São Miguel das Missões, um exemplo de patrimônio histórico
Coluna de Luciano Chinda sobre Patrimônio e Sociedade; memória social, identidade cultural, patrimônios, coleções e muito mais
De início, um começo
Bem, antes de começar com conteúdos, ideias e discussões, acredito que seja melhor falar sobre a Memória, Patrimônio e Sociedade. Esta coluna tem como propósitos a apresentação de conceitos, a composição de compreensões semelhantes e também a dissemelhança de juízos discordantes, a análise das funções dos vários tipos de patrimônio (e suas particularidades), a apresentação de trabalhos que promovem a área, as possíveis entrevistas com profissionais de áreas afins e com membros da sociedade civil, e toda e qualquer atividade que possa colaborar para a compreensão da vida sociocultural e sua relação com o patrimonialismo.
Dentre os assuntos que serão abordados estão as concepções teóricas do Patrimônio, da Memória, da História, principalmente a história cultural e a intelectual, e da relação Sociedade-Cultura, também a trajetória histórica destes conceitos, suas significações e ressignificações. Ainda pretende-se nesta coluna expor a vida cotidiana da aplicação prática destes conceitos, para podermos entender como a teoria aplica-se à vida humana. Para isso, examinaremos os trabalhos desenvolvidos por iniciativas públicas e privadas na proteção do patrimônio, na manutenção da memória e na democratizaçãodesta cultura ainda vista muitas vezes como “de elite”.
Nossas considerações, querelas e debates podem partir de vários produtos, desde a literatura, como a proteção das obras de Machado de Assis como um ícone nacional, até o cinema e como este pode ilustrar embates políticos contrários ou favoráveis aos trabalhos com o Patrimônio. Também podemos dar vistas a fotografia, a música, as artes visuais, mas até aos ofícios e profissões, a alimentação, a indumentária ou ainda qualquer outra produção humana que nos possibilite o estudo da Memória.
Um dos pontos mais importantes para a didática dos textos é sabermos, desde já, que todas essas discussões têm uma grande e importante ancoragem em nossa vida contemporânea. Falar de museu não é falar de passado apenas, é falar sobre o que queremos ou não guardar do passado para nós e para o futuro. Entendermos os trâmites burocráticos do tombamento ou reconhecimento de um Patrimônio não é apenas para sabermos como funciona a máquina pública, mas é ainda pensar numa seleção, numa preservação e numa manutenção de um modo de ser, de viver ou de contar nossa própria vida. Nenhum Patrimônio tem fim em si. Todo Patrimônio tem fim na sociedade que representa, se tiver fim.
Outro instante de extremo interesse é sabermos da multidisciplinaridade ao se trabalhar o Patrimônio, a Memória e a Sociedade. Quem pode estudar isso tudo? O historiador? O arquiteto? O administrador? Ninguém? Todo mundo? As considerações sobre a preocupação com a manutenção do Patrimônio é de grandiosa importância. Em verdade, todos podem e devem se preocupar com esse tema social, mas também há quem não queira saber disso. Aqui almejo então tentar elucidar e ao mesmo tempo entender como o mundo deve proceder em situações com conflitos de direitos.
Por fim, acredito que me cabe agradecer ao Cabine Cultural, principalmente ao Fernando, pelo espaço de mostra e troca de estudos e conteúdos. Espero que tenhamos tempo, possibilidade e receptores para trabalharmos juntos pela constante construção da cultura nacional.
São José dos Pinhais, 25 de novembro de 2016.
Luciano Chinda.
Titulado em nível de graduação em Conservação e Restauro de Bens Culturais, graduado em História, especialista em Gestão, Preservação e Valorização de Patrimônios e Acervos e em Estudos em Memória, e mestre em Patrimônios, Acervos e Memória. Atualmente é Historiador e Conservador-Restaurador do Círculo de Estudos Bandeirantes, em Curitiba, entidade cultural agregada à PUCPR onde também ministra aulas e oficinas periódicas para graduandos em História