Literatura

Entrevista com a ex-dançarina Anna Nagamitsu

Com Chrystian e Ralf

“Hoje o Brasil vive o seu pior momento. Escândalos e mais escândalos. Roubalheira sem limite, sendo a maioria dos larápios do PT. (…) A Dilma não tem competência para tirar o País do buraco…” (A. N.)

Por Elenilson Nascimento

Assim como o Chacrinha, Edson Cury, o Bolinha, também tinha suas dançarinas e ajudantes de palco – obviamente chamadas de “boletes”. E, apesar de não terem se tornado tão famosas quanto as chacretes, as boletes (o elenco também era composto por algumas ex-chacretes) também faziam muito sucesso entre o público masculino e marcaram uma época. Bolinha começou na TV Excelsior por acaso. Antes de participar de algumas transmissões televisivas, foi feirante, engraxate e balconista.

Diz a lenda que, depois de um desentendimento sério do Chacrinha com os diretores da Excelsior, foi convocado as pressas para substituir o Velho Guerreiro e para a surpresa de todos conquistou mais audiência que seu antecessor. Uma das atrações do “Clube do Bolinha” era o quadro “Eles e Elas”, no qual transformistas e travestis apresentavam-se. Contudo, os mais variados artistas tais como Leandro & Leonardo, Fábio Jr. e Arnaldo Antunes voltaram ao programa já famosos para agradecer o apoio no início de suas carreiras.

Um fato dos mais marcantes em toda a trajetória do apresentador – fato o qual ele mesmo sempre ressaltava em pessoa – foi sobre o cantor Paulo Sérgio. No dia 27 de julho de 1980, Paulo Sérgio fez no Clube aquela que seria a sua última apresentação na televisão. Horas após deixar os estúdios da TV Bandeirantes em São Paulo, o cantor sofreria um derrame cerebral e viria a falecer no dia 29 de julho.

Agora, temos a honra de entrevistar uma das ajudantes de palco do Bolinha, a linda e eterna bolete Anna Nagamitsu, que depois do término do programa foi morar no Japão (*confira aqui ela mostrando um pouco do País que abraçou), casou, constituiu família e se formou em Letras. O Clube do Bolinha ficou no ar durante 20 anos na TV Bandeirantes entre 1974 e 1994 e o qual alcançou 8 pontos de audiência – então, um dos programas-líderes da emissora em audiência.

Elenilson – Como a oportunidade de trabalhar com Édson Cury, o Bolinha, chegou até você?

Anna Nagamitsu – Eu fui apresentada ao Bolinha pela ex-chacrete Índia Amazonense. Na época eu tinha ido fazer um teste no Chacrinha e dancei alguns programas, mas desisti porque eu morava em Guarujá, na Baixada Santista, e era muito trabalhoso, além de não compensava financeiramente ir toda semana para o Rio de Janeiro.

Elenilson – Na época, você teve apoio da sua família?

Anna Nagamitsu

Anna Nagamitsu – Eu só tive apoio da minha mãe. Meu pai e meus irmãos achavam que dançar em programas de televisão, onde as meninas eram expostas com roupas sumárias, não era para uma garota de família. E também porque eu não tinha 18 anos completos.

Elenilson – Que tipo de preconceitos você sofreu?

Anna Nagamitsu – Nunca sofri preconceitos.

Elenilson – Como foi para uma jovem linda lidar com o deslumbre da fama e da cidade grande?

Anna Nagamitsu – Eu sempre fui muito pé no chão, e por gostar de dançar, nunca me importei muito isso.

Elenilson – O que a fama lhe proporcionou de melhor e pior?

Anna Nagamitsu – Eu não cheguei a ser tão famosa assim. Mas isso me ajudou a ter contatos, a conhecer outras pessoas.

Elenilson – Como rolava o assédio?

Anna Nagamitsu – O assédio sempre rolava, mas nunca em demasia.

Elenilson – Muitas ex-chacretes afirmam que Chacrinha era como um pai para elas. E com o Bolinha, como era a relação dele com as dançarinas? Ele era protetor, ditador, ou tudo isso é mito?

Anna Nagamitsu – O Bolinha era muito cuidadoso com suas boletes. Ele era muito exigente quando começava a gravação. E quando via alguma coisa fora do lugar, como a movimentação dos câmeras, isso sim o tirava do sério. Fora isso ele era muito engraçado e bem humorado.

Elenilson – Como era sua relação com ele?

Anna Nagamitsu – Maravilhosa. Aliás ele era muito brincalhão comigo. Ria das minhas conversas.

Elenilson – Logo que o Bolinha morreu, você e as outras dançarinas receberam convites para trabalhar em outros programas?

Anna Nagamitsu – Eu já estava morando no Japão quando ele morreu. Na época, eu tinha recebido um convite para ir trabalhar no Japão e confesso que não hesitei em escolher. Em dezembro de 1987 eu me despedi do programa do Bolinha porque dentro de mim eu sabia que não teria mais volta.

Elenilson – Depois que a rotina de bolete acabou, que rumos sua vida tomou?

Anna Nagamitsu – Como eu disse anteriormente, a minha última apresentação no Bolinha foi em dezembro de 1987 e dois meses depois já estava embarcando para o Japão. Aqui, sim, fiz uma carreira promissora, mas como sei que vida de bailarina tem fim, resolvi investir no meu futuro e ingressei em uma universidade aqui no Japão. Casei e tenho dois filhos adolescentes. Sou formada em Letras e contínuo estudando, e estou terminando minha pós-graduação em Tradução Interprete. E posso dizer que não me arrependo de ter deixado a minha vida de bolete para trás.

