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Letras Irreverentes: Rejuvenescendo de trás pra frente

Coluna de Helena Prado sobre tudo que o universo pode oferecer; um espaço para contos, crônicas, textos, relatos…

Letras Irreverentes: Rejuvenescendo de trás pra frente

Aos cinquenta sua máquina começa a pegar no tranco. Precisa de constante recall. Você liga para uma máquina, uma gravação diz o menu, você tecla um número, compra o produto “rejuvenescer” e passa o ano inteiro no recall. Sem poder reclamar com quem te vendeu o produto, repito, o “rejuvenescer”, você fica feito doida ligando para a tal empresa que te dá uma canseira, como todas as prestadoras de serviço desta pátria amada, Brasil!.

Outra máquina te atende e pede que você digite seu RG, seu CPF, o produto que deseja, ou, caso você já tenha efetuado a compra, o número de sua carteirinha. Tudo, segundo a gravação, para agilizar o atendimento.

E aí você ouve: se você quer comprar o “rejuvenescer”, tecle um. Tecle dois para a visita de um técnico, tecle três para reclamações, tecle quatro para adquirir o “melhor idade com aparência de meia-idade”, tecle cinco para voltar ao menu novamente, tecle seis para falar com uma das nossas atendentes…

Clooney

Entre você pegar o telefone e conseguir falar com a atendente, a linha cai diversas vezes. E você vai ficando alterada.

E danada.

Quando você passar por todos os departamentos da empresa e conseguir chegar ao atendente, ela ou ele pedirá que você anote o número de protocolo. E você, que não está com caneta nem papel na mão, ouve o seguinte: por gentileza, senhora, ligue outra vez …

Com vontade de passar uma faca na jugular da moça/moço, que ainda não te ajudou em nada, você persiste e recomeça do zero.

Sua voz estará alterada, e você tomada de ódio…

Mas as atendentes são gentis e dizem: um momento, por favor, porque já vou estar atendendo depois que a senhora estiver me passando seu código de assinante. Você pensa que acabou. Mas ela/ele agora diz: por favor, para que eu possa estar dando continuidade ao atendimento, vou estar precisando que a senhora vá estar digitando seu RG, seu CPF…

Tudo de novo, meu Deus!! E ainda por cima ou por baixo, gerundiando.

Existem verdadeiras senhoras que acham que suas máquinas estão ainda em bom estado de conservação. Mas, para que se mantenham assim, só precisam de academia, personal trainer, botox, lipoaspirações, cirurgias plásticas, personal diets e um lenço no pescoço, não pra enfeitar, mas pra disfarçar a papada que é cruel etc.

Helo Pinheiro

E é  fundamental mostrar-se. Como? Procurando frequentar lugares badalados, bailes, bares, restaurantes, exposições, sempre espichando a cabeça pra ver se tem alguém interessante. Enfim, depende de sua preferência ou QI.

O problema dessas máquinas é cuidar demais da lataria. Porque o motor, situado no pé esquerdo, está completamente avariado.

Este tipo de máquina adora se vestir como adolescente, nega a sua idade e sonha com um tipo de máquina masculina para chamar de sua. Tipo um Jaguar do ano, no máximo um pouco, ou muito mais jovem que ela, o sonho de todas dessa categoria, que não aceita o ano em que nasceu. Tem que ser muito rica. Porque a maldita da “melhor idade” sem grana é como estar de frente com o George Clooney mancando. Ele sai andando calmamente e vai se afastando, se afastando, e sumindo do campo de visão da “moça”, sem que ela consiga acompanhá-lo.  Você, queridinha, que está nessa, tire seu cavalinho da chuva, porque está fadada a ser transparente e a morrer na praia.

Mas não desanime. Se você estiver nessa fase da vida, pense na beleza da maturidade e no que você pode ensinar aos seus netos, que você obriga que te chamem de mãe. Tia também passa. Você conta até três,  antes de mandar àquela parte,  a amiga quinze anos mais jovem, que te deu um passa-moleque e ficou com seu paquera.

E outras situações, como posso dizer, gratificantes. Isso! Acertei.

Pense ainda que você pagará meia-entrada nos cinemas, em alguns espetáculos, nos ônibus que não param para você, porque é de graça… E, desculpe, mas você é velha.

Parágrafo: ficar pobre na “melhor idade”, e ainda ter que usar transporte público no Brasil, é de uma sacanagem inominável. Sobretudo se a cadeira reservada aos velhos estiver “preenchida” por um jovem que masca chiclete e que está com fones de ouvido.

Eu aprecio a “melhor idade” porque, apesar de tudo despencar, a gengiva levanta! É sensacional, não é?

Fico impressionada com as vantagens dos sessenta. Ficam todos mais sábios, mais tolerantes e mais bonitos de cabeça. Falando sério e a verdade, bela merda! Porque à cabeça tende a vir atrelada uma alopecia.

Não se esqueça que sendo meio entrada na melhor idade é melhor do que já estar entrada inteira na dita cuja.

Que cacete é ultrapassar os cinquenta!!

Aos 17 anos publicava minhas crônicas no extinto jornal Diário Popular. Foi assim e enquanto eu era redatora do extinto Banco Auxiliar, um porre! Depois me dediquei às filhas. Tenho duas, Paola e Isabella. Fiz comunicação social. Mas acho mesmo que sou autodidata. Meu nome é Helena e escreverei aqui aos domingos.

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