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Um bom psiquiatra também é louco

Coluna de Helena Prado sobre tudo que o universo pode oferecer; um espaço para contos, crônicas, textos, relatos…

Psiquiatra

Um bom psiquiatra é aquele que acerta as suas loucuras e te medica pra tranquilizá-la. E consegue, o mais importante. O melhor psiquiatra é aquele que torna suas loucuras engraçadas. E que, junto com você, também ri delas. Mas pra isso você tem que ter bom humor. Por exemplo, se você for carrancudo e completamente de mal com a vida, não adianta nada tentar se tratar. Em suma, você é um pentelho ou uma chata. Além de louco ou louca.

Aliás, um psiquiatra, qualquer um, bom ou ruim, não muda sua personalidade. Só potencializa  ou atenua a sua loucura. Será? “Será”.

Um bom psiquiatra também é louco. Um louco habilitado a tratar loucos, mas louco. Até porque todo louco enxerga e saca logo outro louco.

Um bom e bem louco gosta de adivinhar o ponto fraco do psiquiatra. E seu tipo da loucura. Se é mansa, normal, ou furiosa. Se for furiosa, ele não presta. Mas você, maluco, não tem discernimento pra mudar de profissional. Um mau louco também gosta de cultivar sua loucura. Rega com carinho, como se sua maluquice fosse uma florzinha. Tem dó de si mesmo e aduba esse sentimento, sempre que pode ou quer, cortando-se ou arrancando cascas de feridas, porque é, antes de tudo, um masoquista. Também tem tesão por hospedar-se em hospitais, hospícios ou clínicas disfarçadas de spas.

Conheço vários tipos de loucos e os adoro. Os bem loucos, claro. Dos mal-humorados e carrancudos estou fora.

Psiquiatra

Eu sou bem louca. Bem e boa louca. Uma louca que quase acata tudo o que o psiquiatra manda. Quero dizer, ele não manda nada, apenas sugere. Se eu acho legal o que ele fala, pronto! Ponho em prática na hora. Quer dizer, às vezes, não dá para pôr em prática na hora. Se você que está lendo tem imaginação, endenderá por quê.

Mas se desconfio que a minha tara é melhor do que o tratamento, não sigo o que ele recomenda, e fica o dito pelo não dito. Importante é eu ficar feliz.

O melhor lugar pra gente rir é uma sala de espera de loucos. Dá de tudo: adolescentes idiotizados; coroas parvos;  ex-alcoólatras; alcoólatras; ex-drogados; mulheres carentes; esfuziantes; depressivas;  malucos falantes etc. Eu peguei um maluco falante na sala de espera do consultório do meu psiquiatra que quase me fez ir embora. Eu estava quieta na minha, tentando adicionar um amigo analfabeto no meu WhatsApp, e este maluco queria conversar. Ele me encheu tanto, mas tanto, que quase joguei meu smartphone na cara dele, que, muito íntimo, já me chamava pelo nome. Deve ter ficado puto porque não fiz a menor questão de saber o dele. Às tantas, parei o que estava fazendo e disse-lhe: fala, infeliz, o que você quer? Ele então se tocou e eu fiquei livre do “baby”, que deveria ter entre cinquenta e sessenta anos.

O tipo de louco que virou abstinente é um porre, com o devido trocadalho do carilho. O ex-alcoólatra passa a encher o saco de meio mundo para parar de beber. Este tipo de louco é igual ao Edir Macedo pregando na reunião dos 318 pastores. Sem o dízimo para o louco, claro. E por que 318 e não 297? Sei lá…

Existem loucas/loucos do meu tipo. Que gosto de chegar muito antecipada ao psiquiatra,  para tentar saber de todas as loucuras dos que estão sentados na sala de espera do consultório. E sentar na “minha cadeira” e ficar observando um por um. Divino é ficar de olho neles e “diagnosticá-los”.  Imagino todos os tipos de taras. É uma delícia!

O meu psiquiatra é bom e melhor. Por isso eu estou ótima, quase normal. Meu único problema é detestar ver alguém sentado na “minha cadeira”. De resto, sou normalíssima, e só vou ao psiquiatra por esporte.

Saúde!

Aos 17 anos publicava minhas crônicas no extinto jornal Diário Popular. Foi assim e enquanto eu era redatora do extinto Banco Auxiliar, um porre! Depois me dediquei às filhas. Tenho duas, Paola e Isabella. Fiz comunicação social. Mas acho mesmo que sou autodidata. Meu nome é Helena e escreverei aqui às quartas-feiras.

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