El Desorden Que Dejas
Se tem algo que é fato, se levarmos em conta as últimas séries e minisséries criadas e produzidas entre 2018 e 2020, é que a Espanha tem produzido títulos bastante interessantes, muitos deles, ótimos. Outro fato: a Netflix tem sabido se aproveitar muito bem disso, lançando algumas dessas obras na sua plataforma, além de ter assumido a produção de algumas delas.
El Desorden Que Dejas (A Desordem Que Ficou) é um dos melhores exemplos do que afirmo: minissérie espanhola, original da Netflix, adaptada do livro homônimo de Carlos Montero (que também adapta a história para o audiovisual e dirige alguns dos episódios), com um excelente roteiro que envolve romance, sexo, suspense e drama. Além das excelentes atuações de todo o elenco.
A narrativa ocorre em paralelo, em torno de duas fortes personagens femininas: as professoras de Literatura Viruca e Raquel. A primeira, já no início da história, sabemos que está morta, tendo, aparentemente, cometido suicídio, e a segunda chega à pequena cidade onde Viruca trabalhava com o intuito de substituí-la. A cidade, na região da Galícia, chama-se Novariz e logo sabemos – e isso é necessariamente repetido por toda a trama – que todos, nesta pequena cidade, se conhecem e, de alguma forma, se protegem, tanto para o bem quanto para o mal.
Ir morar em Novariz era para ser um bálsamo para Raquel, que está passando por um drama pessoal que envolve não só a recente e dolorosa morte de sua mãe como também as tentativas de salvar seu casamento com Germán. Ela e Germán decidem, então, que o melhor é se mudarem para lá, onde ele, nascido e criado em Novariz, poderá retomar os negócios da família, ao passo que ela assume o posto da professora recém falecida. Tudo aparentemente perfeito se não fossem os misteriosos fatos que envolvem a morte da querida, bela e aparentemente insubstituível professora Viruca.
Apesar de acontecer em duas linhas de tempo – a narrativa passada, tendo Viruca como personagem central do que está sendo contado, e a narrativa no presente, com Raquel centralizando as ações – A Desordem Que Ficou não é uma minissérie com roteiro confuso, mesmo que a todo o momento fiquemos confusos no que se refere à verdadeira índole de vários personagens, inclusive de uma das protagonistas, a professora Viruca. Tal situação, diga-se de passagem, poderá ser usada, por alguns críticos, como ponto negativo desta produção: uma quantidade sim, exagerada, de vários plot twists que só estão ali para, digamos, confundir o espectador, levando-o a falsas pistas que, no final, pouco ou nada influenciam na narrativa master da historia.
Absolutamente nada contra um ou vários plot twists numa trama. É interessante, enquanto roteirista, dar pistas falsas, criar falsas expectativas, desde que haja uma devida/necessária coerência dentro do contexto geral de uma narrativa.
Contudo, os pontos positivos desta obra espanhola superam todos os seus (poucos) defeitos. Desde o roteiro que, numa análise geral é, de fato, bem escrito, à direção de arte (ponto para toda a cenografia do Instituto Novariz – a escola onde grande parte da trama se desenrola) e, meu maior destaque: as atuações.
As atuações merecem um parágrafo à parte.
Bárbara Lennie além de linda, é uma talentosíssima e premiada atriz espanhola. É muito difícil desviar os olhos dela – pela beleza, pelo talento, pelo seu personagem forte – quando vemos sua Viruca em cena. Seja nas cenas em que ela dá as aulas de Literatura ou nas cenas de sedução e sexo ou ainda quando vemos sua personagem em desespero. Encantadora e linda! Já Inma Cuesta, também espanhola, nos ganha com uma Raquel firme, forte e destemida que, mesmo nos momentos de perigo (e são muitos pelos quais Raquel passa) ela deixa claro que não sucumbirá. Personagem perfeito para uma atriz de talento.
O elenco masculino também brilha. E cito como exemplo o jovem Arón Piper – da série ELITE – que nos oferece um dos personagens mais complexos dessa história – Iago, o aluno obcecado pela professora Viruca, e que mantém a chave de todo o mistério da trama – e Tamar Novas, que faz Germán, marido da professora Raquel, personagem que, gradativamente, vai nos mostrando suas várias camadas: de marido apaixonado, parceiro e fiel, a um homem que não quer se livrar do vício em cocaína que, inclusive, vende drogas e que possui um passado que nos faz acreditar que ele – assim como outros personagens – podem saber muito mais do que querem mostrar.
E, por fim, a trilha sonora e as músicas que são ouvidas durante os oito episódios. Uma trilha que facilmente consegue nos inserir naquele clima de suspeitas e mistério que é a alma de A Desordem Que Ficou, e a lindíssima música La Espina de la Flor en tu Costado, que toca na não menos bela abertura.
A Desordem Que Ficou cumpre sua proposta de entreter, de envolver aquele que a assiste e, certamente, será um dos grandes títulos da Netflix nesse final de 2020 e que deverá ser ainda muito mais vista no ano que vem. Sendo, muito provavelmente, considerada como uma das produções mais envolventes desta plataforma.
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