Crítica

Crítica: Robocop, de José Padilha

Robocop 2014

Assim que o mais recente filme do cineasta brasileiro José Padilha, Robocop, chega ao fim, a reação inicial que fica no espectador é aquela de imediata reflexão, de buscar alguma análise que responda a pergunta crucial que você se faz ao ver um filme: foi bom?

Se fizéssemos um trabalho minucioso de comparação com o projeto original, o mega clássico dos anos 1980, certamente o tom seria mais de frustração, já que o novo filme do cineasta que já dirigiu petardos como Tropa de Elite (1 e 2) e Ônibus 174 perde em quase todos os aspectos (exceto claro, os efeitos especiais, bem mais elaborados que o original).

Mas a questão é que o filme não precisa necessariamente ser pensado como objeto de comparação com o original, até mesmo porque a ideia por trás do projeto do Padilha (e da produtora, obviamente) era justamente apresentar o filme a uma nova geração de consumidores de cinema. Neste aspecto Robocop se mostra uma produção bem acabada, muito bem produzida, proporcionando bom entretenimento, aliado com algumas questões sociais até mesmo relevantes, que novamente provam o talento de José Padilha como um bom e inteligente cineasta do Brasil no mundo.

Sobre a história, sabemos que no ano de 2028 a OmniCorp – líder mundial em tecnologia robótica – percebe uma chance de ouro para faturar bilhões de dólares, ao ver na cidade de Detroit (arrasada pelo crime), uma abertura para a entrada de um policial perfeito – um robô que pode limpar as ruas da cidade sem pôr em risco as vidas de policiais. O problema é que a ideia de um robô puxando o gatilho deixa muita gente preocupada. Assim, eles chegam a um meio-termo: depois que Alex Murphy (interpretado por Joel Kinnaman) – marido, pai e agente de polícia – é gravemente ferido, ele acorda no hospital e é transformado em robô, mas mantém ainda traços de humanidade.

Robocop 2014

Este policial é Robocop e é interpretado pelo ator Joel Kinnaman, que vem crescendo bastante em Hollywood, principalmente depois de co-protagonizar a interessante e bem criticada série The Killing. Ele contracena com nomes como Gary Oldman como o Dr. Dennett Norton (criador do robô policial); Michael Keaton como Raymond Sellars, presidente da OmniCorp; Abbie Cornish como Clara Murphy, a mulher de Alex Murphy, dentre outros.

Os aspectos do filme que funcionaram bem foram, em ordem: o trabalho de efeitos especiais (que pelo nosso contexto tecnológico atual é quase que uma obrigação), a reflexão contemporânea sobre segurança interna e externa (uma marca definitiva no cinema do brasileiro José Padilha) e a atuação de Joel Kinnaman, que se esforçou sobremaneira para entregar um Robocop que misturasse a objetividade de um robô com elementos humanos, como tristeza, melancolia, raiva… Neste sentido, o filme consegue fazer valer o ingresso.

O que deixou a desejar na atual versão, e sem aqui fazer comparação com o original, foi o esquema mecânico ao extremo, não do robô, mas do filme como um todo. Faltou um grau maior de tensão, faltou um drama mais bem construído e sentido pelo público, e faltou aquela adrenalina humana nas cenas de ação. Por mais que fossem bem filmadas, estava bastante racional, tiros e mais tiros, todos certeiros, proporcionando deste modo, por exemplo, a morte de um dos grandes vilões da história. Uma morte descartável e nem um pouco memorável.

A personalidade caricata do personagem de Samuel L. Jackson num primeiro momento trouxe curiosidade, sobretudo pelo fato de já sermos familiarizados com este tipo de apresentador (os Datenas e Geraldos da vida). Contudo, com o desenvolvimento da história, foi ficando tudo muito maçante e até mesmo irritante. Já a relação do policial robô com sua família, que deveria ser um dos centros desta nova história, se perde pela insignificância da mesma. Rapidamente a esposa e o filho são deslocados da trama principal, e só voltam no final, para uma das cenas menos empolgantes do filme, aquela do heliporto, no terraço do prédio.

Mas mesmo com seus altos e baixos, Robocop é uma interessante experiência, principalmente para a geração mais nova, que nunca teve a sorte ou a iniciativa de assistir a versão original, clássica e épica. José Padilha se mostra um cineasta em crescimento, e – o mais importante aqui – consegue passar ao mundo um estilo que já é seu e ninguém mais consegue tirar. Pegue todos os seus filmes (Ônibus 174, Tropa de Elite 1 e 2 e até mesmo Garapa) e os compare. Todos têm a mesma assinatura, a assinatura de um cineasta que não se interessa por projetos gratuitos. E Robocop – podemos chegar ao ponto de afirmar – não é um filme gratuito.

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