Roger Waters em Salvador – Foto de Luis Fernando Pereira
Roger Waters: Apresentação histórica do eterno membro do Pink Floyd agradou fãs de todas as idades e levou para a Arena Fonte Nova uma atmosfera política e musical bem única
Nesta mesma época em 2017 a cidade de Salvador estava em êxtase com o show do beatle Paul McCartney na Arena Fonte Nova. A apresentação de Paul foi intensa, emocionante e muito pessoal, proporcionando choros de fãs que lotaram o estádio na época.
Um ano após Paul, estamos diante de mais uma experiência única, desta vez com o eterno Pink Floyd Roger Waters.
Se comparado com a apresentação do ano passado, muitas diferenças se impõem: uma Fonte Nova um pouco menos cheia, porém uma atmosfera muito mais intensa, por conta sobretudo do espírito desta turnê de Waters, Us + Them. Esta vibe mais política tinha tudo para levar um público mais acalorado para a Fonte Nova, mas o clima esquentou ainda mais por conta dos shows de São Paulo e Brasília, que foram marcados por aplausos e vaias do público (o caso #elenão). Muitos achavam uma incoerência alguém vaiar Roger Waters sabendo exatamente o que ele vem pregando em sua turnê, em seus álbuns, em sua vida. Mas enfim… em Salvador isso não ocorreu.
E não ocorreu porque o público soteropolitano que foi ver Roger Waters já tinha vestido a camisa do #EleNão, e por isso o clima que poderia ficar tenso, ficou ainda mais intenso. Foi muito bonito de ver, mesmo que você não tenha uma relação tão estreita assim com política partidária.
O show
Estávamos a pouco mais de 21 horas quando o telão, um primoroso telão que lembra bastante o usado pelo U2 na sua tour de 30 anos de Joshua Tree, começou a mostrar imagens de algo que soa um tanto apocalíptico, mas sobretudo político. Não dá para negar: Us + Them exala política de todos os seus poros e de todas as formas, seja com exemplos práticos e diretos, seja com elementos mais simbólicos e humanos.
Roger Waters em Salvador – Foto de Luis Fernando Pereira
Se o público de Roger Waters era bem menor que o do show de Paul (os números mostram 54 mil ano passado e pouco mais de 30 mil este ano) em contrapartida a catarse em torno das músicas mais famosas do Pink Floyd era bem superior as da de Paul. Desde Breathe, passando por Time, e chegando às épicas Wish You Were Here, Another Brick in The Wall e Money, a recepção dos fãs foi algo de tão épico quanto às músicas.
Com músicas emblemáticas suficientes para instigar o público, Roger Waters decidiu nesta turnê (e em boa parte dos seus projetos), subir o nível em termos de produção de evento, e criou um espetáculo visual que só não dizemos que é sem precedente porque o já citado U2 já conseguiu criar experiências semelhantes.
Estávamos diante de um mega telão que pouco mostrava ele, ou a sua majestosa banda. O telão era o elo que ligava Roger com a suas músicas, as suas mensagens, e com o ativismo que ele busca incessantemente incitar nas pessoas. Cada imagem posta no telão tem significados, e esses vão se intensificando a medida que o show segue. Em momentos como a histórica Another Brick in The Wall e a maravilhosa e provocativa Pigs, o espetáculo visual tomou conta de um jeito da Arena Fonte Nova que fica até difícil descrever.
Em Pigs, canção que busca representar nesta turnê o presidente americano Donald Trump, o público acaba vivenciando um dos momentos mais marcantes deste show, e da cultura pop nessas últimas décadas, que é a visão de um porco gigante atravessando o palco com os dizeres “seja mais humano”.
Roger Waters Us + Them
Sem Bolsonaro
Roger Waters, que no primeiro show citou o candidato a presidente Bolsonaro, e que por isso foi, além de aplaudido, vaiado, desta vez resolveu continuar alertando os fãs de que o seu ponto de vista estava sendo censurado. Mas cá entre nós, a mensagem estava dada de qualquer jeito.
Pontos altos
O fato da apresentação de Roger Waters ter sido um tanto menos chamativa que a de Paul, acabou que ajudando a produção a não ter grandes problemas de logística, horários, ou coisas similares. Aparentemente tudo correu muito bem, e a Arena Fonte Nova parecia viver um dia anormal, mas não infernal. A espera para o show começar foi longa, principalmente para quem decidiu entrar na Arena logo quando os portões abriram, às 17h.
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Paul McCartney em Salvador
Esse tipo de espera não acontece em muitas turnês de nomes gigantes, como U2, Coldplay, e outros, que trazem outras bandas e artistas para abrirem seus shows. Roger Waters, e nem Paul, são adeptos desta ideia, e por isso o jeito foi mesmo esperar em pé ou sentado sem fazer nada.
Público
Apesar de não ter tido aquele mesmo burburinho que o show de Paul teve, o público na Arena não chegou a ser decepcionante. Evidente que uma apresentação como esta merecia lotação máxima, e todos que moram em Salvador vão torcer para que questões como esta não prejudique a cidade no futuro, quando novas grandes turnês vierem ao país. É muito importante, para toda a cidade e região, que Salvador se consolide no mapa de cultura pop mundial.
Roger Waters Us + Them
Projeto Axé
O momento mais marcante do show, e um dos momentos mais simbólicos do ano, foi a participação dos meninos do projeto Axé na principal canção de Roger Waters, Another Brick in The Wall. Desde os primeiro acordes, foi tudo muito histórico, e os meninos conseguiram emocionar a todos se colocando como resistências a tudo que pode estar por vir. A mensagem foi passada.
Uma experiência visual. Política. Musical. E histórica.