Jardim Fechado – Divulgação
“Jardim Fechado é uma experiência literária que tem o seu lugar no mesmo hall de um bom charuto, um bom whisky ou cachaça de alambique. Não é para ser devorado com a pressa moderna que nos açoita, mas para ser degustado com calma, ao poucos, sentindo a densidade de cada estrofe, o peso de cada linha. É um mergulho, lento e gradual, na competência de uma finalista do concorrido Prêmio Jabuti.”
“ (…) Aqui ficarei deitada, O rosto para o norteComo máscara mortuária
E de meus dedos brotarão flores tenras,
Algas de limo viçoso
Que subirão pelas paredes”
É com a estrofe acima que Raquel Naveira, 58, poetiza e escritora sul-mato-grossense, termina “Pirâmide”, um dos muitos poemas que compõem a sua última obra: “Jardim Fechado, uma antologia poética (2015)”.
Reunindo um extenso acervo de produções poéticas, Jardim Fechado condensa 15 obras lançadas por Naveira ao longo dos últimos 27 anos, partindo da sua primeira empreitada, Via Sacra (1989), até esta nova antologia que conta com poemas inéditos.
Lançando mão de um amplo leque de inspirações, que vão da Guerra do Paraguai a Guerra do Contestado, passando pela invasão espanhola do México e pela imigração árabe e armênia no Brasil, Naveira demonstra a sua robusta bagagem de mundo, mas não sem antes evidenciar a forte influência de suas raízes territoriais. Em um bom número de poemas é possível enxergar alguma nuance do Mato Grosso do Sul. Hora no linguajar típico da região, hora na descrição geográfica, hora em traços culturais, hora nas características da sua rica natureza. Quem já é “de casa” certamente sente-se à vontade ao percorrer as linhas de Naveira. É um ambiente íntimo. Quem não é fica com uma sensação desejosa de conhecer melhor o que o centro do Brasil tem a oferecer.
Dura e seca, leve e singularmente aprazível, são estes paradoxais traços que formam a leitura de Jardim Fechado. Não espere encontrar uma regularidade de estilo ou forma, Naveira passeia com naturalidade por técnicas distintas e faz da escrita um exercício de experimentação, sem abrir mão, no entanto, do rigor ortográfico. Tal variação funciona muito bem em Jardim Fechado, levando-se em conta as quase 500 páginas da obra, o que contribui para que o leitor não tenha uma experiência monótona e enfadonha.
Jardim Fechado é uma experiência literária que tem o seu lugar no mesmo hall de um bom charuto, um bom whisky ou cachaça de alambique. Não é para ser devorado com a pressa moderna que nos açoita, mas para ser degustado com calma, ao poucos, sentindo a densidade de cada estrofe, o peso de cada linha. É um mergulho, lento e gradual, na competência de uma finalista do concorrido Prêmio Jabuti.
Livro: Jardim Fechado, Uma Antologia Poética
Autor (a): Raquel Naveira
Editora: Vidráguas
Ano: 2015
Páginas: 438
Preço: R$ 40,00
Avaliação do Cabine Cultural: 8,5
Pedro Del Mar baiano, 25 anos, repórter e colunista. Um curioso nato que procura enxergar o mundo sem as velhas e arranhadas lentes do estabilshment. Acredita que para todo padrão comportamental há interessantes exceções que podem render boas histórias.