Literatura

Entrevista com o juiz e escritor Luiz Roberto Mattos

Luiz Roberto Mattos

“Meditar é bom! Rezar também! Mas meditação e reza não colocam comida no prato de quem está com fome, não limpam as feridas, não matam a sede, não constroem casas e hospitais, não vacinam, etc.” (L.R.M)

Por Elenilson Nascimento

Há tempos ouvi (e ouvimos) falar que a ineficiência da Justiça brasileira está nas leis ultrapassadas, nos códigos sem ética, nos atos legislativos burocráticos, na falta de juízes comprometidos e de funcionários eficientes, enfim, está fora do Judiciário. Será mesmo? Desde que ouvi isso pela primeira vez venho pensando no assunto. E nos exemplos práticos que a função no judiciário diariamente fornece.

Está dentro do próprio Judiciário uma cultura de inefetividade impressionante. Parece que nada é feito para ser efetivo. As “brilhantes sentenças”, muitas vezes recheadas de citações doutrinárias – inclusive estrangeiras, para ficar “mais bonito” – não são feitas para transformar o mundo, para alterar a relação entre as partes de modo a equilibrá-las e a fazer justiça.

Contudo, essa entrevista com o juiz, escritor, conferencista e espírita Luiz Roberto Mattos, vem jogar essa tese de ineficiência do judiciário pelo ralo. Mattos é muito requisitado em Salvador, cidade onde mora atualmente, é juiz trabalhista e pessoa de integridade e lealdade a toda prova, além de uma simpatia constrangedora.

Autor de “Sana Khan – Um Mestre no Além” – um livro arrebatador sobre viagens astrais, Mattos é um grande estudioso da área. “Sou escritor espiritualista. Tenho alguns livros escritos e escrevo semanalmente textos para o meu site (www.mestresanakhan.com.br), e também relatos de experiências de projeção astral e outras”, disse.

Mattos tem uma capacidade incrível de observação e, apesar de tentar demonstrar que já desistiu de vários projetos, acabou trilhando muitos outros caminhos na área espiritualista (teosofia, espiritismo, rosacrucianismo, etc.), mas, sabiamente manteve sua mente no “caminho do meio”, isto é, ele adotou uma ótica universalista, não sectária, ampla e saudavelmente bem-humorada. É um desses espiritualistas de real valor, que labora com amor pela divulgação das ideias espiritualistas.

Nessa entrevista exclusiva (*e suada) ele, mais uma vez, mostrou o seu trabalho com uma simplicidade encantadora, sem esconder quase nada. Uma entrevista imperdível com um dos poucos homens íntegros e encantadores no meio judiciário dessa cultura da inefetividade, ou seja, de não mexer muito na vida real, para não dar confusão, para não criar polêmica, mantendo o processo “ágil” e… ineficiente, pois isso está muito arraigado na cultura jurídica nacional. Mattos mostra que vale a pena ir de encontro, muitas vezes, a essa cultura maçante e contra ela é que devemos lutar. Mas será que mudaremos alguma coisa? Talvez um dia…

Elenilson – Como foi a sua escolha pelo Judiciário e o seu início na carreira do Direito?

