Música

Toda forma de conduta se transforma numa luta armada

Charge – Toda forma de conduta se transforma numa luta armada

“Homossexuais atacam credos, políticos atacam a nossa inteligência, machistas versus feministas, excluem a página da Jout Jout, do Orgulho de ser hétero, atacam, atacam, atacam…”

Por Juliana Azevedo

O título é um trecho da música “Toda forma de poder” de Engenheiros do Hawaii, mas não vamos falar dessa banda maravilhosa, vamos falar das lutas armadas que a nossa geração vem travando na internet e levando para as ruas.

É chocante ver a quantidade de intolerância que encontramos por aí. Somos todos tão diferentes, porque isso deveria causar estranheza e repulsa? A moda do século XXI é lutar pelos seus direitos, lutar pelo respeito, pela igualdade e tolerância. Saiam pelas ruas e ergam cartazes aos gritos, mas façam isso desrespeitando alguém. Não é assim que a banda toca? Infelizmente, é. Isso faz algum sentido? Pra mim, não faz.

Páginas de internet, usuários anônimos e assumidos vem encontrando prazer em defender aquilo que acreditam, ofendendo o outro. Seja uma luta de orgulho gay, orgulho hétero, orgulho machista, orgulho feminista, orgulho de qualquer coisa… Todos com uma arma apontada para o ponto de vista diferente, apontada para alguém que não concorda. Vamos entender uma coisa: não há problema nenhum em concordar e discordar de uma ideologia, afinal, o livre arbítrio, os valores, um cérebro pensante, todas essas coisas estão aí pra isso, para despertar nosso senso crítico, mas é fundamental que sejamos respeitosos com aqueles que não concordam conosco.

O filósofo iluminista Voltaire, tem uma frase que carrego pra vida: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Eu, cidadã comum e colocando em prática toda a educação e respeito que me foi ensinado, além de uma dose de bom senso, tenho plenas convicções do que acredito e não acredito, mas reconheço que devo respeitar todos os pontos de vista, por mais que eles não façam o menor sentido para mim. É tão difícil fazer isso? Eu acho tão simples.

Quebrando o Tabu

Essa mesma música que citei no começo do texto, tem um trecho que diz: “E o fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada. É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada.”. É exatamente isso que está acontecendo! É o fascismo de crenças e a paixão por convicções que está cegando a nossa sociedade e deixando as pessoas fascinadas pela estupidez. O erro na forma de se expressar e de respeitar (se é que respeito ainda existe) está enraizado na cultura da “luta pelos ideais”. Vocês não acham que algumas formas de lutar estão perdendo o sentido?

Homossexuais atacam credos, políticos atacam a nossa inteligência, machistas versus feministas, excluem a página da Jout Jout, do Orgulho de ser hétero, atacam, atacam, atacam… Acredito que quando precisamos atacar alguém é porque nossa defesa está enfraquecida. Ora, tanta paixão por uma causa não está sendo suficiente para defendê-la e conquistar respeito sem precisar ofender alguém? Viver em paz uns com os outros não é mais uma possibilidade a ser considerada?

Não é minha intenção tomar partido por nenhum movimento, mesmo tendo as minhas bandeiras. Escrevi isso para alertá-los sobre a linha tênue entre ganhar e perder respeito, entre a coerência e a incoerência e entre abraçar uma causa e ferir alguém (em qualquer forma) por causa dela. Pense bem nessa linha e tente ficar do lado certa dela.

Juliana Azevedo é estudante de Direito mas nas horas vagas gosta de brincar com as palavras e os sentimentos que coexistem dentro de si. É a dona do blog Chuva de Jujubas e agora faz parte da equipe Cabine Cultural.

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