MariElle por Ronaldo Sena
“Não consigo me rotular artisticamente, não pertenço a uma única caixa. Eu sou muito livre, sabe”
(re) Conhecida mundo à fora, a produção musical brasileira destaque-se não só pela qualidade e diversidade dos seus artistas e canções, mas também pela capacidade de constante renovação, geração pós geração. Atualmente, o cenário nacional está racheado de boas novidades que transitam da MPB ao pop, do pagode ao reggae, do rock ao sertanejo. Neste quadro, aparece MariElle, jovem cantora radicada em São Paulo, que surge com uma intrigante mistura de pop, dub, samba e reggae.
Batemos um papo com ela, confira!
1 – Como se deu o início da sua trajetória na música?
Desde pequena faço teatro, música e dança. Já trabalhava como atriz e dava aulas de teatro, mas sempre cantei pros amigos. Um dia estava em um barzinho no interior que tinha karaokê e resolvi cantar uma música “Bem que se quis” da Marisa Monte (lembro até hoje) e a partir daí comecei a receber convites para participar de projetos como cantora e compositora, e conciliava meu lado atriz com o de cantora. Depois me mudei para São Paulo, conheci o MAESTRO e gravando uma locução e um jingle no estúdio dele recebi o seguinte elogio dele: “Você canta e compõe muito bem, confia em mim, deixa eu te produzi, vamos focar na música juntos que ‘Isso” é você”. Bom, segui o conselho do meu amigo MAESTRO – quem eu carinhosamente chamo de “Jow”- e aos poucos fui me descobrindo cantora e compositora. E foi assim que tudo começou.
2 – Em “Vem K Vem K V” conseguimos perceber um grande mix de ritmos e sons nas oitos faixas que compõem o álbum, do pop ao dub, do reggae ao samba. Como esse caldeirão atua na sua formação e prática artística?
Isso mesmo! Não consigo me rotular artisticamente, não pertenço a uma única caixa. Eu sou muito livre, sabe. Componho o que me pertence e canto o que sinto. E somos mutantes, certo? Estamos em constante evolução. Então, não posso rotular minha música porque ela está em movimento sempre.
O álbum “Vem K Vem K V” tem uma pegada mais do reggae, rock e pop (que faz parte de mim e do meu som), mas me permiti uma balada “Ao seu lado estou perto do céu”, uma bossa jazz “Talvez nua”, que gravei com o Zeca Baleiro”, e rolou influências do eletrônico que é algo muito meu.
Então, a ideia é sempre surpreender com algo inusitado e muito verdadeiro. Se vai agradar o público é uma incógnita. A unanimidade é uma utopia, sabemos disso, mas o importante é fazer o som e, consequentemente, fazer a mensagem chegar ao maior número de pessoas. É isso!
3 – O disco conta com muitas participações, dentre elas a do Zeca Baleiro, você acha que essa prática colaborativa é caminho para a música independente e autoral no Brasil?
Eu ouço o Zeca desde sempre, sou fã e gravar com ele era um dos meus objetivos de vida, que realizei. E gravar com ele uma música minha que ele gostou e topou fazer é de muita generosidade e respeito. Ele é ímpar. Eu sou a favor do coletivo sempre, é mais fácil fazer a mensagem chegar quando mais pessoas falam essa mensagem. Então, eu acredito e muito nos “feats”. Além do Zeca, o “Vem K Vem K V” conta as participações de artistas incríveis como o Chad Harper – rapper americano que gravou comigo nosso som “Sitting Next to you”, Peu Del Rey em nosso som “Coragem & Fé”- que acabamos de lançar o clipe, Marcelo Quintanilha no nosso samba “Maria – Joga o arroz pra cima”. E recentemente escrevi e gravei o som “Vamos fazer um Dueto?” com AC Slator, rapper americano. Fora outras parcerias que já estão engatilhadas pro ano que vem.
Então eu acho que o “feat” pode ser algo muito bacana na música independente e autoral mas não é o único caminho.
MariElle
4 – Recentemente você lançou o clipe do single “coragem e fé”, com participação de Peu Del Rey, como foi o processo de gravação e a parceria com o artista baiano?
Peu e eu somos muito amigos, próximos, curtimos o som um do outro, discutimos estratégias, estamos muito presentes na vida um do outro porque além de parceiros artísticos somos amigos. Eu tenho impulsos criativos e geralmente acontecem nos meus constantes momentos de insônia. Aprendi a usar a insônia a meu favor. Minha “insônia produtiva”. E eu escrevi o som todo na insônia e mandei pro Peu. “Peuzero, o que acha desse som?”. Ele na hora já gravou o som que mandei com o refrão que ele criou.
Eu amei e convidei ele pra gravar essa comigo no álbum. E ele além de gravar co-produziu o som. Foi muito bacana o processo e essa parceria.
5 – No clipe, vemos referências a capoeira, símbolo da cultura negra, e a imagem da bandeira do movimento LGBT. Em tempos de ataques as minorias, o artista possui um papel importante nestas lutas?
Eu fiz capoeira muitos anos e a filosofia capoeirista faz parte de mim. Inclusive tinha convidado a Lívia Pasqua, “Pilha” capoeirista pra fazer parte desse clipe. Ela é uma das minhas melhores amigas e super topou. Mas as nossas agendas não se encontraram porque na época da gravação do clipe a Li estava na Espanha. Mas, de qualquer forma, quis fazer essa homenagem. A bandeira LGBT é minha bandeira também. Acredito na liberdade de ser o que é, sabe? Acredito no respeito! Respeito só isso! Ou tudo isso. Minhas composições têm essa função de dizer coisas que estão dentro de mim e expor minhas crenças e desejos, assim, como minhas descrenças e repúdios.
6 – Além do Peu Del Rey, quais sons e artistas baianos tocam na sua playlist?
Ixi vários, Baiana System, Márcio Mello, Pitty, Russo Passapusso, Vânia Abreu, Jau, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, o pai de Peu Del Rey – Tenison…
7 – 2019 está batendo na porta, quais os planos para o ano que se avizinha?
Planos de continuar divulgando esse álbum, finalizar três novas músicas que sairão logo logo, outro clipe…E tem mais surpresas incríveis e que me trazem muita, muita felicidade. Logo, logo vou poder contar tudo!
8 – Nossos leitores também são assíduos consumidores de literatura. O que você está lendo no momento?
Acabei ler “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se” de Mark Manson e super recomendo. E agora comecei a ler “Conversas Difíceis” de Douglas Stone, Bruce Patton e Sheila Heen, e tô gostando, vamos ver 😉