Luiz Roberto Mattos Estudar Direito não foi uma escolha baseada na vocação! Estudei em colégio militar do Exército dos 12 aos 18 anos, e até os 17 anos eu queria ir para a academia militar. Meu desejo na época era ser como um Rambo. Queria fazer curso de pára-quedismo do Exército e de guerra na selva. Aos 17 anos assisti no cinema ao filme-documentário “Eram os Deuses Astronautas?”, do escritor alemão Erick Von Daniken, e tudo começou a mudar na minha vida. Comecei a me interessar pelo espaço, pela arqueologia e muitas outras coisas. Conheci um “yogue” ocidental, e a sua influência acabou por me levar a desistir da carreira militar. Decidi estudar Engenharia Aeroespacial no ITA. Sonhava em projetar naves espaciais. Mudei para o Rio de Janeiro para estudar em um curso preparatório para o vestibular do ITA, mas acabei desistindo, e voltei para Salvador, e fiz vestibular para Arquitetura. Passei, mas abandonei o curso no segundo semestre. Resolvi ir para a Índia, estudar mais a yoga, subir até o Nepal. Desisti de ir para a Índia. Comecei a trabalhar na Secretaria de Segurança, como Oficial de Gabinete e, por ter contato frequente com deputados, prefeitos e senadores no gabinete, pois todos passavam primeiro por mim, para falarem com o Secretário de Segurança, e por sentir que alguns eram sinceros, pensei que como político poderia fazer alguma coisa pelos pobres. E, então, decidi me candidatar a deputado, aos 24 anos. Pensei que para ser um bom político precisaria entender de Direito, e foi assim que decidi, de forma racional, fazer vestibular para Direito. Desisti da candidatura, e de ser político. E, por duas vezes, quis largar a faculdade, mais uma vez. Acabei me formando. Comecei a advogar no interior, e até me empolguei. Mas as duas juízas da cidade foram promovidas e foram embora, e a comarca ficou dois anos sem juiz, e meus processos parados. Voltei, então, para Salvador, fui trabalhar na Defensoria Pública do Estado, como Defensor Público criminal. Um ano e meio depois, cansado de defender bandido, resolvi fazer concurso público, qualquer um. E comecei a estudar para o concurso de Procurador do Estado, mas ele demorou, e surgiu o de juiz do Trabalho, e me inscrevi. Passei no primeiro concurso que fiz. E foi assim que entrei no Judiciário… não por vocação, mas “guiado” pela espiritualidade… por caminhos “tortuosos”…

Elenilson – O ingresso na magistratura foi apenas mais uma oportunidade que surgiu em sua carreira ou já era uma meta traçada?

Luiz Roberto Mattos Como visto antes, não foi uma meta traçado por mim, mas uma necessidade de sobrevivência. O primeiro concurso que surgiu foi o de juiz, e eu fiz e passei… mas logo me apaixonei pela função, pela carreira, pela possibilidade de fazer justiça! E continuo amando o que faço!

Elenilson – É cada vez mais frequente a quantidade de juízes, advogados e outros servidores do judiciário envolvidos com falcatruas. A população encontra-se cada vez mais descrente com o posicionamento da Justiça. Fale um pouco sobre sua trajetória como juiz e sua atual rotina no TRT.

Luiz Roberto Mattos Se considerarmos o universo total de juízes no Brasil, em todas as justiças, a quantidade dos desonestos, corruptos, é muito pequena, é minoria. Nós, juízes do Trabalho, por exemplo, somos mais de 3 mil. Quantos juízes do Trabalho foram processados, presos e condenados? Tivemos o caso do juiz Nicolau dos Santos Neto, do TRT de São Paulo, que ficou conhecido como Lalau. Ele sequer era juiz de carreira. Não fez concurso como eu. Entrou pelo chamado quinto constitucional, salvo engano do Ministério Público. Foi nomeado por João Goulart, em 1961. Talvez, mais um caso, que nem recordo agora. A Justiça do Trabalho é uma grande ilha de honestidade no serviço público federal, e isso inclui seus servidores também. São raríssimos os casos de desvio de conduta, e todos são punidos, logo que descobertos. Afirmo isso sem medo de estar escondendo qualquer fato. Na Justiça Federal, lembro do caso do juiz Rocha Mattos, que vendia sentenças, e que foi afastado, julgado, condenado, e que ainda cumpre pena, salvo engano. Recentemente, vimos na TV o caso do juiz que passeou no carro do empresário Eike Batista e pegou dinheiro apreendido. Já foi afastado. Será julgado e condenado, com certeza. Não lembro de outros casos. Também é uma justiça muito séria e correta. Esses juízes são exceções! E são casos raros! Não conheço casos como esses nas justiças militar e eleitoral, todas federais. Nas justiças estaduais é onde mais encontramos historicamente casos de corrupção, mas, mesmo assim, são poucos, se considerado o grande universo de juízes em todos os Estados. Não vejo um aumento de corrupção no Judiciário! Pelo contrário, o que vejo é uma diminuição cada vez maior! A punição vem cada vez mais rápida. As corregedorias da Justiça do Trabalho, por exemplo, são extremamente rígidas, rigorosas, no controle de prazos, de pautas de audiências, etc. Se o juiz sai um pouquinho do “script”, logo é chamado para conversar com o Corregedor, e pode ser punido. A possibilidade de desvio de conduta de um servidor é muito diminuta, e é logo punido, quando descoberto. E é quase impossível não ser descoberto! A sociedade pode, sim, confiar no Judiciário! Ainda está ele entre as instituições mais confiáveis do País! Só perde para as Forças Armadas. Isso já foi objeto de várias pesquisas. Fui juiz de primeira instância por vinte e cinco anos e meio e, então, em novembro de 2014 fui promovido a desembargador do TRT da Bahia. O trabalho é muito, as responsabilidades aumentaram. Mas estou feliz. Continuo fazendo justiça.

