Divórcio
Comédia nacional. Ao mesmo tempo em que é responsável pelas maiores bilheterias da história, é também o nosso ‘calcanhar de Aquiles’ no quesito qualidade narrativa.
As maiores comédias são ruins, as melhores não foram tão bem nas bilheterias. Fica sempre uma lacuna para se preencher. O filme “Divórcio” (em cartaz nos cinemas da rede UCI) nova produção do gênero no mercado, acaba acertando em muitos elementos, o que se distancia um pouco das comédias brasileiras mais tradicionais. Quanto a bilheteria, só as próximas semanas dirá exatamente o resultado.
Na historia, o casal Noeli (Camila Morgado) e Júlio (Murilo Benício) leva uma vida humilde, até que ficam ricos depois de criar um molho de tomate sucesso nacional. Com o passar dos anos os dois vão se distanciando e um incidente é a gota d’água para a separação. Cada um em busca do melhor advogado para defender seu patrimônio, eles entram num processo de divórcio bastante conturbado.
O que temos de bom no filme é, antes de qualquer coisa, a interessante e diferente opção por filmar a trama no interior de São Paulo. Os personagens são característicos, as piadas idem, os trejeitos, e, sobretudo, as referências, musicais principalmente. Tem um rock pesado na trama, mas serve mais para agregar elemento de tensão a duas cenas.
A história por si só não é muito diferente das demais e nem é lá muito original. Casais que se separam e fazem de suas vidas um inferno até perceberem que se amam. Logo de início o espectador mais atento vai saber identificar os próximos passos da história, e não falamos aqui de exercício de adivinhação, porque de fato tudo é muito óbvio no roteiro.
Isso faz o filme ser ruim? Em absoluto, a trama tem muitos bons momentos e diverte, mas para quem gosta de ir ao cinema e ser surpreendido com o roteiro, “Divórcio” acaba não sendo uma boa opção. Até mesmo as cenas aleatórias, que foram feitas para divertir somente, como o momento em que Júlio deixa Noeli sozinha no carro em plena madrugada, até mesmo estas cenas são clichês e já foram usadas em filmes e séries.
“Divórcio” traz, entretanto, uma boa relação entre os dois personagens centrais, e com isso dizemos que o trabalho de Murilo Benício e Camila Morgado é o que de melhor existe no filme. Murilo consegue entregar uma atuação bem divertida, com um personagem cheio de trejeitos cômicos e irritantes. Só não há mais força na atuação porque Murilo já é acostumado com personagens cômicos com este, então parecia que ele estava no piloto automático. Mas ainda assim é bem digno a sua atuação.
Camila já se mostra mais competente na atuação, mas o lado cômico acaba não sendo o seu forte, o que acaba equilibrando, pois a sua personagem traz questões bem interessante para o espectador refletir sobre casamento, relação a dois, e o quanto uma mulher acaba desistindo de sua vida profissional em detrimento da família e dos filhos. O filme ainda traz aquela abordagem tradicional, onde o homem vai trabalhar e a mulher fica em casa cuidando dos filhos e usando o dinheiro ‘ganho’ pelo marido.
Como “Divórcio” foi ambientado inicialmente nos anos 1980, isso acaba sendo compreensível. A parte atual da história também traz estas novas questões, onde a mulher já consegue um protagonismo maior e não depende em nada de seu esposo. Temos até o papel da advogada de Noeli para ilustrar esta noiva mulher que renasceu a partir da última década.
“Divórcio” é um filme que diverte bastante, mesmo com as suas falhas e as suas abordagens lugar comum. É em suma o cinema brasileiro fazendo o que sabe fazer em termos de comédia.