Literatura

Crítica “Em Defesa de Cristo”: a passagem do ateísmo à fé aos olhos de um jornalista

Em Defesa de Cristo

Filme que está em cartaz nos cinemas apresenta uma história real, que se transformou em um dos grandes best-sellers no mundo

Falar do tema que cerca o filme “Em Defesa de Cristo”, é ao mesmo tempo fascinante, instigante, mas amedrontador. É muito fácil pisar na bola quando escrevemos sobre religião, fé e o embate entre os religiosos e os céticos. O filme, que estreou esta semana nos cinemas do país, entretanto, mostra uma perspectiva peculiar: mostra o embate, mas com um final agregador, que ao mesmo tempo dá pano para manga. Afinal, como é possível uma pessoa dita racional, cética, ateia, vivenciar a passagem para uma vida religiosa, de crença em Deus, e em seu filho, Cristo, maior símbolo da história ocidental?

Bem, se o roteiro fosse original, teríamos muitas questões para rebater, porém estamos falando aqui de uma história que realmente aconteceu, e que se transformou em um dos maiores best-sellers da literatura mundo afora. “Em Defesa de Cristo” é baseado no livro e conta a história de Lee Strobel, um jornalista conservador e linha dura que acaba de ganhar uma promoção no jornal em que trabalha.

Ateu convicto, Lee vê seu casamento desandar por causa da recente conversão de sua esposa Leslie à fé cristã. Com isso, ele começará uma jornada para rebater os argumentos do Cristianismo para poder salvar seu relacionamento, levantando fatos que podem mudar tudo que acredita ser verdade.

Uma das grandes sacadas do filme, e da história em si, foi tratar o tema da ressurreição de Cristo como um fato jornalístico. Imagina você, um jornalista contemporâneo de Jesus, tendo que fazer a matéria sobre a sua ressurreição. O que fará? Bem, primeiro, checar as fontes, testemunhas e entrevistar todos que de certa forma poderão ajudar a responder a questão da matéria: Jesus de fato ressuscitou?

E porque esta pergunta, e, sobretudo a resposta, é de fundamental importância para Lee? Bem a fundação do Cristianismo e da fé cristã traz como base mais sólida a ideia da ressurreição de Jesus. Destruir esta base é colocar em xeque toda a religião e a fé cristã. Será que existe um Deus mesmo?

Lee se vê em volta de uma jornada das mais complexas, principalmente porque a motivação que ele teve para iniciar tal jornada é das mais urgentes para ele: salvar o seu casamento. Sim, uma das questões que talvez mais incomode um ateu é se ver ao lado do extremo oposto. Não que ele seja um intolerante, mas as ‘crenças’ em tese são tão opostas que de fato deve incomodar bastante. Para complementar, Lee ainda se vê em meio a uma pauta polêmica e bastante perigosa, sobre a morte de um policial e a possível inocência do acusado. Esta história toca bastante a vida de Lee e acaba tendo uma grande importância para a história, para o filme, e para a mudança pessoal de Lee.

Em Defesa de Cristo

Um dos elementos mais complicados do filme, e da história, é o exato momento de transição de Lee, quando ele deixa de lado a posição de ateu e passa a aceitar Cristo, Deus e a religião. Óbvio que não é fácil mostrar uma passagem como esta de forma perfeita, e o filme transmite esta ideia meio confusa, de que foi tudo muito rápido e lógico.

Este processo – imagino eu, deva ser bem mais lento e gradual, mas em menos de duas horas de filme talvez seja querer demais exigir isso. Assim, tirando esta parte que incomoda um pouco, todo o processo de transição acontece de forma bem racional, jornalística. O vemos entrevistar referências científicas e religiosas do tema. O espectador a todo instante vivencia Lee e a sua busca por refutar a existência da ideia da ressurreição. Talvez não da ideia, mas do fato em si. E cena por cena, ele vai se dando conta que não tem poderes para negar a existência.

O filme, que tem toda esta carga religiosa, é também um drama familiar interessante, e mostra como as mudanças pessoais de uma das partes de um casal pode afetar a vida a dois. E mostra o que pode se fazer com isso. A esposa de Lee, interpretado muito bem pela atriz Erika Christensen, tem papel fundamental na trama, e é o centro de tudo que acontece. Ela é a real protagonista, pois as suas ações que geram as reações de Lee, que fazem a história andar. Ainda assim, é Mike Vogel que dá um show como o jornalista Lee.

“Em Defesa de Cristo” entra em cartaz como mais um grande exemplar que dialoga com um dos temas mais espinhosos da nossa vida, ao menos no mundo ocidental: a vida e morte de Jesus Cristo. Uma história que merece ser vista, comentada e refletida.

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