Luiz Roberto Mattos

Elenilson – Destaque pontos positivos e negativos da atuação como magistrado.

Luiz Roberto Mattos Para mim, o maior ponto negativo é o excesso de trabalho. Durante anos fiz 24 audiências por dia, em média, e de segunda a sexta, sem juiz auxiliar, sem falar nos despachos e sentenças. Trabalhava de manhã, de tarde e de noite, incluindo sábados, domingos, feriados, férias e recesso. Não tinha tempo para fazer atividade física. Ficava sentado o dia todo. Isso me levou a várias crises de coluna depois de um tempo. Fiz muita fisioterapia. Tomei muito corticóide. Não podia ir a dentista. Ou dava conta dos processos ou descansava… sempre optei por dar conta dos processos! Outro ponto negativo que me cansou ao longo dos anos é interrogar mentirosos. A rotina de um juiz do trabalho é interrogar partes e testemunhas mentindo. Raros são os processos em que não há alguém mentindo. E extrair a verdade nem sempre é fácil. Tem que ter técnica. E muita paciência. Mas isso é cansativo, é estressante. Como ponto positivo, coloco a sensação de estar corrigindo injustiças, e de estar fazendo justiça. Essa sensação é muito boa, e muito gratificante.

Elenilson – Qual dica o senhor daria para quem quer seguir carreira na magistratura.

Luiz Roberto Mattos Em primeiro lugar é preciso que a pessoa tenha grande senso de Justiça. Sem isso, é melhor nem entrar. Tem que ter amor à Justiça, e aqui não falo de instituição, mas de Justiça como um valor em si. Tem que ser justo! Precisa estudar muito! E começa pela faculdade! Precisa prestar atenção às aulas e estudar! Os concursos de juiz estão cada vez mais difíceis, devido à concorrência cada vez maior. Porém, se for o destino da pessoa, estude, dedique-se, faça a sua parte, e Deus fará a parte Dele. Isso aconteceu comigo. Eu trabalhava seis horas por dia e ainda estudava de oito a dez horas por dia. Acordava 4:30 ou 5:00 horas, lavava o rosto e pegava no livro… e só ia dormir depois de meia-noite… isso de segunda a sábado… Sem esse esforço, ninguém mais se torna juiz!

Elenilson – O seu curso de graduação foi suficiente para conferir as habilidades necessárias para ser juiz? Por quê?

Luiz Roberto Mattos De jeito nenhum! Se ficasse só com o que aprendi na faculdade, nunca passaria no concurso de juiz! Tive, por exemplo, apenas duas matérias sobre Direito do Trabalho, sendo uma delas sobre Processo do Trabalho. E essas foram as matérias com maior conteúdo no programa do concurso. Fui aprender nos livros, sozinho! A faculdade dá apenas a base, o norte. Mas é preciso ir muito além. Comprar bons livros, de bons autores. A faculdade não prepara para ser juiz! Há cursos preparatórios para concurso de juiz, das diversas justiças.

Elenilson – O que o senhor acha das expressões latinas e jurídicas utilizadas no Direito? Como essas expressões são transmitidas no momento de uma audiência para pessoas sem o conhecimento jurídico?

