo, assiste orgulhoso aos jogos do filho jogador de basquete, ou quando substitui o filho barman que quer ser ator, para que ele participe de uma importante audição, com momentos frágeis, principalmente na sua relação com a filha viciada ou com o filho portador de necessidades especiais. E esses momentos são frágeis pelo simples fato de não haver como se construir uma relação com este nível de densidade em tão pouco tempo de narrativa. Por mais que a tentativa seja válida, soa tudo muito superficial.

Já a relação com sua namorada (Emma), um pouco melhor trabalhada – já que desde o início da história ela é desenvolvida – acaba sendo um pouco mais produtiva, permitindo que o espectador perceba as mudanças pelas quais sua vida passou, e o que isso acarretou na sua personalidade e nas mudanças de suas atitudes.

Por fim, é na sua relação com Brett, o melhor amigo (Chris Pratt em boa atuação) que se encontra o ponto forte da história. Brett, um advogado não praticante, meio bobo, mas com três filhos, acaba servindo na narrativa de referência para os acontecimentos da vida de David. Todas as sequências dos dois conseguem atrair um sorriso, nem que seja tímido, do espectador, e a química envolvendo a dupla é indiscutivelmente a melhor que o filme possui.

De Repente Pai é um filme bastante família, agradável, que não ofende os neurônios, mas que também não os põem para trabalhar mais que o normal. Ele diverte, sendo uma boa opção para aquela tarde que não há muito que fazer, restando assim pegar uma boa pipoca, alguma bebida, sentar-se confortavelmente no sofá e assistir algo que sirva de acompanhamento para tudo isso. De Repente Pai pode ser tranquilamente este acompanhamento.

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