Os finalistas
Final do reality show foi tratado como grande evento, mas pecou em muitos aspectos; ainda assim o saldo final foi positivo e dupla mereceu vencer
Por Luis Fernando Pereira
Um programa como o The Voice Brasil deveria ser visto como se fosse uma série qualquer, até mesmo uma novela: conhecemos os personagens, suas histórias, os vemos crescerem; alguns deixam a trama antes da final, outros saem injustamente, e um felizardo fica até o segundo derradeiro, sendo escolhido o representante daquele ciclo. Tudo roteirizado. Ver o programa desta forma evita grandes decepções, pois o importante aqui é o entretenimento, é o prazer de acompanhar por semanas algo que lhe deixa bem. Em suma, é a jornada que importa, e não o destino.
Digo isso porque imagino que muitos tenham ficado decepcionados com a vitória da dupla sertaneja Danilo Reis & Rafael, até mesmo minha torcida era por outro (Lui Medeiros), que eu acreditava ser alguém mais condizente para carregar o termo the voice (a voz) por um ano. Porém, assim que foi anunciado o vencedor, minhas primeiras perguntas foram: essa temporada valeu a pena? Foi bom ter assistido por semanas ao programa? Os técnicos, eles estavam bem? A edição? O apresentador?
Saber quem seria o vencedor não importava tanto, pois sabemos como funciona a indústria, e muitas vezes quem ganha é esquecido e outros que foram deixados de lado no programa conseguem sucesso. A torcida é para que todos os quatro finalistas consigam espaço no mercado, pois são, cada um de uma forma diferente, competentes e talentosos. A dupla vencedora coroa um ano produtivo para o gênero sertanejo, que já há algum tempo vem dominando as paradas brasileiras. Rafael, parceiro de Danilo Reis, possui uma das vozes mais marcantes da história do The Voice Brasil. Pode não ser tão rica e plural quanto à de Lui Medeiros, ou tão potente quanto à de Rose Oliver, mas ainda assim é merecedora de elogios.
Quanto às perguntas, eis aqui as respostas:
Sim, valeu a pena. Apesar de uma final que ficou aquém do esperado (edição falha, convidados desnecessários…) a Globo entregou durante estes meses um programa que mobilizou o espectador, que popularizou artistas talentosos (Deena Love), que revelou nomes para o futuro (Leandro Buenno, Nonô Lellis) e que entreteu o público de modo bem saudável. Diferente de outros realitys, o produto que o The Voice expõe é a música, e não há felicidade maior que passar uma hora em frente à televisão assistindo belas apresentações musicais. Claro que a Globo poderia ser um pouco menos preguiçosa, e investir mais no programa (é quase um abismo que separa a edição brasileira da americana, por exemplo), mas se compararmos com outros realitys da tv brasileira, o The Voice Brasil pode ser considerado tranquilamente o maior, melhor e mais bem produzido.
Tiago Leifert e Claudia Leitte
Quanto aos técnicos, uma surpresa. Eles melhoraram (se comparados com edições passadas), era mais que natural, até obrigatório. Claudia Leitte, desde o primeiro episódio, tomou a responsabilidade para ela e foi a protagonista da edição. Todas as semanas era ela o centro das atenções, ora para o bem, ora para o mal. Porém, o programa vive disto, de burburinho, e neste quesito ela dominou. Carlinhos Brown continuou sendo chato, mas um chato que, quando está num bom dia, até diverte. E é, sem duvida alguma, o que mais entende de música e de produção musical.
Daniel continuou discreto, não deu motivos para falarem mal dele, mas tampouco deu motivos para falarem bem. Alguém como ele é perfeito para se ter numa família, num grupo de amigos ou num grupo de auto-ajuda. Porém sua presença acaba não sendo produtiva em um reality como o The Voice. E por fim Lulu Santos, que é um potencial de possibilidades, um dos artistas mais talentosos de uma geração, mas que não chega a usar 10% de seus conhecimentos no programa.
O mais falho é que eles se comportam como jurados, e não vestem a bandeira do The Voice, que é uma competição entre técnicos. Eles eram para ser competitivos. Eram para se vestir de personagens. E eram para ser relevantes para o crescimento de cada um dos candidatos. Não foram nada disso.
Mas ainda assim, aos trancos e barrancos, eles se fizeram presentes, e foram bem melhores que nas duas temporadas passadas.
A edição do programa foi bem ágil e fez uma boa limonada com os poucos limões que a Globo deu. Poderíamos aqui dizer que faltou contar melhor as histórias de cada um dos participantes (os principais, ao menos), que faltou mostrar mais dos ensaios com os técnicos… a questão é que o The Voice acontece uma vez por semana e dura no máximo 1 hora e meia. Não dá para fazer muita coisa. Mas alguns erros foram cometidos, como por exemplo, na final, onde a edição quase que secundarizou os finalistas, dando mais destaque até mesmo para convidados como Rogério Flausino ou Luiza Possi. Por mais que eles mereçam (e Luiza merece), a final era para ser focada nos quatro finalistas.
Danilo Reis & Rafael
Por fim, a dupla de apresentadores (Tiago Leifert e Fernanda Souza), os grandes destaques desta temporada. Se tivesse que escolher algo para não se mexer, seriam os dois. Tiago, por ter crescido bastante, equilibrando o lado jornalista com o lado apresentador e adicionando o lado torcedor, que se importa com os participantes do programa. E Fernanda por ter conseguido se sair bem com improvisos, com situações das mais diversas. Fernanda é bela, inteligente e talentosa. E percebe-se que ela gosta muito do programa. Então nada mais natural que deixá-la no posto e dar até mais destaque para ela.
O The Voice Brasil chega ao fim de mais uma temporada. A audiência continua em alta e o programa continua dominando as redes sociais, e isto quer dizer que ele deve voltar no próximo ano sem muitas alterações no formato, pode ter certeza. Quanto aos técnicos, muitos rumores, mas nada confirmado ainda. Acredita-se que alguns deles saiam, e de fato, o programa precisa de uma novidade neste quesito. Mas tudo isto só veremos em meados de 2015.
Até lá. 😉
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site