Música

Alfred Hitchcock e a reflexão: pessoa Real ou Pessoa-filme?

Alfred Hitchcock e a reflexão: pessoa Real ou Pessoa-filme?

“Claro que assim como pessoas, alguns filmes trazem mensagens dignas de serem refletidas, assimiladas e aplicadas, por isso mesmo é importante acender a luz da razão para equilibrar a emoção. E você, é uma pessoa real ou uma pessoa-filme?”

Por Josival Nunes

Você entra no cinema e depois que as luzes se apagam e a tela se acende imerge no mundo de fantasia que lhe é apresentado. A depender da qualidade da película vai ser mais ou menos envolvido pela atmosfera e suas emoções guiadas de acordo com os acontecimentos. Uma música sugerindo um momento de tensão, uma pausa induzindo suspense, uma situação engraçada provocando o riso. Alfred Hitchcock presenciou certa vez no lançamento de um de seus filmes uma mulher tão envolvida por uma situação em que o protagonista iria ser lançado inadvertidamente em uma situação de perigo que ela segurou o marido na poltrona ao lado e disse: ”Faça alguma coisa!”. E, no entanto logo depois as luzes se acendem e tudo não passa de uma engenhosa e fascinante ilusão. E fico a pensar, será que as pessoas muitas vezes não são assim também? Quantas pessoas você conhece que são brilhantes e encantadoras projetadas na sua tela mental e que na lucidez relativa do cotidiano desaparecem? Amigos efusivos e entusiasmados sempre prontos para estarem ao seu lado, contanto que você não precise deles de verdade, pessoas que estão normalmente atentas para ajudar você a ajudá-las e que certamente ficarão magoadas se você desconfiar da realidade de seus sentimentos assim como um filme precisa que se acredite nele para ser melhor suscetível em sua influência. Talvez elas façam isso inconscientemente, talvez façam isso para manipular mesmo, seduzir, encantar e sumir depois que as luzes se acendem. Uma pessoa-filme pode ser de diversos gêneros, tem a dramática, aquelas que lhe trazem sempre um ar de gravidade e seriedade excessivas, o mundo delas é povoado de tragédias e sua trilha sonora pode ser melancólica e melosa. Tem as do gênero catástrofe, que geralmente trazem um rol de lamentações com uma infinidade de acontecimentos funestos e tenebrosos. Podemos ter também as voltadas para a comédia e que por trás da aparente leveza podem trazer não mais que ironia e cinismo. Uma pessoa real deve saber distinguir bem para não levar para casa indefinidamente uma emoção suscitada, sugerida e deliberadamente plantada por uma pessoa-filme. Lembre-se que é um filme. Claro que assim como pessoas, alguns filmes trazem mensagens dignas de serem refletidas, assimiladas e aplicadas, por isso mesmo é importante acender a luz da razão para equilibrar a emoção. E você, é uma pessoa real ou uma pessoa-filme?

Josival Nunes é escritor, cineasta e colunista do Cabine Cultural.

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