Elenilson – O que você acha dessas ex-chacretes que, como você, também foram símbolos sexuais, mas ao contrário de você, preferem ficar indo na mídia para chorar pitangas?

Anna Nagamitsu

Anna Nagamitsu – Quem sou eu para julgar alguém por isso. Mas seria hipocrisia da minha parte dizer que achei legal alguma delas usar a mídia para se expor dessa maneira. Se queriam Ibope tiveram. As pessoas assistem e generalizam todas as bailarinas achando que todas são iguais… Cada caso um caso.

Elenilson – Algumas ex-chacretes ficaram revoltadas com a novela “Amor à Vida” (Globo) por causa da personagem da Elizabeth Savala. Alguns dos aspectos abordados na trama te incomodou também?

Anna Nagamitsu – Olha, eu me senti incomodada porque a personagem era uma ex-chacrete e como tal tinha todos os defeitos e não é bem por aí. Manchou um pouco a imagem das ex-chacretes. Chacrete virou sinônimo de prostituta.

Elenilson – Em entrevistas, algumas ex-chacrete afirmaram que Rita Cadillac prejudicou a “moral” das chacretes. Como você encara isso?

Anna Nagamitsu – Isso é besteira. Rita Cadillac é só “fachada”, faz o tipo mulher desbocada e sem pudor, mas na vida real ela é uma pessoa totalmente careta, cujo único defeito, se é que posso chamar isso de defeito, é ser SINCERA. Só quem conhece a Rita na intimidade sabe o quanto ela era uma guerreira e batalhadora. Creio que é intriga das que não se deram bem na vida.

Elenilson – Você já foi convidada para pousar numa ou fazer filmes eróticos? Toparia?

Anna Nagamitsu – Já fui convidada sim. E jamais faria fotos nua por questão de princípios. Não ficaria em paz comigo em ver fotos minhas fotos espalhadas para quem quiser ver. Em respeito até pelo meu pai e meus irmãos. Filmes eróticos? Nem pensar… não tenho talento para isso.

Elenilson – É um eterno debate entre os escritores que não querem compromisso e os que querem mudar as coisas através da literatura, essa coisa de literatura combativa, que é uma ideia velha… Na Europa, por exemplo, muita gente diz que ser combativo na literatura é uma ideia ultrapassada… O que falta no Brasil para que a cultura seja realmente respeitada?

Anna Nagamitsu – Educação. Essa é a única maneira de produzir adultos saudáveis e de caráter, pessoas que levarão vidas altruístas e significativas. A educação não consiste apenas em aprender os ofícios necessários para o sustento; é aprender como entender a vida em si. Educação é a base de um povo. Quanto a literatura combativa ser ultrapassada, creio que não. As pessoas têm o livre arbítrio de escrever o que pensam e se será aceita ou não, isso é outro assunto.

Elenilson – Você acha que arte pode mudar a vida das pessoas?

Anna Nagamitsu – Com certeza. Pessoas que se dedicam a uma arte se tornam pessoas melhores e mais conscientes com o seu papel na sociedade.

Elenilson – A direita teve que engolir o PT há muito tempo, teve que engolir uma mudança no rumo social do País. Mas o PT resolveu f… com tudo e roubar até o último centavo dos cofres públicos. E eles [a direita] estão putos por não terem feito isso antes. Você vê isso também? Como você encara esse governo da Dilma/Lula num País cada vez mais intolerante e dividido?

Anna Nagamitsu – Eu não sou filiada a nenhum partido, mas sou declaradamente anti-PT. Eles levaram o povo na conversa e tudo que prometeram não cumpriram… Hoje o Brasil vive o seu pior momento. Escândalos e mais escândalos. Roubalheira sem limite, sendo a maioria dos larápios do PT. E não vejo com bons olhos porque a Dilma não tem competência para tirar o País do buraco e sim enterrá-lo cada vez mais. E eu nem quero entrar no mérito dessa questão porque o espaço é curto e eu prefiro nem falar o que realmente tenho vontade. O povo infelizmente acredita em contos da carochinha.

Elenilson – A periferia ficou órfã do PT. Alguma coisa preenche esse espaço que o PT vem deixando?

Anna Nagamitsu – O PT nunca preencheu espaço nenhum. O povo nunca teve pai. Tudo conversa para boi dormir. Eles estão no poder até hoje porque o povo não tem memória e troca votos por dentadura.

Elenilson – E o que você acha que a influência de igrejas dentro do Congresso? Isso é uma coisa boa ou má?

Anna Nagamitsu – Eu acho que a Igreja não deveria se meter em política. Cada um no seu quadrado.

Elenilson – Como você encara essa onda de preconceitos na internet e fora dela?

Anna Nagamitsu – Pré conceito por si só já é uma ignorância sem tamanho. E usar a internet para propagar o preconceito é tão nocivo quanto se drogar. E pessoas que se valem disso, são pessoas sem caráter, amoral e totalmente desprovidas de sentimento.

Elenilson – Olhar o Brasil hoje não dá um certo desânimo?

Anna Nagamitsu – Com toda certeza. Só de pensar que no Brasil você morre por nada, já desanima qualquer um.

Elenilson – O que você se arrepende de ter feito na sua vida?

Anna Nagamitsu – Geralmente não costumo me arrepender de nada do que faço e sim daquilo que deixei de fazer. E até o momento não me arrependo de nada.

Elenilson – O que de melhor lhe aconteceu?

Anna Nagamitsu – Creio que vir para o Japão foi a melhor coisa que me aconteceu, mas nada foi mais divino do que os nascimentos dos meus filhos…

Elenilson – Deixa uma mensagem para seus fãs…

Anna Nagamitsu – Se você tem um sonho, lute por ele com confiança que um dia se realiza. É só acreditar que as coisas acontecem.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina

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