Literatura

Entrevista: Maylssonn Blacksmith, do The Voice Brasil

Maylssonn Blacksmith – Divulgação

No meio artístico não é diferente, a falsidade é a campeã!” (M.B.)

Por Elenilson Nascimento

Todo baiano que se preza tem que ter apelido. E com Maylssonn Blacksmith não poderia ser diferente. Cantor baiano que participou da última edição polêmica do programa The Voice Brasil (Globo), em 2013, com a orquestrada vitória de Sam Alves que gerou revolta(?) nas redes sociais, críticas de Zélia Duncan, Artur Xexéo, vários profissionais do meio musical e um texto meu comentadíssimo, “A vitória do complexo de vira-latas” (31/12), no Cabine Cultural e republicado num suplemento da revista Rolling Stone Brasil, Folha de São Paulo, Tribuna de Minas e no jornal argentino Página 12, no seu caderno cultural jovem NO, sobre a decadência da programação das TVS abertas no Brasil e o ar teatral do programa musical, pois nenhum ser humano decente, que pague suas contas em dia, consegue assistir uma Cláudia Leitte apertando o botão dos escolhidos apenas com o pé.

Mas no meio da enxurrada de incompetência o programa reservou excelentes surpresas com as participações de alguns candidatos ao estrelado, como foi o caso do baiano Maylssonn Blacksmith. O morenão tem o que chamamos de “pegada”. Recém saído de uma temporada puxada de apresentações no controverso e manipulado programa global e, agora, atração em todos os cantos de Salvador, nessa entrevista, o artista – muito monossilábico – conta sobre as expectativas, sua participação no The Voice, as surpresas do último carnaval em Salvador e muito mais! A história musical de Maylssonn reflete a história cultural da nossa Bahia! Confira!

Elenilson – Há quanto tempo você se dedica à música?
Maylssonn Blacksmith – Onze anos.

Elenilson – Como foi a sua seleção para participar do The Voice Brasil?
Maylssonn Blacksmith – Fiz minha inscrição normal, pelo site como todo mundo, mandei o vídeo e nunca esperava ser chamado (risos).

Elenilson – Apesar de ter apenas 22 anos, você já ter muitas coisas pra contar. Como lida com essa visibilidade, após a experiência no The Voice Brasil?
Maylssonn Blacksmith – Bem, a visibilidade é estúpida, em média 40 milhões de pessoas assistiam o programa e eu sempre sou reconhecido por onde passo. Quem não lembra do meu nome grita, hôo the voooice!!! (risos),

Maylssonn canta Separação do Exaltasamba

Elenilson – Se pudesse resumir sua trajetória com uma música, qual seria?
Maylssonn Blacksmith – “Separação”, de Simone…   Obs. seja ela em qual versão for!

Elenilson – O que acha da música baiana?
Maylssonn Blacksmith – Considero o artista baiano muito criativo e acho a nossa música comercial.

Elenilson – Tem ídolos nesse cenário?
Maylssonn Blacksmith – Sim. Xanddy, Ivete, Tomate, Carlinhos Brown, Claudia Leitte, Saulo, Margarete, Ninha, entre outros…

Elenilson – Sua música já é sucesso nas principais baladas de Salvador. Qual a sua expectativa para um CD e um grande show na cidade?
Maylssonn Blacksmith – Por enquanto, estou trabalhando no vídeo para uma música de trabalho, mas logo em seguida trabalharemos na produção de um CD que provavelmente será ao vivo. Assim nós já realizamos esses dois primeiros passos de uma vez, “um grande show e um lindo CD”!!!

Elenilson – Enquanto artista que tem contato com o povo, o que o público mais pede nos seus shows?
Maylssonn Blacksmith – 90% do meu publico é romântico, apaixonado… então, no geral, eles me pedem aquelas músicas que remetem alguma parte da vida deles, histórias de amor, desilusões amorosas.. a galera gosta de chorar (risos).

Elenilson – A voz do negro da periferia de Salvador expõe diferentes realidades vivenciadas pelos afrodescendentes. São vários os discursos e, muitas vezes, tão longe da realidade. Você pretende, através da sua arte, abordar essa problemática, se expor, denunciar (*como Edson Gomes já o fez) ou, para a nossa decepção, ser mais um do mesmo?
Maylssonn Blacksmith – Eu prefiro continuar lutando com minha dignidade e força de vontade diariamente para, lá na frente, conseguir ser um bom exemplo para toda essa juventude.

Elenilson – Você canta samba, mas também se rendeu a essa tendência do pagode e arrocha. Como funciona isso?
Maylssonn Blacksmith – Temos que ter um repertório eclético, o que faço é pegar as músicas desses gêneros e adaptá-las ao samba.

