Dupla Identidade
Série global está perto do término de sua primeira, e talvez única temporada; episódio da semana passada foi revelador
Por Luis Fernando Pereira
Depois da cena final do episódio passado de Dupla Identidade, muitos fãs da série decidiram repensar tudo que haviam imaginado até então, buscando entender os novos rumos que o roteiro apresentou naquele instante. No momento em que Edu (Bruno Gagliasso) tomou a arma de Vera e ameaçou matá-la, ele pôs por terra tudo que se imaginava até então sobre o final da temporada e colocou muitas dúvidas, e frustrações, nas cabeças dos espectadores.
O que acontecerá agora com Edu? Com Vera? Dias? Ray? Vamos tentar exercitar um pouco a imaginação, porque pensar em lógica com séries e novelas da Rede Globo é pedir demais.
O personagem principal da série, o serial killer Edu, já tem o seu destino traçado, infelizmente. Sabemos que no exato momento que ele apontou a arma para Vera, ele estava se declarando culpado de tudo que havia contra ele. Isso traz como resultado um afunilamento de possibilidades para seu personagem. Ou ele será preso, ou será morto, ou ficará foragido. O fato é que dificilmente voltará para uma – improvável – segunda temporada, pois não dá para imaginar seu personagem matando, mesmo sendo uma das pessoas mais procuradas do Rio.
Dexter, ou o serial killer da série The Fall, só conseguiram sobreviver por várias e várias temporadas por conta deste grande detalhe: não eram descobertos no fim das contas. Ser descoberto é carimbar o seu fim.
Das três possibilidades, a sua morte é a mais previsível, principalmente se ele for morto por algum outro personagem importante, no caso aqui, Vera (Luana Piovani), Dias (Marcelo Novaes), ou até mesmo Ray (Débora Falabella). Seria bem interessante a terceira opção, pois ao menos traria um sentimento de catarse no espectador.
Vera
Ele ser preso é uma ideia que só poderia se tornar interessante se houvesse algum plano, mesmo que distante, de trazer o personagem de volta em temporadas seguintes, caso houvesse tais temporadas. Seria uma espécie de homenagem a Hannibal Lecter, que comandou a história de O Silêncio dos Inocentes direto da cadeia. Caso este pensamento não esteja rodeando as mentes por trás da série, a opção seria frustrante demais, pois prisão é um fim que normalmente é desacreditado pelo público brasileiro.
E caso a série termine com Edu foragido, teríamos que ter então a certeza de que haveria uma segunda temporada, e ele seria novamente peça central. Caso contrário, seria decepcionante, apesar de, cá entre nós, ser um final bem verdadeiro, afinal de contas, este é um dos desfechos mais comuns para criminosos no país: a fuga.
Falando de Dias e Vera, dois personagens que no papel eram para ser importantes, mas que na verdade foram até secundários demais na trama. A história de amor deles foi contada no meio da temporada, e a partir daí houve uma evolução, pequena, nos seus personagens. O mais provável é que eles terminem juntos, como um casal. Um casal adúltero, deve se salientar, já que a relação dos dois foi trabalhada na história com Dias ainda casado.
Sua filha (Tati) foi inserida na trama como elemento surpresa e teve algum destaque. Há ainda a possibilidade dela ser a derradeira vítima de Edu, mas seria muito corajoso do roteiro transformar uma adolescente numa vítima do serial killer.
Já Vera pode ser vista como a responsável pela morte de Edu, caso esta seja a escolha. Seria bem interessante, e simbólico, principalmente pelo fato da autora da trama, Gloria Perez, ter um histórico de defesa dos direitos das mulheres. Seria, assim, uma ideia instigante vê-la matando Edu.
Este mesmo sentimento teríamos se fosse Ray a responsável pela morte de Edu. No caso dela, seria ainda mais simbólico, pois poderia marcar de vez o início de sua luta contra a doença comportamental que ela desenvolveu tão intensamente em Dupla Identidade. Seria uma espécie de divisor de águas em sua vida.
Dias
O desfecho do casal político, formado por Oto e sua esposa Sylvia (Marisa Orth), pouco importa, diga-se de passagem, pois a parte política foi usada na série somente para salientar que existe um fascínio de Edu pelo poder (em sua forma mais ampla) e que este poder o faz matar. Só teremos interesse no desfecho do casal se ele estiver estreitamente relacionado com o fim de Edu. Por exemplo, fazer da esposa de Oto uma cúmplice de Edu, ou fazer de Oto uma vítima de Edu.
São muitas as possibilidades para o final de Dupla Identidade. Mesmo com um ar de frustração bem grande por conta do preguiçoso e simplista desfecho do último episódio, os fãs ainda imaginam saídas interessantes para que, ao fim da temporada, o sentimento que sobrassaia em todos seja o de que valeu a pena ficar estes meses dormindo um pouco (BEM) mais tarde.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site