Laranja Mecânica, um dos maiores clássicos do cinema
Lista de filmes – O cinema desde a sua origem vem sendo uma boa ferramenta para refletirmos sobre questões éticas e morais; lista com ótimos filmes
Ética no cinema. Moral no cinema. Certamente você se deparou por muitas vezes com estes termos, sobretudo em sites de listas de filmes ou sites de filosofia. O fato é que é bastante compreensível o ser humano se interessar por questões que abordam seus costumes, seus princípios, suas ações, pois essas questões o definem enquanto homem. Há uma necessidade natural de sabermos e entendermos as nossas atitudes e mediarmos nossos acordos de convivência, e o cinema, mais que qualquer outra arte, soube explorar essa temática de modo intenso.
Ética/Moral
O termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa) e diz respeito à reflexão sobre os nossos atos morais. A Moral, derivada do latim (mos, mors) é o conjunto de valores, normas, regras e princípios que norteiam a conduta humana em sociedade. A Moral é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética se dedica a pensar e refletir as ações humanas, bem como seus fundamentos, ela reflete, portanto, sobre os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
Filmes
O cinema, desde a sua gênese, trabalha com questões que envolvem termos como ética e moral. A partir de agora iremos listar alguns dos mais importantes filmes e suas abordagens sobre o tema.
1 – Laranja Mecânica – Como pensar uma sociedade sem que todos os homens sejam dotados de liberdade e respondam por seus atos? Uma das obras-primas de Stanley Kubrick se sustenta em questões como esta. Alex é um jovem rebelde, extremamente violento e alheio à regras sociais. Porém, depois que ele mata uma senhora, ele vai preso e lá recebe um tratamento inovador: ele passaria a ser condicionado a não fazer o mal. Sempre que pensasse em praticar um ato que afronte o status quo, ele sofreria espasmos de dor que o forçaria a não fazer. Assim, Laranja Mecânica entra para a história do cinema ao trabalhar uma das questões morais mais importantes: o que é o ser humano sem o livre arbítrio? Se não podemos escolher como agir, como podemos nos considerar seres livres, na acepção mais profunda da palavra? Uma ótima ferramenta para se pensar este tema. Temos um texto mais detalhado sobre o filme, só clicar e se aprofundar no assunto
2 – Crash, no Limite – Crash (de 2004) é um filme visceral, que aborda através de suas variadas histórias (que se encontram no decorrer do filme) questões éticas ligadas ao preconceito racial e étnico, adequação a uma sociedade e estereotipação. A história é rica em mostrar manifestações de falta de moral/ética, ou ao menos de uma chamada ética da conveniência. Ou seja, se esta ação vai me fazer bem, então ela talvez não seja tão ruim assim. Na história, o roubo do carro de um casal de brancos passa a envolver a vida de latinos, negros e orientais em acontecimentos que se sucedem, demonstrando, assim, o poder que as decisões têm, não só na vida de quem as toma, mas na vida de todas as pessoas envolvidas.
Crash no Limite
Assim, Crash trabalha com aquela interessante ideia de que nossas ações possuem um poder muito grande sobre a vida alheia, e não somente sobre a nossa. As ações que praticamos podem – e devem – ser universalizadas, para assim sabermos se ela é ética (ou moral) ou não. A questão aqui é a seguinte: você gostaria que ‘fulano’ te tratasse do mesmo jeito que você está tratando ‘beltrano’? Muito de nossa reflexão sobre o tema recai sobre esta fundamental pergunta.
3 – Quem somos nós? – Basicamente, essa é a premissa deste belo documentário: uma discussão sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos, o que há além de nós, no universo. Uma vasta discussão sobre questões pertinentes ao conhecimento humano, física quântica e sobre as nossas verdades.
Sabemos que a ética e a moral podem ser vistas dentro de uma perspectiva coletiva (regras sociais, leis…), e também dentro de uma perspectiva individual (que tipo de princípio me acompanha nas minhas atitudes). Essa ética mais interna, de buscar entender quem somos, ou o que nos leva a agir de determinada maneira, é o ponto de partida do documentário, um dos mais interessantes já produzidos. Um documentário denso, intrigante e que foi tema de um ótimo texto publicado aqui no site. Só clicar aqui e conhecer mais do documentário e de sua temática
4 – Ponto de Mutação – Há um diálogo no filme do cineasta Bernt Capra que é de fundamental importância para discutirmos a ideia de ética: os três personagens estão discutindo o papel do cientista no mundo e de sua responsabilidade sobre as suas ações e as suas descobertas. Em jogo naquela conversa, a criação da bomba atômica, produzida pelo cientista Robert Oppenheimer. Ele, ao ver sua ‘invenção’ ser usada para destruição, se disse culpado e envergonhado. O presidente americano na época, Henry Truman, retrucou dizendo: mas fui eu quem mandou jogar as bombas.
Aqui está uma questão moral: se você cria ou constrói algo para o bem, e alguém se apodera e utiliza para outros fins, temos responsabilidade sobre isso?
