5 Minutos
A Mostra Competitiva do XV Festival Nacional 5 Minutos começou na noite desta terça-feira trazendo de tudo um pouco. Desde pequenas animações, passando por vídeos musicais e chegando aos tradicionais curtas-metragens de ficção. Alguns trabalhos já se apresentam bem consistentes e seguros enquanto que outros ainda mostram-se em pleno processo de amadurecimento. Percebemos autores já experientes trazendo seus mais novos trabalhos para a mostra, mas também é visível que o festival está cheio de caras novas, de uma nova safra de videomakers que possuem talento e criatividade, mas que falta ainda alguma bagagem, sobretudo a bagagem técnica.
Fiquem com um pequeno resumo do que aconteceu no Programa Um:
O primeiro trabalho apresentado foi do baiano Ernesto Molinero. Pequeno é uma pequena ode de um garoto em busca do pedaço de melancia. No meio deste processo ele vivenciará algumas aventuras típicas de sua idade. Os elementos técnicos do curta chamam atenção, e isso se dá muito por conta da equipe responsável pelo projeto. Pequeno é dirigido por Molinero, também diretor de um dos trabalhos mais interessantes em curtas-metragens da história do Festival 5 Minutos (Meninos) e tem como parceiros os talentosos Haroldo Borges e Paula Gomes, dupla que vem se sobressaindo no mercado de cinema baiano, com carreira internacional bem-sucedida. Basta assistir Pornographico, um de seus curtas, para comprovar. Pequeno não possui a força narrativa de Meninos, mas ainda assim é um belo trabalho (em preto e branco) com chances de vencer o festival.
Camilo Cavalcante volta ao festival trazendo A Velha e a Esquina, seu mais recente projeto. O curta, apesar de bem diferente, possui algumas similaridades em relação a My Way, trabalho que conquistou prêmio no último Festival 5 Minutos. Há certa melancolia na atmosfera do filme, só que aqui não há uma trilha sonora que case tão bem com as imagens, como no caso de My Way. Destaque para algumas tomadas de câmeras bem interessantes e que captam os elementos que dão título ao curta.
Bilhõõõõões de Árvores é um projeto bem simpático, mas sem força alguma para vencer um festival como este. O diretor, Frata Soares, constrói um texto politicamente correto sobre o meio ambiente, juntando-o com uma animação bem bacana, até. Porém, é um trabalho que parece ter sido produzido sob encomenda do governo, de edital, ou de alguma ONG. Não que isso seja desqualificativo. Mas o enfraquece.
Como Num Passe de Claves, de Emerson Dias, é um curta bastante ambicioso, que trabalha elementos históricos, sociais e políticos. Por isso, torna-se necessário certo conhecimento de história geral para um maior entendimento do curta, sobretudo na estética, que mescla as cores azuis e vermelhas. Há um jogo de simbolismos bem interessante e ao fim das contas é um trabalho que cumpre bem seu papel no festival. Um dos bons, e que se destaca por ousar mais que os demais do programa um.
A Mudança, de Åsa Malmström é um trabalho bastante emblemático. Sua temática (relação do/a diretor/a com sua avó) foi muito utilizada (no universo dos curtas-metragens) ano passado, inclusive o próprio festival elegeu Miragem, de Tomás Von der Osten, como o melhor vídeo da edição passada. Há ainda Oma, de Michael Wahrmann, trabalho com muitas similaridades ao de Åsa. Mesmo sem ter sido afetado pela originalidade do tema, devo mencionar que é um projeto bem produzido e que consegue captar bons momentos.
Filme para Ganhar Festival, de Fabiano Passos e Uelter R, foi um dos mais aplaudidos filmes da sessão. Isso se deve em grande parte ao trabalho estratégico e até meticuloso dos diretores/roteiristas no desenvolvimento da narrativa. Apesar se não oferecer originalidade alguma, pois há Brasil afora muitos projetos que brincam com esta temática, o filme possui uma dinâmica das mais bacanas, e o trabalho de montagem conseguiu deixar o resultado final bem aprazível, tornando-se compreensível a reação do público ao fim da exibição. Divertido e inteligente, provavelmente o melhor roteiro da noite. Mas não votaria como melhor curta-metragem do festival, mesmo sabendo que há grandes chances dele levar (ao menos o do Júri Popular).
Em Poema para Nina, de Alan Minas, há um trabalho muito bem feito de fotografia, que capta a atmosfera do texto falado em of. Como a própria sinopse do projeto diz: é um poema visual. Interessante até. O Mapa da Minha Casa (Cassio Neves) peca por valorizar demais a música em detrimento da história contada. É um vídeo-clipe que tenta contar uma história (interessante, por sinal), mas que sempre deixa a música falar mais alto. Faltou pouco para ele ser considerado um belíssimo curta-metragem. Ismalia, de Valdíria Souza, proporciona um bom trabalho de atuação, que consegue transmitir veracidade, certa aflição e tristeza também. Trabalho bem teatral e interessante de se assistir.
A Arte do Retrato. Luiz Mauro Vasconcellos, de Elisa Cabral, apresenta um dos mais plásticos trabalhos desta primeira noite. Seu curta-metragem viaja na magia da arte de fotografar e adentra no universo com beleza e criatividade. Tecnicamente muito bem produzido, que merece estar no grupo de melhores da sessão. Cadadia + (Lucimar Bello) é um trabalho que talvez seja subestimado pelo público mais geral, por ser curto demais, até mesmo para o formato (01’51’’) e por não apresentar grande poder imagético. Mas para os mais atentos ele mostra-se como sendo muito bem engenhoso e criativo. Por fim, temos O Guarda, de Léo Bandeira. Trabalho simples, relativamente criativo e com enorme empatia com o espectador. Seu ponto forte reside justamente em seu desfecho, bem pontual, que consegue atrair risadas e aplausos do público. Merecedor de elogios.
Por hoje é só.