O Candidato Honesto – Foto de Daniel Chiacos
Filme estrelado por Leandro Hassum traz até algumas gags, mas no geral se mostra uma comédia fraca com momentos de vergonha alheia
O que falar de um filme como O Candidato Honesto? Que ele é ruim narrativamente, possui um roteiro pífio, atuações preguiçosas e caricaturais e que se apropria descaradamente de tudo o que diz respeito ao tema política brasileira? Esta resposta seria até uma boa saída, mas teria que vir com alguma reflexão na bagagem, pois o filme, estrelado por Leandro Hassum, estreou nos cinemas brasileiros semana passada em primeiro lugar, desbancando alguns dos grandes blockboosters do ano e deixando brecha para uma provável continuação daqui a dois anos. Por que isso acontece?
Outra saída é tentar encontrar o que de melhor a história oferece.
Vamos pegar a premissa como exemplo: o filme, dirigido pelo cineasta Roberto Santucci narra a trajetória do político corrupto João Ernesto, interpretado por Leandro Hassum, favorito nas pesquisas para as próximas eleições presidenciais, até que, em um encontro com a sua avó, que está prestes a morrer, ele recebe uma maldição dela, que o faz ser a partir daquele instante uma pessoa honesta. Tal comportamento, para um político brasileiro, é o fim do mundo. O Candidato Honesto então parte do mesmo lugar que partiu, décadas atrás, o filme O Mentiroso, estrelado por Jim Carrey, o que não é problema algum, já que o cinema atual tem sido marcado por ideias que são reutilizáveis a todo o momento.
A premissa então seria bacana, é um campo fértil para criticar a política no país, e ainda fazer um humor, que se bem feito, proporcionaria muitas risadas do público. Trabalhar com a ideia de um político não poder mentir é perfeita, sobretudo no período que o filme estrategicamente trabalhou para estrear (as nossas eleições). O pequeno problema foi novamente trazer o Leandro Hassum para estrelar o filme. Leandro só neste ano já esteve em Até que a sorte os separe 2 e Vestida para Casar, e em ambos os filmes interpretou o mesmo personagem meio abobalhado que se utiliza de expressões faciais e tiradas cômicas de duvidoso gosto para fazer rir. E é inegável que em alguns momentos ele consegue, o seu talento para isso é imenso e não podemos deixar de destacar esta sua faceta.
Porém, o que fica ao final de cada filme protagonizado por ele é a ideia de que a história pouco importa, o que vale mesmo é ter o Leandro por uma hora e meia fazendo suas caretas e contando suas piadas nas telonas. O público ficará satisfeito somente com isso, pois esta estrutura de filme traz como parceira a ideia de ir ver um filme sem compromisso, só pra desanuviar a mente. Se quiser parar para pensar, que vá assistir ao filme do Woody Allen!
O Candidato Honesto – Divulgação
O roteiro, escrito por Paulo Cursino, buscou a todo o instante trazer elementos (fatos, referências, nomes) para a história, com o intuito de fazer o espectador se localizar facilmente na trama: temos uma cópia do programa da Ana Maria Braga, temos a bancada evangélica, liderada pelo personagem Mateus Floriano (um quase Marco Feliciano), temos a Revista Seja, temos o personagem do Hassum sendo pego com dinheiro na cueca… são inúmeras as situações que estão ali para que o público faça a associação imediata e quem sabe dê alguns risos por conta disto. No início é até interessante, mas acaba inevitavelmente cansando.
Falar mal de O Candidato Honesto não adiantará em nada e nem fará com que o espectador deixe de assistir ao filme. E nem precisa, afinal de contas, ele pode proporcionar as risadas leves que o público tanto busca em um filme do gênero. Ele só peca na narrativa, no roteiro e nas atuações. Fora estes pequenos elementos, o filme até que é razoável.