Literatura

Resumindo o Seminário de crítica de artes

Arte Contemporânea no Acervo UFG

Semana passada aconteceu em Salvador o Seminário de Crítica de Artes, evento promovido pela FUNCEB – Fundação Cultural do Estado da Bahia – e que faz parte do Programa de Incentivo à Crítica de Artes. Durante 5 dias (19 -23/09) a crítica cultural foi o mote principal de uma série de boas discussões, e aqui farei algumas considerações, umas gerais, outras pontuais.

Na segunda-feira, o professor da Universidade Federal da Bahia, Antonio Marcos Pereira, iniciou os trabalhos produzindo uma linha do tempo e nela inserindo ideias sobre o desenvolvimento da crítica cultural, literária, mais especificamente, no Brasil. Seu ponto de partida foi a Semana de 1922. Ele até que delimitou bem sua fala e pontuou bem as diferentes perspectivas de crítica, especialmente na relação entre os chamados críticos de rodapé (os que descreviam no texto o modo como eram tocados pela obra) e os acadêmicos, que produziam um trabalho mais objetivo, por assim dizer. Nomes como Afrânio Coutinho e Antonio Cândido foram destacados como referências para o entendimento da crítica no Brasil. O ponto negativo deste dia se deu pela falta de uma maior empatia do palestrante com o público presente, além de uma melhor construção didática na exposição, resultados provavelmente de uma inexperiência do professor com este tipo de evento. Ao fim, ficou aquela sensação de que para o primeiro dia foi bom, mas poderia ter sido muito mais produtivo.

O dia seguinte foi marcado pela apresentação do multifacetado José Miguel Wisnik, um dos grandes e mais relevantes nomes da crítica cultural no Brasil. Com o dom da simpatia no trato com o público, Zé Miguel discorreu bastante sobre os trabalhos de Mário de Andrade e Chico Buarque. Sobre este último, ele se declarou um grande admirador, e não somente de seu trabalho como cantor e compositor, mas também de sua obra como escritor, realizando um breve, mas feliz diálogo entre o Chico que canta lindas canções e o Chico que escreve belos romances. Caetano Veloso também foi usado para exemplificar esta interdisciplinaridade no ato de escrever textos críticos/opinativos, podendo sair das mãos de um escritor propriamente dito ou saindo das mãos de um cantor, ator…

Após dois dias de eventos, ainda não estava bem claro para o público presente as reais dificuldades e obstáculos do fazer crítica no Brasil, cabendo tão somente uma pequena reflexão sobre o crescimento desenfreado do espaço para apresentações de textos, principalmente com o advindo da Internet e posteriormente, de blogs e redes sociais, que ofereciam e oferecem para qualquer pessoa o ambiente necessário para a prática da escrita crítica.

A partir de então realizou-se discussões sobre as mais variadas perspectivas de críticas produzidas na Bahia, sendo as mais reconhecidas (literatura, música, artes visuais, dança e teatro) alvo dos debates. Nomes como Milena Britto, Chico Castro Jr, Alejandra Muñoz, Duto Santana e Gideon Rosa foram os respectivos responsáveis pelas apresentações. Como representante da perspectiva cinematográfica, o jornalista Adalberto Meireles tentou desde o início de sua explanação nos oferecer um quadro histórico bem definido, começando com os primeiros filmes produzidos na Bahia (Redenção e Bahia de Todos os Santos), até chegar na crítica mais atual, representada por nomes como André Setaro e João Carlos Sampaio. O problema é que um aparente nervosismo do palestrante prejudicou, e muito, sua fala, chegando a momentos de notório constrangimento por parte do público e fazendo com que uma temática que se delineava bem interessante fosse jogada fora.

Cabia assim ao jornalista, crítico e editor do site Contracampo (um dos mais interessantes de cinema no Brasil) Ruy Gardnier, compensar a trágica apresentação passada. Ele foi o escolhido para encerrar o Seminário, oferecendo para todos uma oficina prática de crítica, mais especificamente, cinematográfica.

Logo de início, Ruy apresentou-nos sua visão sobre o escrever crítica, dando uma valoração bem acentuada à ideia de intuição. Quanto mais intuitivo um texto sobre cinema for, melhor ele poderá ficar. Neste sentido, o olhar do crítico de cinema acaba por aproximar-se bastante do olhar do que chama-se corriqueiramente de espectador comum. Evidente que não basta tão somente uma visão sensível, necessita-se de uma razoável bagagem teórica e técnica, até mesmo para que o crítico seja legitimado como tal pelos seus colegas de profissão. Segundo ele, um texto crítico deve, em um primeiro momento, informar, apresentar e contextualizar a obra, para depois analisar e destrinchar a mesma, agregando valores ao trabalho.

Com alguns problemas de interação com o público (acabou sendo bem recorrente no evento), a oficina de Ruy Gardnier acabou ficando bem aquém do esperado, mas ainda assim foi de bastante utilidade para todos os que estavam presentes na sala Walter da Silveira, bem como em suas casas, já que todo o Seminário de Crítica de Artes foi transmitido ao vivo através da Internet.

Por fim, só me resta parabenizar todos os envolvidos na produção, especialmente a FUNCEB, realizadora do evento. Que venham outros ainda este ano, pois ficou claro de que há um público que se mostra faminto por boas discussões sobre o fazer crítica cultural na Bahia.

*Imagens retiradas no Google.

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