Música

Crítica Boogie Oogie: elenco competente e história promissora

Boogie Oogie

Novela das 18 horas estreia trazendo trama ambientada nos anos 70 com muita música boa e atuações convincentes

Tal como a novela Império, a primeira sequência de Boogie Oogie, novela de Rui Vilhena, foi filmada no ar, com um plano bem geral da cidade do Rio de Janeiro no final dos anos 1970. Mas enquanto que em Império a cena trazia um ar de contemplação, aqui a cena antecede o grande e trágico acontecimento de toda a novela; é desta sequência que irá desencadear tudo o que a novela mostrará daqui pra frente até o seu capítulo final.

Ambas as novelas começaram muito bem, não por conta de cenas de aberturas grandiosas, mas por apresentar um primeiro capítulo – e uma primeira semana – bem satisfatória. Claro que a diferença entre as duas produções são bem visíveis, e enquanto Império aposta numa trama mais cinematográfica, Boogie Oogie apresenta ao espectador uma novela padrão, sem inovações estéticas, mas com uma história que, se bem desenvolvida, pode dar um caldo muito bom.

E o principal motivo para esta sensação positiva é o elenco da novela, composto por nomes do nível de Betty Faria e Sandra Corvelone, duas das mais talentosas atrizes brasileiras de toda a história. Betty Faria, por sinal, está impagável, prometendo ser o grande alívio cômico da história, que tem competente direção de Ricardo Waddington.

Isis Valverde como protagonista foi outro tiro certeiro. Polêmicas à parte, a atriz conseguiu impor uma escala dramática bem interessante nos primeiros capítulos, e esta personalidade forte que sua personagem possui ainda será um dos grandes destaques da trama. Heloisa Périssé, que interpreta sua mãe na história (há uma grande reviravolta aí) consegue se desgarrar do ar cômico que é a grande marca de sua carreira e ao menos no início proporciona bons momentos na narrativa. Já a história envolvendo os atores Marco Ricca, Giulia Gam e Alessandra Negrini promete ser a mais explosiva e pode até, se bem conduzida, se tornar a mais tensa e envolvente de Boogie Oogie.

Já Marco Pigossi, a grande estrela masculina da novela, precisa construir uma relação maior de empatia com o espectador, pois seu personagem ainda não convenceu como o galã que todas as garotas gostariam de ter ao lado. A cena em que seu personagem (Rafael) encontra Sandra (Isis) pela primeira vez deveria ser muito mais marcante do que realmente foi; porém, a falta de expressão do ator acabou tornando a sequência até mesmo absurda.

Isis Valverde em Boogie Oogie

E por falar em absurdos, é interessante pontuar que para o espectador ter uma experiência realmente agradável com Boogie Oogie, será necessário ele abraçar uma série de situações bem incoerentes ou ao menos estranhas. Não será a primeira, nem a última vez que faremos isto, mas em Boogie Oogie esta situação ficou bem evidente nos primeiros capítulos. A começar pela sequência inicial, em que Alex (Fernando Belo), então noivo de Sandra, pega um táxi rumo ao seu casamento, o carro primeiro pifa o motor, depois um pneu fura; enquanto conserta o pneu um avião de porte pequeno passa rasante por cima do táxi. Alex então vai ajudar o piloto (Rafael, que um dia antes encontrou por acaso a sua noiva e disse pra ela não casar…) e enquanto ajuda, Rafael sai do avião, Alex fica preso e o avião decide explodir com ele dentro. Bem, se você conseguir aceitar esta situação, terá uma novela bem agradável pela frente.

E um dos motivos dela ser agradável é a sua trilha sonora, composta por todo aquele universo dos anos 1970, época em que a trama é ambientada (1978). Ouvir Sir Elton John, depois dançar ao som de alguns dos maiores clássicos da dance music, assistindo personagens vestidos com todos aqueles figurinos, alguns exóticos, outros nem tanto, é de um prazer muito grande. Se a trilha seguir este ritmo, Boogie Oogie se transformará ao menos numa boa opção para se escutar boas músicas.

Outro destaque dos primeiros capítulos foram os diálogos escritos pela equipe de roteiristas, que a todo o momento faziam brincadeiras com o futuro (o nosso presente), como dizer, por exemplo, que algo era tão improvável de acontecer quanto os Estados Unidos ter um presidente negro, ou a mãe de Sandra reclamando do filho que comemorava um jogo da copa de 78 dizendo para ele deixar pra comemorar, sei lá… em 2014. Muito bom.

Boogie Oogie estreou bem, com uma história promissora, digna de um novelão (bebês trocados, paixões impossíveis, traições…), mas precisa melhorar alguns pontos de sua narrativa, principalmente para não abusar do senso de coerência do espectador. Sabemos que isso é necessário para uma novela acontecer, mas deve-se haver um limite para não extrapolar e apresentar uma história estapafúrdia. Esperemos que este não seja o caso da novela. Voltaremos em breve com algum outro veredito.

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