Música

Crítica Tim Maia, o filme: a fascinante história de um gênio de nossa música

Tim Maia – Divulgação

Cinebiografia de um dos maiores nomes de nossa música peca em alguns elementos, mas contribui ao contar a história de um dos nossos gênios

Sempre que o cinema busca retratar a vida de algum ícone musical, seja ele brasileiro, seja ele estrangeiro, a primeira percepção que podemos ter é sobre a relevância da obra em si, e isto acontece pelo fato do objetivo central de um projeto destes é (aparentemente) fazer o público conhecer uma específica parte da história cultural de um país. Assim, discutir elementos técnicos e narrativos continua sendo importante, mas deve se adicionar a isto a questão do valor histórico que uma produção biográfica carrega. Este equilíbrio de elementos deve ser considerado em uma análise final sobre o projeto.

Neste embalo, vimos grandes cinebiografias nacionais, como Cazuza, Dois Filhos de Francisco, Gonzaga, Vinicius… e agora Tim Maia.

O filme, dirigido pelo cineasta Mauro Lima (de Reis e Ratos e Meu nome não é Johnny), é um interessante documento histórico para qualquer pessoa que deseja conhecer um pouco da vida de Tim, bem como de um momento da história de nossa música. É de uma cumplicidade tamanha acompanhar o nascimento de um gênio e perceber que toda a sua trajetória foi marcada por grandes altos e baixos, e por uma relação bem desequilibrada do cantor com o álcool, sobretudo. Assim, o primeiro sentimento que vem à tona quando o espectador se vê diante do filme é o de cumplicidade, o de acompanhar bem de perto um dos momentos mais ricos da música popular brasileira.

Para esta relação ser mais estreita, o roteiro escolheu colocar um narrador durante todo o filme. Este narrador é o grande amigo de Tim Maia, Fábio, que na trama é interpretado pelo galã Cauã Reymond. Esta estrutura narrativa, que no início, e em alguns momentos, até serve para deixar alguns acontecimentos mais claros, vai se desgastando com o passar dos minutos (e são 120 minutos de filme), se tornando não somente desnecessária, como até mesmo atrapalhando a fluidez natural da trama.

Tim Maia

Enquanto que a narração em off acabou sendo o ponto fraco do filme, as atuações de Babu Santana e Róbson Nunes, que interpretaram Tim Maia em sua fase adulta e adolescente, respectivamente, são indiscutivelmente os pontos fortes do projeto. Interpretar um gênio de absurda excentricidade requer um talento tamanho e uma grande capacidade de equilíbrio, pois a linha que separa uma interpretação genial de uma interpretação caricatural é bastante tênue em filmes como este.

Outro destaque da história é o trabalho de Alinne Moraes, que dá vida a Janaina, o grande amor de Tim. A relação dos dois pode ser considerada um dos elementos essenciais para se conhecer o homem Tim Maia, e por isso era de fundamental importância que a interpretação fosse ao menos crível. E Alinne Moraes não só deu credibilidade para Janaína, como conseguiu em alguns momentos estar no mesmo nível que o protagonista e dono da história.

Merece também aplausos a equipe de arte do projeto, que conseguiu ambientar a história da melhor maneira possível. Todo o trabalho de cenografia e figurino ajuda e muito no acompanhamento do filme. A passagem de Tim pelos Estados Unidos, bem no início de sua carreira, serve como exemplo do belo trabalho de direção de arte que o filme possui.

Porém, o que mais chama atenção quando terminamos de assistir ao filme, é a tragicômica trajetória do icônico cantor. É incrível como a vida de Tim sofreu oscilações das mais intensas. Ele ao mesmo tempo em que conseguiu conquistar a mulher de sua vida e conseguiu fama e sucesso, não conseguia ter o equilíbrio necessário para fazer deste contexto algo duradouro. Uma das cenas finais, quando policiais chegam a sua casa e deparam-se com um Tim Maia destruído emocionalmente, é de um poder sintetizador bem grande.

Tim Maia – Divulgação

Tim Maia, o filme, é mais um destes documentos interessantes para todo e qualquer brasileiro que deseja entender um pouco mais de nossa história. A música, que tem esse poder de explicar o contexto histórico de um país, é o fio condutor de um filme, que se não é poderoso narrativamente, é ao menos relevante. Tim Maia segue feliz onde quer que esteja.

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