O filme possui diálogos soberbos (são 1 hora e 40 minutos de conversas). Interessante e relevante filosoficamente. Temas como moral, ética e existencialismo são motes deste filme. Temos também um ótimo texto sobre ele, que ajuda, e muito, a compreender seus dilemas.
5 – Efeito Borboleta – Agora iremos sair um pouco dos filmes mais densos narrativamente falando e vamos parar em um suspense mais comercial, estrelado pelo galã Ashton Kutcher. Ele interpreta Evan, rapaz que cresce carregando alguns traumas a respeito de decisões e escolhas erradas de seu passado. Porém (sendo bem direto) ele tem a capacidade de voltar no tempo e mudar as escolhas que fez. O problema é que mudando suas escolhas, ele acaba mudando o curso do universo.
Efeito Borboleta trabalha, assim, duas questões, uma que já abordamos: suas ações individuais possuem grande poder sobre a vida alheia. Já dissemos isto e vale bem para a história. A segunda é muito famosa: se você pudesse voltar no tempo, mudaria algo em sua vida? Essa é uma pergunta bem filosófica, que mexe com questões morais e éticas, pois mudando algo em sua vida, você poderia estar contribuindo para destruir ou beneficiar outra. E seguindo aqui a máxima de Aristóteles na Ética a Nicômaco, e em seu pensamento moral de forma geral, “somos o resultado de nossas escolhas”, tendo esse princípio axiológico e de conduta ético-moral presente como fio condutor.
Efeito Borboleta
No filme, cada mudança, mínima que seja, acaba prejudicando pessoas ao seu redor. Ele brinca de Deus, mas percebe logo o quão pesado é ter que lidar com o sentimento de culpa por ser um elemento desencadeador de situações destruidoras em vidas alheias.
6 – O Mundo de Sofia – O filme, que é baseado em um dos mais famosos livros sobre a filosofia, é um prato cheio para se entender questões filosóficas, incluindo aí ótimas conversas sobre ética e moral. Sofia Amudsen, personagem central do filme, é uma jovem estudante que vê a sua vida mudar completamente por conta de cartas anônimas com as mais diversas questões existenciais: quem é você? De onde você vem? Como começou o mundo? A partir daí, a jovem viaja através da história da filosofia, conhecendo os grandes filósofos e seus pensamentos.
Neste sentido, conhecemos os conceitos de ética de Aristóteles e de vários outros grandes filósofos da história ocidental. Um prato cheio para quem gosta do tema.
7 – O Abutre – O filme conta a saga de Lou Bloom (Jake Gyllenhaal). Lou, sem saber direito o que ser da vida, descobre que o trabalho de cinegrafista especializado em tragédias (assassinatos, incêndios, acidentes…) é bastante rentável. Assim, passa a ser mais um desses que vivem em busca de tragédias para documentar e exibir em programas dito ‘jornalísticos’ populares. Aqui no Brasil temos exemplos disso: Balanço Geral, Se Liga Bocão (Bahia), Brasil Urgente…
Uma das questões que envolvem ética, mais importantes para se discutir na contemporaneidade, é a chamada ética jornalística. Até onde vai o direito de um repórter fotografar (ou filmar) as entranhas de um acidentado, ou o rosto deformado de alguém que recebeu uma facada, ou o corpo já moribundo de um assaltante? E por que este tipo de conteúdo fascina tanto as pessoas? Se os programas estão no ar, é porque o público legitima.
Trabalhar a ideia de ética e de moral através deste filme pode ser uma experiência bastante rica e produtiva. Teremos na discussão elementos filosóficos utilizados em exemplos do cotidiano. E para enriquecer ainda mais a discussão, temos um texto sobre o filme no site
8 – O Jardineiro Fiel – Já é sabido por todos que uma das indústrias que mais carecem de um acervo ético é a indústria farmacêutica. Essa indústria, em nome dos lucros e da ambição, destruiu ao longo das décadas, milhares e milhares de vidas. Animais são os que mais sofrem, sendo utilizados como cobaias em experimentos para fabricação de cosméticos ou medicamentos (alguns importantes e outros bastante supérfluos). Porém, o ser humano também já sofreu (e ainda sofre) bastante com a falta de escrúpulos que muitos membros dessa indústria possuem.
O Jardineiro Fiel de Fernando Meirelles
O Jardineiro Fiel, filme do cineasta brasileiro Fernando Meirelles, é sobre isso. O que mais fica evidenciado, nesta obra, é exatamente o seu caráter de denúncia. E não falo aqui, exclusivamente, da denúncia da péssima condição de vida em algumas partes da África, da globalização e de todas as suas consequências ou, ainda, da má distribuição da renda mundial e, sim, da cruel manipulação da indústria farmacêutica: é chocante assistirmos cenas em que o negligente governo do Quênia permite que sua população pobre, bastante miserável, seja usada como cobaias para a aplicação dos remédios dessas corporações farmacêuticas.
Temos um texto sobre o filme, para ajudar um pouco na discussão do tema.
Outros filmes interessantes:
Advogado do Diabo O Quarto Poder O Show de Truman – O Show da Vida Em um Mundo Melhor O Senhor das Armas
Matrix