Literatura

O cinema, a tv e o beijo gay

I Love You Phillip Morris movie image Jim Carrey and Ewan McGregor

Terça-feira é o único dia que eu me presto a sentar e assistir alguma coisa na Globo. Primeiro porque a programação está indo ladeira abaixo, segundo porque a única coisa que ainda me agrada são as aventuras de Fátima (Andréa Beltrão) e Sueli (Fernanda Torres) em “Tapas e Beijos”, e especialmente na noite de ontem, 25/06, foi uma delícia.

Nitidamente dirigido aos (in)Felicianos do Brasil, o programa focou no preconceito com direitos a frases apimentadas como: “O que foi? Nunca viu dois homens em uma banheira não?” – de Jorge para o funcionário de um motel – quanto o selinho gay (*sem bem que eu não achei nada demais) entre os galãs Fábio Assunção e Vladimir Brichta, que interpretam respectivamente Jorge e Armane.  E não foi só isso. O episódio foi todo gay friendly.

Cena de Tapas e Beijos

Numa outra cena, bem escrachada, Jorge dispara para os que estavam fazendo fofoca sobre o suposto caso entre ele e Armane: “Eu estou pouco me importando para o que os outros acham… O que aconteceu entre a gente foi um lance lindo… não precisa ficar com vergonha… Tá rolando sim e qual é o problema”. Ou então: “Se o Jorge for gay ele não serve mais para ser seu amigo? Tá parecendo pastor que vive falando mal de gay” – de Fátima para Armane.

Nesse episódio, os dois amigos, dividiram um romântico banho de espumas, após uma confusão entre eles e suas namoradas e são acusados de, na verdade, serem amantes.  Além de tudo isso, o preconceito foi debatido em outro momento com outro personagem, a travesti Stephanie, esposa de Tijolo, que por ser massagista profissional, o casal enfrenta o preconceito e resistência de outro casal, Flavinha e Djalma, em relação à capacidade de Stephanie como massagista e de convidá-los para jantar. São programas, em momentos como esses, que ajudam a combater o preconceito enraizado ao trazer as questões LGBT de maneira ao mesmo tempo sutil e presente no dia-a-dia. Até que enfim, parabéns Globo! Só dessa vez você acertou!

Cena de Tapas e Beijos

Mas engana-se quem pensa que esse foi o primeiro beijo gay da televisão. E engana-se mais ainda quem está esperando o Félix, vivido pelo excelente Mateus Solano em “Amor à Vida”, pegar o médico bonitão e tascar-lhe um beijo, pois essa não é a primeira produção na qual Solano vive um personagem gay. Em um filme lançado em 2011, ele deu vida a João Paulo, que também teve um relacionamento homo apesar de ser casado. E rolou mais do que beijos. Contudo, como hipocrisia pouca é bobagem, os vídeos estão causando burburinho na internet, e alguns já começaram a ser retirados do ar.

Mateus Solano em Amor à Vida

No cinema, ao contrário da babaca TV brasileira, esse assunto sempre foi abordado (ou abortado), como no filme que mostrou um amor proibido (como sempre) entre dois soldados israelenses em “Delicada Relação”; beijo muito quente no filme “De Repente, Califórnia”, acho que ainda cartaz nos cinemas brasileiros; o queridinho das meninas, Robert Pattinson, o vampiro chato de “Crepúsculo”, beija um cara em “Little Ashes”; os atores Jim Carrey e Ewan McGregor se beijam em “I Love You Philip Morris”; beijo gay de Kevin Spacey em “Beleza Americana”; além das lindas Neve Campbell e Denise Richards numa das cenas sexy de “Garotas Selvagens”; o beijo mais lindo do mundo de Jake Gyllenhaal e Heath Ledger em cena de “Brokeback Mountain”Jesse Bradford e James Marsden, o Ciclope de “X-Men”, se beijam em “Por Conta do Destino” e muito mais.

Contudo, como nem tudo são flores nessa birosca de País, antes mesmo de retratarmos aqui mais uma pérola de um de nossos representantes no Legislativo inútil, devemos lembrar que o nome do deputado federal João Campos (PSDB-GO) não deve ser esquecido jamais, assim como o do pastor babaca e deputado preconceituoso Marco Feliciano (PSC-SP), atual presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. O motivo por que Campos deve ser lembrado? Bem, se não fosse por esse senhor, o absurdo projeto conhecido como “CUra gay” simplesmente não existiria. Esse parlamentar, que, óbvio, também é evangélico, é o autor da tal proposta que pretende promover “terapias de reversão” da homossexualidade no SUS.

Cena de O Segredo de Brokeback Mountain

Por incrível que possa acontecer, esse demente declarou que esperava aplausos da comunidade LGBT por ter levado o projeto à aprovação. “Até pensei, quando apresentei esse projeto, que teríamos os aplausos inclusive dos ativistas do segmento LGBT. Porque nesse projeto, uma das finalidades é a gente resgatar a premissa inicial do artigo 5º da Constituição, de que todos são iguais perante a Lei. E essa resolução do Conselho Federal de Psicologia ofende esse princípio na medida em que discrimina o homossexual e não dá o mesmo tratamento ao heterossexual”, declarou.

O parlamentar, pelo menos, tem consciência da total rejeição: “Estranhamente [ativistas LGBT] se colocaram contra”, afirmou. E apesar dessa sandice ter sido aprovada na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o projeto precisa ainda da aprovação de duas casas, a de Seguridade Social e a de Constituição e Justiça.

Deputado/Pastor Marco Feliciano

Mas, ao contrário desses parlamentares desinformados, qualquer psicólogo ou psiquiatra pode e deve atender pacientes que os procuram para se resolverem quanto à sua sexualidade. Estes profissionais irão sugerir atitudes, experiências, comportamentos e questionamentos internos ao paciente ajudando-o a se encontrar, entender e aceitar a sua sexualidade podendo conviver com sua realidade sem tabus ou culpa, mas nunca impor cura, pois gays não são doentes como os evangélicos – sempre eles – gostam de afirmar.

O que deveria ser proibido é essa hipocrisia de transmitir aos pacientes a ideia errônea de que homossexualidade é algo ruim ou errado e principalmente considerá-la como doença ou transtorno a ser curado ou tratado. Amar, amar sempre e quem quer que seja!

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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