Luiz Roberto Mattos Penso que as leis devem se livrar cada vez das expressões latinas! Afinal, o Latim é uma língua morta há tanto tempo. Entrei na faculdade de Direito em 1980 e não tinha mais Latim no curso. Nem nas escolas. Nunca estudei Latim. E tenho 56 anos. Sempre usei o mínimo do mínimo de Latim em meus despachos e sentenças. E em audiência praticamente nunca utilizei expressões latinas.

Elenilson – Em sua opinião, o que deve ser feito para que a população sinta o Poder Judiciário mais próximo dela?

Luiz Roberto Mattos Deve conhecer melhor o Poder Judiciário! O juiz trabalha no gabinete, na vara fazendo audiência e em casa. Não fica na rua mostrando o seu trabalho. Todavia, a sociedade pode pedir que a mídia, sobretudo, as emissoras de TVs façam mais matérias sobre o trabalho dos juízes, mostre ele trabalhando, atuando, despachando, fazendo audiências. Elas são públicas. As sessões de julgamento dos tribunais são todas públicas. Normalmente a mídia só procura mostrar o lado ruim, quando um juiz se desvia da conduta correta, mas não mostra o bom trabalho que é feito pela esmagadora maioria dos juízes no dia a dia…

Elenilson – Qual seria a postura ideal a ser utilizada por um juiz diante da sociedade? Por quê?

Luiz Roberto Mattos O juiz é muito cobrado em sua conduta, mesmo fora de sua vara ou tribunal. Quem decide entrar na Justiça deve estar preparado para isso! O juiz não pode fazer certas coisas, pois dele se exige um comportamento ilibado, especial, acima do normal. Espera-se dele uma conduta reta e dentro da ética e da moral. Um juiz não pode dirigir embriagado, sem habilitação, dirigir veículo que mandou apreender, etc. Lembro esses fatos porque são recentes e conhecidos. Juiz não é mesmo Deus! Se essas condutas são proibidas a todos na sociedade, elas são impensáveis para um juiz! Espera-se que ele haja melhor do que os demais cidadãos, e isso porque ele julga os outros. Um juiz não deve beber em demasia em público! Coisas como essa chamam atenção, e um juiz é sempre visado. Qualquer coisa errada que ele faça, por menos grave que seja, mas que fuja do bom comportamento esperado dele, será destaque e manchete de jornal! Um juiz deve ter um comportamento incensurável!

Elenilson – Como se deu a sua iniciação no Espiritismo?

Luiz Roberto Mattos Em janeiro de 1977, estava em uma livraria com um irmão, procurando um livro para comprar para ler nas férias na fazenda de meu pai. De repente, ele me chamou para me mostrar um livro que ele havia encontrado, “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec. Olhei o fundo do livro, que continha todos os temas. Era tudo o que queria ler naquele momento. Comprei, levei para a fazenda, li em 15 dias. Só levantava da rede para tomar banho e comer. O livro citava muito “O Livro dos Espíritos”, e então comprei logo que voltei para Salvador. Dia 5 de fevereiro embarquei num ônibus para o Rio de Janeiro, sozinho, aos 18 anos, e fui lendo o livro durante o dia… Voltei para Salvador em agosto de 1977, e então comprei e li todos os outros livros de Kardec, enquanto estudava para o vestibular… Li toda a obra de Kardec em 1977, com 18/19 anos! Quando cheguei em Salvador, em 1977, encontrei minha irmã sob processo de obsessão, sendo tratada por três senhoras espíritas, e foi através delas que fui conhecer o Centro Espírita que elas frequentavam. Gostei. E lá trabalhei durante quinze anos. Participei de vários grupos mediúnicos, diversos grupos de estudos e pesquisas, fazia palestras, fui coordenador de juventude e diretor de departamento de infância e juventude. Não fui presidente do centro porque não quis. Saí do centro em 1990 ou 1991… fundei depois uma casa espiritualista que trabalhava com cura…ainda existe…mas estou afastando…

Elenilson – Como o senhor decidiu se transformar nesse “cara massa” que é hoje?

