Literatura

Gilberto Gil e as super filas

Fila para compra de ingresso no TCA

Raramente um sonhador sonha sozinho ou avança sozinho com o seu sonho na mão, por isso agradeço aos meus cúmplices de estresse, de fome, de tomar chuva, de tomar sol, de risadas, de frustrações e decepções na fila gigante que se formou ontem, 11/06, na bilheteria com aqueles funcionários lentos (quase parando) e completamente incompetentes do Teatro Castro Alves, em Salvador – BA, que começaram a vender os ingressos para os shows que integram a programação do projeto Cultura em Campo.

A fila gigante começou a ser formada desde as 5 da manhã para a compra de ingressos para os dois shows de Gilberto Gil, mas as vendas só iniciaram às 12h. Um dos inúmeros problemas da organização foi ter divulgado que ingressos seriam vendidos nos postos do SAC, mas não avisaram que seriam apenas 80 ingressos. Resultado: todo mundo que se dirigiu para a porta do TCA.

Outra coisa, por total desinformação, no ato da compra, os sofredores foram obrigados a informar o número do CPF, pois teria um limite de dois ingressos por CPF para cada espetáculo, sendo que cada espectador só poderá escolher um máximo de três espetáculos para assistir. O problema que se generalizou foi que muitos não tinham o CPF em mão e nem a informação do número verbalmente era aceito. Resultado: mais confusão e discussões. Porém, devido a prioridade do atendimento para idosos e, no final da tarde, para os amigos dos produtores e afins que estavam com pré-convites, muitos velhinhos estavam vendendo convites que pegaram por 1,00 por 50,00, e a segurança inexistente nada fez.

E isso é só o início da incompetência que vamos mostrar ao mundo na época da Copa, pois profissionais da ocasião, produtores fieis ao princípio “foda-se o povo” de tantas capitais brasileiras, que nesses últimos anos, repetidamente solicitam que o povão ame o seu país, a todos eu brindo e com todos compartilho dessa hora de vergonha. Considero mesmo uma grande vitória alguém pensar em levar cultura de verdade ao povo, mas tratar as pessoas como a grande maioria foi tratada ontem é lamentável.

Fila para compra de ingresso no TCA

A longevidade de produtos culturais que já encantou, interferiu, produziu boas transformações e arejou os olhos de um milhão e meio de pessoas, como é o caso do Gilberto Gil, pode ser um tiro no pé quando a falta de organização é o mote comum de quem produz cultura. Meu Deus, quantas adversidades logo de saída: isso daria um bom monólogo de mais de seis horas (*tempo que gastei na fila), de um artista sozinho no palco num espetáculo recheado de poesia… e no TCA. Ora, vamos combinar que parece uma coisa difícil de decolar.

A grande e verdadeira revolução é a que começa com a educação do povo, com ela construímos dignidade e tornamos possíveis grandes transformações para as gerações atuais e futuras. Educação, justiça social, respeito e amor são as armas que precisamos ter em mãos para mudar o mundo. Mas com esse tipo de comportamento dos produtores culturais, acho muito difícil! E segundo a assessoria do TCA, não houve nenhum problema. Claro, eles não enfrentaram chuva e sol naquela porra de fila!

Os shows acontecem entre os dias 13 e 29 de junho, e, além de Gilberto Gil e OSBA, nas atrações estão Encontros das Culturas Negras, Neojibá & Rumpilezz com participação de Margareth Menezes, Celebração das Culturas dos Sertões – Baião de Nóis e Balé Teatro Castro Alves & Badi Assad e outros.

E com disse o pessoal do Guia de Sobrevivência do Soteropobretano: “Que bonito, que bacana, que beleza, que maravilha, que iniciativa boa, que promoção da cultura, isso sim é dar acesso a todos! O que é de verdade: Pânico, terror, agonia, cambistas (que não vão ver o show) na porta do TCA desde 6h da manhã, duas mil pessoas, gente discutindo, gente gritando, e gente dizendo que vai matar quem furar a fila. E isso tudo porque a bilheteria nem abriu ainda”.

Mas até quando seremos empurrados pela mídia? Até quando ficaremos temerosos em protestar nas ruas exigindo MUDANÇA JÁ? Exigindo EDUCAÇÃO? Exigindo RESPEITO?  Não vivemos em uma monarquia, mas somos tratados como escravos por uma liderança que não se interessa em educar o povo, pois é mais fácil ocupá-los com futebol, novela e polêmicas sensacionalistas. Uma liderança que controla a mídia usando dinheiro, poder e influência.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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