Maylssonn e Xandy Monteiro com Claudia Leitte – Divulgação

Elenilson – Quais foram as suas expectativas com o carnaval e as suas participações nos trios?
Maylssonn Blacksmith – Meu carnaval foi show… Fiz dois dias de Barra/Ondina, um dia na avenida, além de animar o hotel da Claudia Leitte e entrevistas em camarotes… Tive a honra de dividir momentos inesquecíveis com Tomate, Claudia Leitte e minhas amigas baianas do The Voice, além de ter recebidos outros convites os quais fiquei impossibilitado de atender por conta da agenda…

Elenilson – Do negro engajado ao que acredita na democracia racial; do negro pobre que vive na periferia e que trabalha como atendente de callcenter ao negro que conseguiu melhorar de vida; do negro que acredita na ideologia do embraquecimento ao que tem orgulho da raça. Onde você se encaixa?
Maylssonn Blacksmith – A 2ª opção… do negro pobre que vive na periferia…

Elenilson – Você concorda com uma das principais mudanças do carnaval 2014, que é a redução do Circuito Osmar, onde os trios vão seguir só pela Avenida Sete?
Maylssonn Blacksmith – Da para curtir a vontade do mesmo jeito, o bom é que é menos cansativo para os artistas (risos).

Elenilson – Existe em Salvador uma falsa liberdade. Uma cidade vendida como “liberal”, mas onde os negros continuam sendo as principais vítimas desse sistema excludente. Existe também, entre os próprios negros, os que sofrem racismo e os que reproduzem o racismo; os que são criticados  porque gostam de pagode ou arrocha aos que são mortos por terem assumido sua sexualidade. Como você encara essas duas cidades dentro de uma só? 
Maylssonn Blacksmith – O mundo todo está assim, esse não é um problema particular de Salvador…

Elenilson – O que você achou da sua colega de palco Khrystal ter sugerido o que todo mundo já sabe: que existe armação no The Voice Brasil, mas logo depois ela voltou atrás alegando “conotação ruim”?
Maylssonn Blacksmith – A Khrystal falou o que estava sentindo, não tenho observações sobre isso, cada um fala o que quer…

Maylssonn recebe abraço de sua treinadora Claudia Leitte

Elenilson – Rolava muitas brigas nos bastidores do The Voice Brasil?
Maylssonn Blacksmith – Pelo contrário, lá é um lugar onde a coisa mais importante é fazer amigos… Posso falar abertamente de Pedro Lima e Aila Menezes, um exemplo vivo de amizade feita no programa, assim como eu e o Xandy Monteiro, aquele cara é um irmão pra mim, dividimos os mesmos quartos sempre, bagunça a maior parte do tempo (risos).

Elenilson – Como você encarou a sua desclassificação do The Voice Brasil, logo após a Claudia Leitte ter tecido vários elogios pra você?
Maylssonn Blacksmith – Não me abalou em nada, eu sabia que poderia sair a qualquer momento, ali é um jogo, e além do mais, é um programa de TV, então, minha maior felicidade foi poder entrar no programa, sair… era uma consequência do jogo.

Elenilson – Passa por sua cabeça quando você olha para trás e vê o iniciozinho?
Maylssonn Blacksmith – Sempre que alguém me reconhece nas ruas, no carro, no shopping, seja por onde eu for, quando alguém para pra tirar fotos comigo e pedi autógrafos e falam que torciam por mim dentro do programa, ainda mais quando vou cumprimentar grandes artistas e eles me elogiam com tanto carinho… o começo vem a tona em milésimos de segundos… é inevitável…

Elenilson – Qual foi a sua maior descoberta cruel desse meio artístico?
Maylssonn Blacksmith – Acho que temos que ser maduros em todas as áreas de nossas vidas para não sofrermos decepções, a falsidade existe em todos os lugares. No meio artístico também não é diferente, a falsidade acho que é a campeã!

Elenilson – Você é um cara que chamou muito a atenção do público. Além de ser talentoso, é lindo, bunda linda, corpão e tudo o mais. Como lida com o assédio dos fãs?
Maylssonn Blacksmith – (risos) Não me acho lindo, acho que é importante a pessoa se cuidar, eu agradeço o carinho de todos os fãs e tento não me envaidecer com os elogios…

Elenilson – Você conquistou um grande público nessa trajetória, principalmente jovens. O que planeja para deslanchar?
Maylssonn Blacksmith – Estarei lançando as minhas músicas e estruturando o meu projeto, o deslanchar do artista vai depender muito do publico, se a galera abraçar o meu som, o sucesso será inevitável, estou trabalhando muito pra conseguir firmar meu público.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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