Tudo Pelo Poder
Tudo Pelo Poder é assim um filme digno de aplausos, não somente por apresentar uma excelente trama, mas acima de tudo por oferecer atuações das mais inspiradas de seu elenco
Foram muitos os filmes que buscaram adentrar mais profundamente no intricado esquema político norte-americano. Esta empreitada, das mais difíceis, visava (e ainda visa) entender mais claramente como este processo nasce, cresce, se desenvolve, sem no entanto nunca morrer. Alguns projetos ao longo do tempo se mostraram bem-sucedidos neste objetivo, mas há de se notar que são raros os que realmente conseguiram realizar de modo completo tal feito. Tudo Pelo Poder (The Ides Of March, 2011) se constitui assim numa peça rara para a história recente do cinema, pois consegue ser bem feliz com a escolha de seu fio condutor (exegese política) sem entretanto se ater somente neste viés. O projeto de George Clooney vai além, oferecendo ao espectador uma boa mostra de como o ser humano é afetado pelos males da contemporaneidade, e de como os conceitos (filosóficos ou não) de ética e moral quase sempre se esvaem quando é conveniente.
Tudo Pelo Poder retrata a primeira fase das eleições americanas, chamada de primárias, onde cada uma das duas grandes vertentes políticas (Democratas e Republicanos) decidem quais serão seus candidatos nas eleições gerais. A história é especificamente focada na perspectiva democrata e na disputa entre os candidatos Mike Morris (George Clooney) e o senador Pullman (Michael Mantell). Através deste mote principal, não tão original, é construída uma engenhosa trama sobre os bastidores da política americana, com destaque inicial para o roteiro de Grant Heslov (em parceria com Clooney), que apresenta com coerência admirável uma plausibilidade narrativa de dar inveja a qualquer filme produzido nos dias atuais. Todas as reviravoltas da história mostram-se bem verossímeis ao espectador, originando com isso uma sensação das mais prazerosas.
Esta sensação, diga-se de passagem, também é consequência de um competente trabalho de direção. George Clooney já vem há tempos comprovando sua habilidade como diretor, bem como sua capacidade de escolher bons projetos, seja como ator, seja como diretor. Alguns de seus últimos trabalhos (Boa Noite e Boa Sorte, Syriana, Conduta de Risco e Amor sem Escalas) são exemplos dos mais felizes no cinema atual. Em Tudo Pelo Poder, Clooney consegue presentear o público com cinco grandes personagens, todos muito bem desenvolvidos em suas personalidades, seus objetivos, seus princípios, e é por conta deste elemento (difícil de conseguir) que o filme se destaca ainda mais na multidão.
Ryan Gosling, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti e o próprio George Clooney constroem através de seus personagens um emaranhado bem interessante de características comportamentais que fazem o nosso entendimento sobre o ser humano adquirir uma grande diversidade de perspectivas. Observa-se a relação familiar (tão enaltecida pela sociedade americana) ser destroçada por quem mais a defende; há também um relevante questionamento sobre os limites éticos que um processo eleitoral como este traz consigo; há uma exposição do quão o ser humano pode ser passional ou racional nas suas escolhas e como essas escolhas afetam seus futuros. As temáticas são inúmeras e são sempre trabalhadas de forma inteligente na narrativa.
Tecnicamente, todas as sequências produzidas pela história soam relevantes, não há em momento algum uma cena sem propósito ou quiçá um diálogo solto e sem função. Tudo o que é mostrado durante a trama auxilia sobremaneira no desfecho oferecido. Como curioso exemplo vê-se em uma das primeiras sequências exibidas a personagem Molly Stearns (Evan Rachel Wood) caminhando por dentro do comitê de campanha com os lanches da equipe nas mãos. Já próximo da conclusão esta sequência é reproduzida, só que agora com outra personagem no seu lugar, deixando evidente aos que assistiram a história de que na política americana mudam-se as peças, mas o jogo permanece e sempre permanecerá o mesmo.
Tudo Pelo Poder é assim um filme digno de aplausos, não somente por apresentar uma excelente trama, mas acima de tudo por oferecer atuações das mais inspiradas de seu elenco. Todos se destacam, desde o já respeitado Ryan Grosling (em atuação grandiosa) até a mediana Evan Rachel Woods, que ultimamente vem mostrando-se bem irregular nas escolhas dos seus projetos, e passando pela admirável participação de Marisa Tomei. Todos convencem. O filme convence.