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Tropicália ganha exposição tech com livre reinterpretação conceitual no Rio de Janeiro

Coluna da jornalista Úrsula Neves sobre tudo que acontece no universo da cultura pop

Tropicália ganha exposição tech com livre reinterpretação conceitual no Rio de Janeiro

Os artistas Barbara Castro e Luiz Ludwig , do estúdio Ambos&&, apresentam uma livre reinterpretação dos conceitos do movimento tropicalista à luz da arte e da tecnologia. Com a exposição Vamos Comer, estimulam o público a “devorar” experiências sensoriais e orgânicas, incluindo quatro instalações de arte computacional. A exposição está aberta a visitações na Galeria BNDES, no Rio, entre os dias 18 de outubro e 1º de dezembro, de segunda a sexta, das 10h às 19h.

A intenção é levar ao canibalismo cultural, à antropofagia oswaldiana resgatada pelos tropicalistas há 50 anos. Vamos Comer é iniciada com uma grande linha do tempo, numa longa mesa sinuosa, que contextualiza o movimento no Brasil dos anos 60 e 70. Entre as instalações de arte e tecnologia, destaque para a possibilidade do público compor com um software. Os visitantes usam objetos vestíveis com sensores de movimento e interferem na iluminação dinâmica de uma escultura. Tem também uma vivência de arte gráfica, ao poder criar colagens e cartazes virtuais com a linguagem da Tropicália. São instigados, ainda, a registrar a experiência com suas câmeras de celular e a compartilhar nas redes sociais, compondo a quarta instalação de arte computacional. Além disso, vivenciam experiências sensoriais em túneis no térreo.

Experiências na exposição

Os artistas fizeram extensa pesquisa sobre as manifestações culturais da época em artes visuais, música, design e cinema. Assim, trazem para a exposição Vamos Comer essas discussões para as tecnologias existentes atualmente, permitindo ao público experimentar instalações interativas tecnológicas, de objetos sensoriais e com vídeo, digeri-las e compartilhar seu olhar nas redes sociais e com os demais visitantes numa composição coletiva e imersiva.

Confira os detalhes da exposição a seguir:

Instalação de objetos sensoriais na Mesa Antropofagia e Tropicália

O público é recebido por uma grande mesa servindo um “banquete” que contextualiza a Tropicália por meio de uma grande linha do tempo, em formato de serpente. Ela reforça o resgate da antropofagia pelos tropicalistas, e é composta por fotos e textos que remetem a expoentes do movimento, além de elementos como pratos e cadeiras, por exemplo.

Instalação tecnológica “Nova Objetividade”

Ao se movimentar com objetos vestíveis – ou wearables – a pessoa consegue interferir numa escultura construída e reconstruída constantemente pelos demais visitantes. Luzes de LED são acionadas por sensores nos vestíveis e o movimento do visitante também altera a iluminação deste ambiente e da escultura. Essa instalação de artes visuais é inspirada na ideia de Lygia Clark e Hélio Oiticica de que a arte só existe plenamente a partir da ação do público.

Instalação tecnológica “Por Que Não”?

O público pode compor com um software ao bater palmas, responder a perguntas provocadoras e emitir sons agudos e graves, tendo essa produção remixada e difundida para todos os visitantes do Espaço Cultural BNDES. Os artistas se inspiraram nas canções: “Tropicália”, “Panis et Circencis”, “Domingo no Parque” e “Meu Refrigerador Não Funciona” para criar a sonoridade final.

Instalação tecnológica “Tropicaos”

No espaço dedicado ao design, são criados cartazes virtuais e colagens a partir da junção de estampas, grafismos e imagens na linguagem da Tropicália. A instalação traz um olhar contemporâneo sobre processos, métodos, técnicas, ousadia e transgressão tropicalistas na arte gráfica de Rogério Duarte, responsável por capas de discos e cartazes de filmes emblemáticos.

Instalação tecnológica “Ideia Na Cabeça”

Os artistas propõem uma revisão sobre a frase lema do movimento: “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”, refletindo sobre a aplicação desse mote nos dias de hoje. Isso tanto em termos técnicos quanto estéticos, onde todos podem registrar o que está vivendo. Assim, o público é provocado ao longo da exposição a postar suas experiências nas redes sociais com hashtags específicas, contribuindo assim para a construção coletiva de conteúdos projetados em ambiente imersivo. Essa instalação busca questionar se a facilidade técnica está acompanhada de inovações ou se é mais uma profusão repetitiva de imagens carentes de significação simbólica por meio de perguntas provocadoras que surgem na interação com a instalação.

Instalação “A Boca”

Essa instalação contém vídeo e é composta por três túneis interativos e foi inspirada numa sopa de referências, numa perspectiva antropofágica e canibal, na qual a boca devora, deglute, rumina, digere e devolve com outra cor, outro cheiro e outra massa. No primeiro túnel, a passagem se dá através de cordas, no segundo o visitante passa por tiras de tecido e começa a ouvir a leitura de uma série de textos sobre antropofagia e tropicalismo, até se deparar com o vídeo de imensa boca no terceiro túnel.

Sobre os curadores e demais artistas

Barbara Castro e Luiz Ludwig são os curadores e idealizadores das instalações da exposição Vamos Comer, e dirigem o estúdio de criação Ambos&&, sediado na incubadora da PUC-Rio, o Instituto Gênesis. O estúdio M’Baraká fez a concepção integrada do projeto expográfico com o conteúdo informativo e o projeto da instalação “A Boca”. Contribuíram também os profissionais criativos: Ézio Evey e Beatrice Catarine na criação dos vestíveis, Luiz Paulo Nenen com a iluminação interativa, e Vicente Alexim com a direção musical e a programação sonora.

Serviço
Exposição: Vamos Comer
Data: De 18 de outubro a 1º de dezembro de 2017
Horário: De segunda a sexta (exceto feriados), das 10h às 19h
Espaço Cultural BNDES: Av, Chile, 100, Centro, Rio de Janeiro
Entrada gratuita

Jornalista carioca, 40 anos, mãe do Heitor de 4 anos. Gerente de Conteúdo & de Projetos do Digitais do Marketing. Redatora & Revisora da Web-Estratégica. Responsável pela Coluna Mãe 2.0 Beta do site Feminino e Além. Adora ler, assistir séries pelo Netflix, ir ao cinema e ao teatro, navegar pela internet e viajar, seja acordada ou dormindo. No Cabine Cultural possui a coluna Cultura Pop e ETC… sobre tudo que acontece no universo da cultura pop.

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