Áfricas no Teatro Vila Velha
Áfricas, primeiro espetáculo infanto-juvenil do Bando de Teatro Olodum, foi apresentado neste fim de semana como parte da programação do Festival Internacional de Artes Cênicas. Numa proposta interessante, a peça busca de uma forma lúdica e um tanto didática proporcionar aos espectadores uma imersão na cultura africana. E essa imersão possui uma função social que é digna de atenção: ajudar na construção de uma identidade – seja esta individual, regional ou nacional.
Muito se aprendeu sobre a cultura, os acontecimentos, os mitos e a história de nossos ancestrais europeus, toda estrutura educacional brasileira possui esse foco prioritariamente; porém sempre houve – e ainda há – uma grande lacuna quando o assunto é história e cultura africana. E somente o fato de possuir como objetivo preencher de algum modo esta lacuna já faz de Áfricas um espetáculo relevante. Temos Abdu, caçador de crocodilos do Senegal e duas irmãs com um feiticeiro do Mali como integrantes dessa história. Junto com outros personagens eles ajudam na construção dos mitos africanos, utilizando-se para isso de sequências bem produzidas e coreografias que transpassam um pouco da atmosfera que a África transmite possuir.
A trilha sonora apresentada ao vivo é envolvente, poderosa e que dialoga muito com o desenvolvimento das histórias. Jarbas Bittencourt acerta mais uma vez na concepção do projeto sonoro do espetáculo. A direção – a cargo de Chica Carelli – proporciona um dos trabalhos mais bem executados do Bando de Teatro Olodum. Nesta temporada de Áfricas há visivelmente uma evolução no trabalho de atuação dos atores e cabe aqui citar todos: Arlete Dias, Auristela Sá, Cássia Valle, Cell Dantas, Ednaldo Muniz, Elane Nascimento, Érica Ribeiro, Fábio Santana, Gerimias Mendes, Guilherme Silva, Jamile Alves, Jorge Washington, Leno Sacramento, Ridson Reis, Sergio Laurentino, Valdinéia Soriano, Maurício Lourenço e Daniel Vieira.
O cenário, mesmo não tendo sido concebido originalmente para esta peça, se compatibiliza de modo bem orgânico com a proposta da história. Há elementos simbólicos que agregam muito ao espetáculo e une-se com uma iluminação que consegue passar aquela sensação de estar vivenciando uma épica e mítica história. Isso acontece em grande parte nos momentos que envolvem a apresentação dos mitos africanos, como a representada pelas duas irmãs e o feiticeiro.
Por fim há de se destacar as constantes tentativas do Bando de Teatro Olodum em trabalhar projetos que envolvem a cultura africana. Sabe-se que está na essência do grupo, mais ainda assim a sua longevidade prova que o projeto – criado lá em 1990 – merece cada vez mais aplausos. E essa tentativa inédita de buscar a atenção do público infanto-juvenil é não somente interessante artisticamente como bastante importante socialmente. Na medida em que mais espetáculos para este nicho sejam produzidos pelo Bando, maior a qualidade que cada um deles trará para a cena teatral baiana.
* Espetáculo visto no FIAC Bahia 2012