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Bolsonaro e Redes Sociais: por que dar unfollow nos divergentes?

Coluna de Pedro Del Mar sobre política, educação, cultura e muitos outros assuntos

Por que dar unfollow nos divergentes?

Nos últimos dias, especialmente após a votação sobre o impeachment da Presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados no último dia 17/04, eclodiu nas redes sociais uma série de campanhas onde os usuários solicitam aos seus contatos que curtem/seguem os perfis do Deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ) que os excluam de suas redes. Justificam afirmando que não há a menor possibilidade de conviver, nem na esfera virtual, com quem defende e compactua com as ideias do deputado paulista radicado no Rio.

Embora eu não nutra absolutamente nenhuma simpatia pelo deputado e seu modo de ver o mundo, e repudie a grande maioria das suas lamentáveis declarações, não vejo estes atos de forma positiva. Para mim, tal “campanha” só evidencia a já gritante incapacidade que temos em dialogar e conviver com o pensamento divergente. Se é bem verdade que ninguém é obrigado a aturar em seus feeds, e em suas vidas, pessoas com discursos tão arcaicos e autoritários, e que temos a liberdade de escolher quem fará parte de nossos círculos de contatos e amizades, também é verdade que caminhamos a passos largos em direção a uma preocupante bolha onde só entra quem concorda conosco e compartilha das mesmas visões e valores.

Este tipo de campanha não é novidade. Recentemente, grupos favoráveis ao impeachment fizeram exatamente a mesma coisa, desta vez destinada aos seguidores de Jean Wyllys, Lula, Jandira Feghali e outras figuras de destaque na política nacional que são contrárias ao impeachment. Em 2014, os alvos foram os seguidores do então candidato a presidência e atual Senador da República, Aécio Neves (PSDB/MG)

Bolsonaro e Jean Wyllys na votação no domingo passado, 17 de abril

Fico imaginando, e ponho-me em autorreflexão para policiar-me quanto a isto, o quão enfadonho deva ser um círculo social constituído somente por indivíduos rigorosamente iguais: mesma ideologia, mesmas opiniões, mesmos valores, mesmas condutas, mesmos objetivos. Aliás, é sobre essa massificação e uniformização de condutas e pensamentos que recaem as principais queixas acerca dos regimes totalitários. Hoje, sem nos darmos conta e sob a égide de um regime democrático, muitos de nós caminham espontaneamente para essa mesma padronização e “guetificação”.

É claro que ainda se faz imperativo denunciar e se opor a discursos e práticas criminosas como tantas que são proferidas por Bolsonaro e cia. Convivência não é sinônimo de cumplicidade. Mas é sempre bom lembrar que estamos falando de estratos e disputas políticas. Política esta que Aristóteles definiu como a atividade que visa conciliar os diferentes interesses típicos da diversidade humana dentro de uma unidade.

Ainda, como nos lembra o cientista político Diogo Tourino em recente artigo para a Revista Escuta (veja aqui; http://migre.me/tyLBA), para Aristóteles “a política não é uma atividade divina, visto que os deuses não fazem política. Isso porque, a necessidade de OUVIR OS OUTROS, ausente na perfeição, seria a marca distintiva do agir humano em sociedade.” Ou seja, quando recusamos e eliminamos de nossas vidas as formas diversas de pensar e agir, nos distanciamos da política em seu sentido clássico. E fora da política, meus caros, só temos a barbárie e o caos.

Pedro Carvalho (Del Mar) é graduando em Direito e em Ciências Sociais. Desde a adolescência participou ativamente de movimentos estudantis e sociais na Bahia e em Minas Gerais. À margem destas atividades, mas não menos importante, cultiva o hábito da escrita, sempre atento ao que acontece na política, sociedade, comportamento, educação, cultura e entretenimento no Brasil e no mundo.

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