Luiz Roberto Mattos (risos)… eu não decidi me tornar um “cara massa” (risos)… acho que isso não é decidido… é natural… Entendo por “cara massa” uma pessoa legal (risos)! Acho que sou essencialmente uma pessoa legal, mas não o tempo todo, nem com todos… isso seria a perfeição (risos)… Jesus jogou duro nos sacerdotes do Templo em Jerusalém! Ele disse que aquela (o templo) era a casa do lagarto e das aranhas, dentre outras palavras duras que usou. Ele não foi um “cara massa” naquele momento com os sacerdotes. Neste mundo não dá para ser legal sempre com todos. Um juiz, por exemplo, muitas vezes tem que tomar medidas duras, como agora faz o juiz federal Sérgio Moro. Ele não está sendo um “cara massa” com os corruptos e os corruptores… e não poderia mesmo… Acho que meu pai era um “cara massa”, e tenho uma mãe “massa”! Tive professores “massas” no Colégio Militar! Já tive muitos amigos “massas” na vida! Penso que tudo isso vai me influenciando e me tornando cada vez mais um “cara massa” (risos).

No Parque Japonês, em Buenos Aires.

Elenilson – O pontapé inicial para isso é o minuto de silêncio?

Luiz Roberto Mattos Pergunta realmente difícil… Momentos de silêncio e reflexão são muito importantes na vida! Há também os estudos espiritualistas, que nos influenciam muito na nossa melhoria como seres humanos… Quanto mais eu leio sobre Jesus, nos Evangelhos da Bíblia, mais eu tendo a me tornar uma pessoa melhor! A me tornar esse “cara massa”, como você me definiu (risos).

Elenilson – O senhor tem um texto e um discurso que marca um estilo de jornalismo com poesia que incomoda, que não espera acontecer, ou melhor, faz acontecer. Ou a pessoa presta atenção ou presta atenção. Esse é um estilo mesmo, ou foi por acaso que o senhor começou a usá-lo nas suas palestras, nos seus livros ou na sua atuação como juiz do Trabalho?

Luiz Roberto Mattos – Sincera e honestamente, nunca pensei que tivesse um estilo! Achei interessante a sua definição do meu estilo (risos). É a primeira vez que alguém faz isso comigo! Nunca procurei criar um estilo, em nada! Acho que foi tudo natural… espontâneo… comecei a escrever antes de fazer pelestras… e o juiz veio bem depois…

Elenilson – Que realidade o Espiritismo vive no Brasil, atualmente?

Luiz Roberto Mattos Não me acho a pessoa mais adequada para responder a essa pergunta, porque me afastei do chamado “Movimento Espírita” há muitos anos. Todavia, o que vejo é a expansão cada vez maior do Espiritismo! Muitos centros espíritas vêm sendo criados nos últimos anos! Em Salvador há grandes obras espíritas com conteúdo também social, como a Mansão do Caminho, a Cidade da Luz e o Lar e Harmonia. Divaldo Franco faz palestras pelo mundo todo! Leva o Espiritismo para fora do Brasil! A novela “Alto Astral”, da Rede Globo, atualmente, tem forte conteúdo espírita, mostrando espíritos de mortos, trabalho de cura espiritual, Centro Espírita, clarividência e muitas outras coisas… isso é fantástico… é o lado bom da Globo… Isso acaba levando mais gente para os Centros Espíritas, pois ajuda a quebrar preconceitos! E a vencer o medo do desconhecido! Excelente!

Elenilson – Essa “crise existencial” do homem pode pôr o planeta em perigo?

Luiz Roberto Mattos Não vejo uma crise existencial do homem! Algumas pessoas vivem essa crise, mas não são maioria. O que coloca o planeta em perigo é a ignorância espiritual, a usura, a ganância, o egoísmo, o gosto excessivo pelo poder! E também a intolerância racial, étnica e religiosa! Observe quem são as pessoas que hoje constituem ameaça real para o planeta! Prefiro não citar nomes…

Elenilson – Só meditar e rezar adianta?

