Patrimônio e Sociedade; memória social, identidade cultural, patrimônios, coleções e muito mais
Porque Astronautas Deveriam Saber Sobre Memória e Patrimônio II
Seguindo a ideia dos textos conteudistas e introdutórios, falaremos neste sobre o patrimônio.
Numa primeira pergunta, “o que é patrimônio pra você?”, pergunta esta que faço todos os semestres para alunos de diversos níveis de escolaridade, principalmente no Ensino Superior, podemos encontrar as mais diversas respostas. Em geral, alunos do Ensino Médio e pessoas que pararam de estudar há algum tempo costumam responder com base financeira, ou seja, patrimônio para eles é qual é o montante obtido com as posses de alguém (carros, casas, joias e tudo mais que possa se transformar em dinheiro). Então, o patrimônio para eles é dinheiro. Em parte esta fala não está errada. Juridicamente os signos e significados estão corretos. A culpa de o patrimônio ser tomado mais como algo financeiro que cultural é dos vários discursos utilitaristas, que aumentam cada vez mais, desde o início da Modernidade. Falaremos disso noutro momento.
Já quando esta pergunta é feita para estudantes do Ensino Superior, especialmente para os de Ciências Humanas, encontramos tópicos importantes mas sem muita reflexão. Palavras como “preservação”, “cultura” e “sociedade” surgem com frequência, mas sem muita base teórica, reflexiva ou prática. Nestes dois casos cabe ao professor melhorar as reflexões e orientar as compreensões. No Ensino Superior é importante o professor fazer estas orientações porque está formando um profissional, mas na Educação Básica é ainda mais importante porque os professores formam, ou deveriam formar, cidadãos. Os debates sobre educação patrimonial, políticas públicas, educação e afins também serão trazidos em outros momentos.
Pelourinho
Mas, de uma maneira genérica, a resposta que mais encontramos são as que relacionam o patrimônio com algo antigo, edificado e sob administração pública. Essa imagem é reforçada pelas mídias que costumam mostrar este tipo de patrimônio porque é visual e imaginativamente mais fácil, acredito. A internet também colabora. Uma pesquisa rápida por “patrimônio histórico” no Google Imagens nos traz facilmente uma grande quantidade de patrimônios edificados como igrejas, sobrados e casarões, como o sítio de sobrados presentes no Pelourinho de Salvador (BA) ou a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (MG) que podemos ver abaixo. A seletividade do patrimônio também será assunto para os próximos textos.
Em todo caso, o que importa sabermos, independente das pré-condições de referenciais das pessoas, é que o patrimônio é algo que significa alguma coisa para alguém. Só se preserva aquilo que seja importante, portanto, que seja dotado de significação. O fato de que governos em diversas esferas e grupos organizados selecionem os patrimônios a serem preservados pode representar um problema, ou pelo menos uma dificuldade, pois a equidade, o equilíbrio é sempre difícil de ser atingido em totalidade.
Mesmo que os ícones lembrados pelas pessoas sejam rasos quanto o significado do patrimônio, é bom que sempre partamos de algum ponto de conhecimento. Cabem aos profissionais, instituições públicas e privadas e principalmente aos professores melhorar os pontos de vista.
São José dos Pinhais, 20 de janeiro de 2017.
Titulado em nível de graduação em Conservação e Restauro de Bens Culturais, graduado em História, especialista em Gestão, Preservação e Valorização de Patrimônios e Acervos e em Estudos em Memória, e mestre em Patrimônios, Acervos e Memória. Atualmente é Historiador e Conservador-Restaurador do Círculo de Estudos Bandeirantes, em Curitiba, entidade cultural agregada à PUCPR onde também ministra aulas e oficinas periódicas para graduandos em História