Perdidos em Paris
“E cada momento dos dois em cena, com suas reações estupefatas aos acontecimentos ao seu redor, mas sem se render a caras, gritos e bocas”
Por João Paulo Barreto
É na ingenuidade e leveza que se baseia o cinema proposto pelo casal de cineastas Fiona Gordon e Dominique Abel no divertido Perdidos em Paris. Tal proposta, algo por demais bem vindo em tempos de um cinema feito com base quase exclusiva em uma abordagem cínica, apesar de não ser uma constante na filmografia dos realizadores, encontra um tom preciso na ideia de contar sua história a partir da linha tênue entre o burlesco e o absurdo. Entre o cômico e o teatral.
Na visita da canadense Fiona (vivida pela própria diretora) a Paris no intuito de buscar sua tia senil e, então, desaparecida, a desculpa para as situações nonsenses é plantada, e o desenvolvimento da história segue a partir dessa premissa, a de caminhar entre momentos nos quais o espectador é colocado diante de uma série de eventos que brincam com a linearidade da montagem para liberar as pistas do que realmente aconteceu. Nessa construção de acontecimentos, algo que não subestima a inteligência do espectador justamente por conta da complexidade da escolha de seus cortes e nas inserções seguintes para tornar fluída a narrativa dentro de sua comicidade, o desenrolar da trama é apresentado de forma, contrário de como seria de se esperar, não estabanada ou tentando arrancar gargalhadas do espectador. A forma, aqui, é mais natural, dando ao público a chance de degustar cada traquinagem e gags visuais, cada colagem de pistas e, o mais importante, observar os maneirismos físicos de seus dois protagonistas, no caso, o segundo vivido pelo próprio Abel na presença de um mendigo oportunista.