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Os livros não morrem: eles apenas se adaptam (e são adaptados!)

Gladiador – Livros adaptados

“É um caminho semelhante ao que percorrem as adaptações de séries literárias como Harry Potter e Game of Thrones, que, ao se transformarem em peças audiovisuais, acabam alcançando um patamar muito maior”

A transmissão de informações sempre foi algo vital não só para os seres humanos como também para a fauna e a flora. A comunicação entre espécies para denotar a presença de presas ou predadores na área, a sinalização das flores para que abelhas se alimentem e espalhem pólen pelos campos, os cantos ritualísticos para indicar o início da manhã e a caída da noite. Tudo isso configura uma série de informações sendo transmitidas de um agente a outro.

E, como em muitas ocasiões, o ser humano foi quem elevou esse terreno a um patamar diferente. A comunicação verbal evoluiu para a pintura rupestre até passar para a escrita por meio de tábuas e murais nas civilizações antigas. Mais à frente, Johannes Gutenberg e sua prensa móvel elevariam, no século XV,  a propagação da informação para patamares antes inimagináveis, criando assim o campo propício para que o conhecimento não ficasse concentrado na mão de alguns seletos indivíduos.

Os livros foram a forma de entretenimento dominante no mercado por um longo período de tempo, tanto em número de consumidores quanto de receita, uma vez que a concorrência do audiovisual era pequena. Os números atuais da indústria – que em 2018 arrecadou 25,8 bilhões de dólares e vendeu 675 milhões de livros somente nos Estados Unidos – ainda são gigantescos, mas não tão grandes quanto os da indústria de videogames (43 bilhões de receita) e de cinema (33 bilhões).

Além disso, os livros também mudaram. Para além das questões ecológicas que popularizaram a impressão de obras usando papeis reciclados ou vindo de florestas comprovadamente sustentáveis, a demanda por livros impressos caiu também por conta da introdução dos aparelhos eletrônicos portáteis em nosso cotidiano. Diferentemente dos anos 1990, não precisamos mais ficar com a cara na tela de um computador para ler um texto em um site ou no formato EPUB.

Isso sem deixar de mencionar os distintos formatos por meio dos quais as histórias dos livros podem ser retratadas. As adaptações de obras literárias para filmes, séries e jogos são coisa antiga, e o hábito não mostra sinais de que vai perder força tão cedo. Obras como Those about to die, do autor Daniel P. Mannix, inspiraram o filme Gladiador, cujo sucesso se transformou em action figures e jogos de caça-níquel online. É um caminho semelhante ao que percorrem as adaptações de séries literárias como Harry Potter e Game of Thrones, que, ao se transformarem em peças audiovisuais, acabam alcançando um patamar muito maior tanto em reconhecimento de público e crítica quanto em sucesso financeiro.

Aos que não querem deixar os livros para trás, mas não possuem mais o tempo necessário para aproveitar leituras, vale mencionar os audiobooks. A transformação do livro em história contada através do áudio vem dos primórdios do rádio, e o advento das gravações em mídia física como fitas cassete e CDs só ajudou a popularizar o formato. Hoje a coisa é ainda mais fácil, com serviços online como a Audible oferecendo uma vasta biblioteca de obras e várias iniciativas que disponibilizam audiobooks de forma gratuita, incluindo a Librivox, que conta com voluntários do mundo todo para transformar em áudio livros que estão em domínio público.

Para o futuro, quiçá veremos o desenvolvimento de mais formas de relatar contos por meio de veículos mais alternativos do que a folha impressa. Tecnologias como a realidade virtual e a realidade aumentada podem expandir as fronteiras das formas de se contar histórias literárias, colocando o “leitor” quase literalmente na trama. Os próprios videogames, que são os maiores beneficiários atuais da realidade virtual, têm saído das suas formas mais tradicionais de jogos cheios de ação em direção a peças que prezam muito mais pela história – outra coisa de que o mundo literário pode se aproveitar.

Assim, fica claro que o “fim dos livros” foi algo marcadamente precoce. O interesse pelo gênero pode ter diminuído graças a questões culturais, sociais e até políticas que hoje estão sendo discutidas, como a nossa falta de tempo para fazer qualquer coisa além de trabalhar – o que certamente inclui a leitura. O que se vê, no entanto, é que os livros se adaptam às novidades que o tempo traz. Ainda bem.

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