Foto Jirka Holan
Ontem, 11 de abril, a Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV), em parceria com o Circuito Sala de Arte, promoveu uma sessão especial no Cine XIV (Pelourinho) em homenagem ao dia do curta-metragem, comemorado originalmente em 04 de abril. No evento, três filmes foram exibidos e logo após foi realizado um interessante debate sobre a situação atual da produção baiana de curtas, seu formato, sua circulação e sua exibição. Estiveram presentes na mesa de discussão os realizadores Henrique Dantas, de Ser Tão Cinzento (vencedor do prêmio de Curta Documentário do 17º Festival É Tudo Verdade), Paula Gomes, de Pornographico e Joel Almeida, de Penitência. Participaram também Solange Lima, produtora e ex-presidente da ABD nacional e o ator Fernando Neves, de Pornographico.
Os três trabalhos exibidos representam bem a cena baiana de curtas-metragens, cada um com sua especificidade, sejam temporais (Penitência foi produzido há algum tempo), sejam de estrutura narrativa (Pornographico é um curta-metragem de ficção e Ser Tão Cinzento, um documentário). Há ainda muitos outros bons representantes do cenário atual, como os irmãos Lisboa (Daniel e Diego), os rapazes do CUAL Coletivo, a baiana radicada em São Paulo, Gabriela Amaral, dentre outros. Não resta dúvida que a produção de bons projetos está em ritmo acelerado, mas ainda fica a sensação de que existe uma grande lacuna para ser preenchida no que diz respeito ao tema. Qual seria esta lacuna? Muito provável que haja consenso na resposta, já que todos estão certos de que um dos problemas mais crônicos do cinema baiano (especificamente com relação ao curta-metragem) reside na exibição e distribuição do mesmo.
Para tentar entender o problema, os convidados foram incitados a falar sobre questões como esta descrita acima. O primeiro a se pronunciar foi Joel Almeida, que salientou todas as vantagens de se fazer um curta-metragem: “o curta dá liberdade, não tem compromisso com o mercado, é curto e possui janelas variadas”. Paula Gomes salientou que seu projeto (Pornographico) não obteve recurso de ninguém. Henrique Dantas falou um pouco do processo de produção de seu filme, como conheceu o filme de Olney São Paulo e de sua relação com Solange Lima, produtora. Falou também que projetos como Pornographico poderiam ser exibido em qualquer lugar do mundo, pois possuem qualidades para isso. Ele continuou reafirmando a possível parceria com o Circuito Sala de Arte, que Marcelo Sá (Diretor) poderia ter um importante papel no processo de difusão do curta-metragem em Salvador. Diz ser possível, pois os longas-metragens cada vez ficam mais curtos e assim haveria uma brecha entre as sessões para exibição de trabalhos de curta duração.
Ele questionou as políticas de governo (não necessariamente de um governo específico), que todos gastam milhões em investimentos que não vão pra lugar algum, ou que são desnecessários, ou pior, que sofrem com casos de corrupção. E ainda assim, quando a verba é destinada para o cinema, ou cultura de um modo geral, pessoas perguntam sobre a necessidade do uso deste dinheiro. Ele diz: “o governo tem que colocar edital mesmo, mas não em ações isoladas”.
Solange Lima, na sua fala, diz que o dia do curta não é necessariamente um momento para comemoração, mas sim para uma reflexão. Ela busca desmistificar a ideia errônea de que fazer um curta-metragem é bem mais fácil que construir um longa-metragem. Ela fala que a produção de curtas deve ser pensada como um trabalho, e por isso não deve ser feito de graça. Fala também que prefere não acreditar em governos, pois há uma tendência mundo afora de extinguir as políticas culturais (através da extinção dos ministérios das culturas). E por fim, afirma que há uma falha de comunicação entre os produtores de audiovisual, problema esse que inexiste (ou é bem menor) entre os diretores, que normalmente conversam entre si.
Falando como representante dos atores, Fernando Neves afirmou de modo sucinto que todos ali trabalham por amor, porque a profissão é das mais árduas que existe. Não há auxílio quase algum e que essa situação tem que mudar.
A partir daí a fala passou para Carollini Assis, diretora institucional da ABCV. Ela reafirmou alguns posicionamentos já citados e disse que se deve pensar em ferramentas para mudar esta situação. Mencionou que o projeto Quartas Baianas voltará por agora e que todos devem divulgar, pois por vezes a Sala Walter da Silveira (local do evento) ficou esvaziada, o que realmente é uma grande pena.
O debate continuou por mais algum tempo, mas o que fica de resumo é que o curta-metragem feito na Bahia é de grande qualidade, o estado possui nomes de peso e cada vez mais gente nova se insere neste universo. Porém, o mercado de exibição ainda é insuficiente, para não dizer inexistente. Que o evento desta quarta-feira última seja somente o primeiro passo de uma série de mudanças que venham beneficiar realizadores, produtores, distribuidores e por fim, mas não menos importante: o consumidor de cinema baiano.
Vale destaque o fato de que a sala do Cine XIV estava bem cheia.
Fotos: Carla Almeida – Diretora de Comunicação /ABCV