Luiz Roberto Mattos Não! Como disse Jesus, a fé sem obras é uma fé estérea! O mundo precisa de pessoas que hajam! Precisa de trabalhadores do bem! Para fazer o mal tem muitos! Precisamos de gente para fazer o bem! O mal ainda prevalece porque os bons são tímidos! Alguém já escreveu isso… Meditar é bom! Rezar também! Mas meditação e reza não colocam comida no prato de quem está com fome, não limpam as feridas, não matam a sede, não constroem casas e hospitais, não vacinam, etc. Mãos à obra! O mundo precisa de você, trabalhador do bem, para se tornar um lugar melhor para se viver!

Elenilson – Temos que nos libertar da ideia de que somos vítimas – da economia, da política, da violência. Somos cocriadores de tudo. É uma lei difícil de ser entendida. Mas não temos tempo, estamos à beira do colapso. Comenta.

Luiz Roberto Mattos Suas perguntas são mesmo difíceis (risos)… Em primeiro lugar, gostaria de dizer que economia, política e violência não são instituições, não são entes! Tudo é ação humana! Nós criamos a política, a economia e a violência! Assim, podemos mudar todas elas! Porém, essa mudança depende da mudança interior de todos, e de cada um individualmente! O mundo não mudará sem a mudança do homem (ser humano)! Quanto melhores nos tornarmos, como espíritos, como seres humanos, como cidadãos, melhor será a atuação política, honesta e sem corrupção; melhor será a economia mundial, sem fome em parte alguma; e cidadãos sem fome, morando com dignidade e mais felizes criarão uma sociedade menos violenta, mais justa e equitativa. A mudança interior do homem é que criará um mundo melhor!

Elenilson – Na teoria, as novas tecnologias proporcionam ferramentas que determinam o fim da ditadura das mídias, que representavam o único canal de mediação informativa do cidadão, da sociedade, com os poderes constituídos. No entanto, eu tive todos os meus blogs excluídos pelo Google e, agora, eu e o Mario Bocchini estamos sendo processados pela Folha de S. Paulo, por termos feito um blog, que durou menos de um mês, em 2010, intitulado Falha de S. Paulo, uma paródia ao jornalão. Como o senhor, como juiz, encara essa falta de liberdade de imprensa num país, na teoria, democrático como o Brasil?

Luiz Roberto Mattos Penso que um blog só pode ser excluído por determinação judicial! Não conheço o caso, nem os blogs, nem o processo. A única coisa que posso dizer é que numa democracia deve haver liberdade de expressão, sem censura prévia, mas com responsabilidade de quem emite e publica sua opinião. Podemos dizer e escrever o que quisermos, mas se com isso ferimos, prejudicamos e ofendemos outros, podemos responder judicialmente e podemos ter que pagar indenização reparatória por danos morais. Tudo dentro de um processo legal, com ampla defesa e contraditório, como garante a nossa Constituição Federal.

Elenilson – O seu livro “Sana Khan – Um Mestre no Além” parece ser muito interessante. Porque o senhor ainda não reeditou?

Luiz Roberto Mattos Fiz a primeira edição do volume I do “Sana Khan” em dezembro de 1992, por conta própria! Em 1994, uma editora do Paraná publicou o livro! E também publicou o volume II (em 1998). Infelizmente a editora fechou. Em 2012, fiz uma edição comemorativa dos 20 anos do livro, através de uma editora virtual do Rio, mas eu paguei tudo! Não deu certo! Nunca tive “sorte” com editoras no Brasil! Então decidi não mais procurar editoras! Apenas mantive um sonho distante, mais uma fantasia, na verdade, de publicar o “Sana Khan” nos Estados Unidos. Mas nem traduzido para o inglês ele era… Há um ano atrás, uma editora americana (America Star Books) entrou em contato comigo pelo meu site (www.mestresanakhan.com.br) se oferecendo para traduzir o livro, sem nenhum custo para mim, e publicar nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha. Mandaram o contrato por e-mail. Li, assinei, mandei de volta, e em janeiro deste ano o livro já estava publicado… Está em processo de divulgação! Estou investindo um pouco nisso! Em maio estarei autografando o “Sana Khan” em inglês no stand da editora na maior feira de livros dos Estados Unidos, em Nova Iorque. Pelo visto, vou ficar mais conhecido lá fora do que aqui (risos)…

Elenilson – O senhor escreveu num texto sobre “a relevância de se estar sempre preparado, sempre pronto para ataques espirituais… e que eles acontecem mesmo… pois não temos apenas amigos desencarnados… temos desafetos do passado, e eles vêm nos cobrar o tempo todo…” Como seriam exatamente esses ataques espirituais?

