Primeiro episódio da série trata da dependência que o escritor Ruy Castro teve com o álcool; projeto tem direção apurada do renomado diretor João Jardim
Por Luis Fernando Pereira
A mais nova série exibida pelo canal fechado GNT é de uma sensibilidade que salta os olhos; Compulsão, que busca documentar os diversos tipos de dependências, como drogas, álcool, psicotrópicos, remédios para dormir ou para emagrecer, só seria realmente bem sucedida caso fosse dirigida por alguém com sensibilidade aguçada.
Por sorte a produção do projeto encontrou a pessoa certa. João Jardim, que já esteve envolvido com alguns dos mais tocantes e sensíveis filmes, como “Janela da Alma” e “Lixo Extraordinário”, se mostrou o nome perfeito para fazer esta ponte entre a gravação dos casos e a produção de um material para o espectador assistir.
O resultado, que os assinantes do GNT já podem ver desde o último dia 08 de março, é uma série de dez episódios que trata das mais diversas dependências, contando as mais plurais histórias, e, ao menos tomando o primeiro caso como referência, todos terão em comum uma mais que aparente honestidade para tratar dos temas.
Compulsão – Crédito: Divulgação GNT
Primeiro episódio
O primeiro episódio, por sinal, já mostra o porquê desta estreia do canal ser uma das mais relevantes desta leva de novas atrações do GNT. Conhecido por biografar figuras como Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, o escritor e jornalista Ruy Castro se despiu completamente e contou a sua história de relação com o álcool.
Ruy, que parou de beber há 27 anos, ainda tem bem guardado na memória os vinte anos que passou dependente do álcool. Ele diz,
“Eu já não podia nem mais sair de casa até o momento em que já estava com o próximo copo na mão, mesmo que fosse 20 minutos já era demais. Eu pedi demissão e durante todo o ano de 1987 eu bebi exatamente tudo que faltava beber e vomitei sangue”
Foi neste exato instante que o escritor resolveu pedir ajuda.
João Jardim
João tem o total mérito de conseguir extrair o máximo de seus entrevistados. Seu talento é gigantesco e agora que não temos mais entre nós o eterno Eduardo Coutinho, ele acaba sendo o grande referencial na arte de documentar uma história, seja para o cinema, seja para a televisão.
O modo como a entrevista, ou melhor, a conversa franca, com Ruy Castro, é desenvolvida, externa o ar de sinceridade que a série impõe. Não é necessário que se olhe para a câmera, que se fale alguma frase de efeito, ou que o diretor se utilize de alguma técnica narrativa já roteirizada.
Tudo soa natural; os depoimentos, fortes e tocantes, soam verdadeiros.
Compulsão tem como grande objetivo falar abertamente sobre temas que pouco se fala na televisão (e que quando é tocado, é conduzido de forma apressada ou superficial). São poucos os trabalhos que de fato trazem um conteúdo relevante e a série exibida pelo GNT sem dúvida alguma entra para este grupo de projetos necessários.
Assim, a série do GNT se apresenta como um oportuno documento social e que funciona muito bem como série de televisão. Não é de difícil assimilação, não é maçante e, sobretudo, é extremamente relevante.
A série vai ao ar às terças-feiras, sempre às 23h30 no GNT.
Uma grande dica.