Lola, de Brillante Mendoza
Algumas destas pérolas do cinema que não são tão populares mundo afora, mas que certamente moram no coração de quem as assiste
Por Luis Fernando Pereira
Podemos concordar que a qualidade de um filme não pode ser medida pela sua bilheteria, afinal de contas, há uma série de exemplos de pequenas obras-primas que não foram grandes sucessos na indústria cinematográfica.
Hoje falaremos um pouco sobre algumas destas pérolas do cinema que não são tão populares mundo afora, mas que certamente moram no coração de quem as assiste. Em comum, todas possuem inúmeras qualidades, técnicas e narrativas. Vamos lá:
A Guerra Está Declarada
A história acompanha o amor de Roméo (Jérémie Elkaïm) e Juliette (Valérie Donzelli, também diretora). Eles se conhecem em uma festa parisiense para logo depois já iniciar a relação amorosa, que culmina com o nascimento de Adam (César Desseix), o que tumultua o dia a dia da dupla. O bebê chora sem parar, preocupando os pais.
Ao completar 18 meses, vem o diagnóstico de um raro tipo de tumor no cérebro do menino. O ponto forte da trama é sem dúvida alguma o equilíbrio dramático que a diretora impôs ao filme, que facilmente poderia descambar para o novelão. Valérie optou por contar sua história sem forçar o público ao choro fácil. Sua intenção é captar toda a atmosfera que circunda o acontecimento trágico: os detalhes do cotidiano deles se transformam assim na principal via do filme.
A trilha sonora, destaque à parte, tem desde Vivaldi até Georges Delerue, de Ennio Morricone a Laurie Anderson. Um esplêndido filme, emocionante, mas na dose certa.
A Vida dos Peixes
A Vida dos Peixes
Dirigido por Matías Bize, esse filme chileno conta a história de Andrés, que viveu ausente de sua cidade natal por dez anos, e agora regressou para finalizar a venda dos imóveis herdados dos pais, aproveitando também a viagem para rever os velhos amigos de infância. Prestes a embarcar novamente para a Europa, ele dá um pulo na casa de um destes companheiros, que está celebrando aniversário, e acaba reencontrando uma antiga namorada da juventude, que, agora mãe de gêmeas, continua sendo o único amor de sua vida.
Os elementos que fazem deste filme uma jóia do cinema latino americano são vários: o roteiro realmente é inteligente, produzindo um crescimento gradual das histórias contadas por Andrés e proporcionando diálogos realmente interessantes. O trabalho de câmera, bem minucioso, consegue captar dezenas de camadas numa história passada em poucos ambientes. As atuações do protagonista e de sua principal parceira da narrativa convencem bem, e por isso aquele desfecho acaba sendo um dos mais bonitos já vistos nestes últimos anos.
De uma beleza ímpar. Belíssimo filme, cheio de melancolia, com uma atmosfera que nos remete nostalgia.
Incêndios
Incêndios, do diretor canadense-francês Denis Villeneuve, é posterior ao já ótimo Polytechnique, filme sobre o massacre das alunas (12 mortas e mais de 40 feridos) na Escola Politécnica da Université de Montréal em 1989. Incêndios, no entanto, vai além, apresentando uma história de modo fragmentado para no final pegar todos de surpresa com o resultado desta construção narrativa.
O filme é doloroso e brutal, e é baseado numa peça do libanês Wajdi Mouawad, que fugiu com sua família do país aos 8 anos de idade por conta da guerra civil que vem destruindo o Líbano desde os anos 60. Filmado na Jordânia, Incêndios é um filme político sem igual, já que seus elementos unem de modo brilhante o drama pessoal, o suspense, em um pano de fundo político religioso.
Seu roteiro, sem dúvida alguma, é o grande ponto forte, é através de desenvolvimento dele que o filme cresce e a história ganha ainda mais importância. Um filmaço, obrigatório.
Lola, de Brillante Mendoza
Lola
Lola tem como foco central um assassinato: um rapaz morre esfaqueado por um assaltante que desejava roubar o seu celular. Enquanto Lola Sepa (Anita Linda) tenta arranjar dinheiro para fazer o enterro do neto, Lola Puring (Rustica Carpio) cuida do seu, que está na prisão esperando julgamento, procurando um modo de livrar o jovem da pena.
Puring possui uma banca de verduras numa feira e tem em casa um filho doente que depende dela para tudo, até para se alimentar. Ela está certa que o único modo de tirar o neto da cadeia é pagando a Sepa para que a acusação contra o seu neto seja retirada, e isso pelo fato de não ter condições de possuir um advogado, bastante caro no país.
O cineasta Brillante Mendoza apresenta com este filme uma relevante reflexão sobre a estrutura judicial das Filipinas, país onde a história se passa. E ele consegue resultados grandiosos, sobretudo pelas atuações das duas avós (Lolas), que com suas dores e angústias distintas proporcionam sequências de grande impacto. Um filme triste, que cresce à medida que a relação das avós se estreita. Um lindo filme.