Luiz Roberto Mattos De fato temos desafetos do passado! Na maioria das vezes de vidas anteriores! Alguns não conseguem perdoar o mal que lhe fizemos! E planejam vingança! Eu mesmo tenho um desafeto que me persegue desde jovem, e que não me perdoa, por algo que lhe fiz na Revolução Francesa… faz tanto tempo… para mim… mas para quem odeia e não reencarnou ainda isso não importa… o que importa é o desejo de vingança… e os ataques estão muito ligados a vingança… Se estivermos em desequilíbrio, nosso campo de força, nossa aura, fica frágil, e isso permite a aproximação de espíritos poucos evoluídos, que podem sugar nosso ectoplasma… é o famoso vampirismo…

Elenilson – O Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, defendeu em uma entrevista à BBC, a ideia de ser o último a ocupar a posição. Como o senhor interpreta isso?

Luiz Roberto Mattos Considerando que o Tibete foi invadido e ocupado pela China comunista em 1949, e não há absolutamente nenhum sinal de que a China vá desocupar e devolver a liberdade e a independência ao País, é como se o Dalai Lama estivesse “jogando a toalha”… Como ser o líder espiritual de um País que já não mais existe (como País) há tanto tempo, e de longe, sem que os tibetanos sequer tenham qualquer contato com o líder? É realmente complicado! Talvez também não haja ninguém para sucedê-lo na condição de líder espiritual, com a sua força, o seu carisma e a sua persistência…

Elenilson – Como o senhor explica a arrogância e o deslumbramento de alguns líderes espíritas e os seus ADFs (departamento de frescuras)?

Luiz Roberto Mattos Existe arrogância e deslumbramento em líderes espirituais de várias igrejas e religiões, não só espíritas…A vaidade e o orgulho intelectual são inerentes à condição humana… Kardec escreveu no “Livro dos Médiuns” que o orgulho e a vaidade são as duas principais causas de queda dos médiuns… parece que muitos pulam essa parte da leitura do livro…

Luiz Roberto Mattos

Elenilson – A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres. Como o senhor explica tanta intolerância religiosa?

Luiz Roberto Mattos Os “sem-religião” talvez sejam mesmo uma minoria no mundo! Mas não vejo uma discriminação em relação a eles. Quanto à intolerância religiosa, isso acontece mais exatamente entre aqueles que não deveriam ser intolerantes, ou seja, entre os religiosos. Não quero aqui citar fanáticos de uma ou de outra religião, mesmo porque eles existem em muitas religiões e igrejas. O fanatismo e a intolerância são frutos da ignorância humana, ignorância espiritual, não intelectual, escolar. Muitos distorcem os escritos dos livros sagradas de suas religiões, e dão a eles a sua visão particular, de acordo muitas vezes com seus interesses políticos, e fazem coisas terríveis em nome de Deus, mas do seu Deus particular.

Elenilson – Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas e o Pentágono, o Islã se tornou um tema permanente nas mídias ocidentais. E sobre os assassinatos cometidos pelo Estado Islâmico? P.S. Espero que Deus jogue todos eles no fundo do Inferno (se esse mesmo existe)…

Luiz Roberto Mattos Acho que a resposta anterior cabe também aqui… Ignorância! Acima de tudo ignorância! Os cristãos também barbarizaram na Primeira Cruzada, no século XXII. Dizimaram a população de Jerusalém, que era quase toda muçulmana, e em nome de Deus, o mesmo que hoje fazem os fanáticos do Estado Islâmico. Católicos e protestantes já mataram tanto uns aos outros, por causa de intolerância religiosa. Hindus e muçulmanos idem. Apenas ignorância! Limitação espiritual! De que outra forma podemos explicar isso? Deus é amor! Ele não joga ninguém no inferno! As pessoas vão para o seu inferno particular com suas próprias pernas…

Elenilson – Eu li “Os Versos Satânicos”, de Salman Rushdie, e não achei nada que ofendesse a religião muçulmana ou que contribuísse para aumentar as tensões entre o mundo islâmico e o Ocidente. Como o senhor analisa essa intolerância com o autor?

