Música

Espetáculo “Deixa a dor por minha conta” revela a obra esquecida de Sidney Miller

Deixa a dor por minha conta – Foto Rafael Blasi

“Em uma madrugada de quarta-feira de cinzas, um folião entra num velho botequim sem qualquer perspectiva, desistindo da vida. Sem a folia, sua vida, real, mostra-se dura demais. Enquanto não amanhece, ele conta aos foliões sobre as suas questões, seu grande amor e sua própria vida”

Por Úrsula Neves

“Deixa a dor por minha conta” é um musical tipicamente brasileiro que revela o mais bem guardado segredo da MPB: Sidney Miller. Compositor de primeira linha da música brasileira, mas hoje relativamente esquecido, ele está sendo revisitado nesse espetáculo que, de modo não biográfico, apresenta a sua obra musical, e dá vida a personagens e imagens de suas canções.

Escrito pelo jornalista e pesquisador de música Hugo Sukman e pelo dramaturgo Marcos França, autor de vários musicais sobre compositores brasileiros como Mario Lago, Ary Barroso e Antônio Maria, “Deixa a dor por minha conta” é totalmente inspirado na música de Sidney Miller, e apresenta 27 de suas canções para o público brasileiro.

A vida do músico foi curta, de apenas 35 anos; sua carreira acidentada, que gerou apenas quatro LPs; talvez expliquem seu relativo esquecimento. Autor de inúmeros sucessos como “O circo”, que abriu a novela da Rede Globo “À sombra dos laranjais”, ou “A estrada e o violeiro”, melhor letra do mais importante dos festivais, o da Record de 1967 – a qualidade, densidade e diversidade de sua obra, além de sua potencialidade dramática justificam seu urgente resgate.

Os personagens, os espaços de suas canções, estão presentes na história de José das Tantas, artista que na madrugada de uma terça de carnaval entra num botequim junto com outros foliões no utópico desejo que a festa de Momo não termine. No estabelecimento idealizado por Sidney em “Botequim N.1”, ele encontra outros personagens de sua obra: o amor de sua vida, Maria Joana; Antonieta, moça que lhe promete prazeres imediatos; o garçom amigo. Nessa noite que beira o realismo fantástico, acontece a grande transformação de um homem desiludido que não vê esperanças (Pois é, pra quê?), passando pelo encontro amoroso (“Menina da agulha), pela dor da perda (“Nós, os foliões”), para o homem que compreende que todo ano a festa se renova (“Pede passagem). Dessa forma, as canções de Sidney Miller vão ganhando novos sentidos e cotam a história da peça.

Com direção do próprio França e Direção Musical de Luís Filipe de Lima, responsável por sucessos como “Sassaricando” e “Bilac vê estrelas”, “Deixa a dor por minha conta” tem como objetivo reapresentar a obra deste grande compositor, num espetáculo não-biográfico inédito, que traz no elenco atores cantores com vasta experiência no teatro musical: Ivan Vellame (Bossa Nova; Lapinha) vive o violeiro José das Tantas; Lu Vieira (Gonzagão, a lenda) é Maria – a musa inspiradora; Clara Santhana (Deixa Clarear) dá voz a Antonieta, a mulher da noite; além de Gustavo Ottoni como Frederico, o garçom filósofo onisciente. Além dos quatro atores/cantores, a peça conta com a participação dos jovens atores Sophia Dornellas, Rômulo Weber, Júlia de Aquino e Hamilton Dias.

Sinopse
Em uma madrugada de quarta-feira de cinzas, um folião entra num velho botequim sem qualquer perspectiva, desistindo da vida. Sem a folia, sua vida, real, mostra-se dura demais. Enquanto não amanhece, ele conta aos foliões sobre as suas questões, seu grande amor e sua própria vida.

Ficha técnica
Texto Original: Hugo Sukman e Marcos França Direção artística: Marcos França Direção Musical e Arranjos: Luís Filipe de Lima Idealização: Hugo Sukman e Marcos França Elenco: Ivan Vellame, Lu Vieira, Clara Santhana, Gustavo Ottoni, Sophia Dornellas, Rômulo Weber, Júlia de Aquino e Hamilton Dias. Coreografias e Direção de Movimento: Priscila Vidca Direção Vocal: Pedro Lima Iluminação: Luiz Paulo Nenén Direção de arte: Jackson Tinoco e Bruno Perlatto Fotos: Rafael Blasi

Direção de produção: Ana Paula Abreu e Renata Blasi

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