Luiz Roberto Mattos Não li o livro! Assim, não posso dar minha opinião sobre ter ele ofendido ou não a religião muçulmana. No entanto, também caímos na mesma resposta: Ignorância. E intolerância! Já fizeram vários filmes ofensivos à figura do Cristo; já escreveram livros ofendendo ele; quantos textos ofensivos…mas nenhum cristão moderno matou quem fez isso! No máximo as pessoas vão para a rua com cartazes pregando o boicote ao filme…e às vezes até funciona… isso não é ilegal… é democracia… Perseguir e matar alguém por suas opiniões religiosas ou filosóficas é ainda pior do que perseguir e matar por causa de opinião política!

Elenilson – O senhor faz palestras desde os 26 anos. O que de mais legal já aconteceu nesses eventos?

Luiz Roberto Mattos Acho que normalmente o melhor de tudo é ver o brilho nos olhos daqueles que estão entendendo o que eu estou falando e aceitando, e se tornando mais leves, reflexivos, e alguns vêm me cumprimentar no final e me dizem “Obrigado! Parece que o senhor fez a palestra para mim!”. Aí eu sei que toquei de verdade algumas pessoas! Isso afasta qualquer cansaço pelo tempo em que fiquei em pé falando…

Elenilson – E onde está Deus?

Luiz Roberto Mattos Em toda parte, em tudo, em todos! Deus, para mim, não é um velhinho de barba em cima de uma nuvem ou montanha. Não tenho a visão antropomórfica (forma humana) de Deus, nem sou monoteísta! Sou monista! É diferente! Deus é a Consciência Cósmica Universal, o Absoluto, do qual tudo emana, e tudo nele está contido. Ele está em tudo, e tudo está Nele! Paulo de Tarso escreveu: “Em Deus existimos, em Deus nos movemos”. Somos expressões dele em seu próprio universo. Para entender melhor minha compreensão sobre Deus, aqui muito sintetizada, sugiro a leitura do meu livro “Sana Khan – Um Mestre no Além”, volume I. Ali discorro sobre o tema com maior profundidade.

Elenilson – Deixa uma mensagem só pra mim?

Luiz Roberto Mattos Gostei muito de suas perguntas! Obrigado pela proposta da entrevista! Continue fazendo esse trabalho! Talvez essa seja sua missão, ou pelo menos parte dela… Ler e refletir nos leva a alargar sempre os nossos horizontes espirituais!Nunca deixe de pensar! Seja sempre esse livre pensador!

Elenilson – Agora, para os seus fãs…

Luiz Roberto Mattos Não sei se tenho fãs (risos)… Tenho leitores (risos)… Para aqueles que me lêem aqui e agora, desejo que tenham aproveitado algo do que eu disse para reflexão!

Tudo o que eu mais desejo é gerar reflexão! Não prego uma religião, nem uma filosofia! Em meus livros falo da vida, da morte, do encontro espiritual entre vivos e mortos, através da projeção astral, tentando mostrar que a morte não existe! Somos espíritos imortais! O corpo de carne é apenas uma vestimenta que nos serve por um breve tempo para um mergulho nessa dimensão de matéria densa. Logo teremos que descartar essa vestimenta mais condensada, e voltaremos para nosso mundo original, que é o mundo espiritual. A vida material é como a vida na “Matrix”, do filme. Aqui nos iludimos muito, pensando que isso aqui é tudo, e nos distanciamos da verdadeira vida, do espírito. Está na hora de expandirmos a nossa consciência para termos uma visão mais clara da vida, da morte, dos renascimentos, da evolução… É hora de “tomar a pílula”, como no filme “Matriz”, para despertarmos para a realidade espiritual! Muita paz a todos!

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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