Música

Entrevista: Samantha Schmütz vem a Salvador e conversa com o Cabine Cultural

Samantha Schmütz e Mayra Lucas. Foto por Paula Andrade.

“Hoje em dia você não pode ter opinião, as pessoas acham que artista não pode opinar sobre política. Você pode discordar de mim, mas a gente pode se respeitar e continuar amigo, sabe? Você apresenta seus argumentos, eu apresento os meus, talvez a gente chegue em um consenso, talvez não, isso é normal. Mas as pessoas estão muito agressivas…”

Na última terça-feira, 06/09, em evento organizado pela UCI Orient, a atriz e cantora Samantha Schmütz esteve em Salvador para a pré-estreia do seu novo filme, “Tô Ryca”, que chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 22 de Setembro.

Samantha ganhou fama nacional ao interpretar o personagem humorístico “Juninho Play”, em meados dos anos 2000, no Programa Zorra Total da Rede Globo. Atualmente vive “Jéssica”, personagem do programa “Vai Que Cola” do canal fechado Multishow. Além disso, Samantha é cantora e planeja lançar um EP de black music ainda este ano.

Em “Tô Ryca”, Samantha Schmütz vive Selminha, uma frentista que tem a chance de deixar seus dias de pobreza para trás ao descobrir uma herança de família. Mas para conseguir colocar a mão nessa grana, ela terá que cumprir o desafio lançado por seu tio: Selminha precisa gastar 30 milhões de reais em 30 dias, sem acumular nada e nem contar para ninguém. Mas, nessa louca maratona, ela vai acabar descobrindo que tem coisas que o dinheiro não compra.

O filme é o primeiro da atriz como protagonista e conta com grandes nomes no elenco, como Marcelo Adnet, Marcus Majella, Marília Pêra (in memoriam) e Fabiana Carla.

Imagem de Tô Ryca – Divulgação

Samantha veio a Salvador acompanhada de Mayra Lucas, produtora do filme, e conversou com o Cabine Cultural, confira:

– Cabine Cultural: Recentemente você afirmou que “Tô Ryca” não é só uma comédia, é também um “retrato do Brasil”. Como assim?

– Samantha Schmütz: o filme retrata muito o dia a dia de vários trabalhadores brasileiros, sabe? Que ralam muito, ganham pouco, mas não deixam de tomar sua cerveja, comer seu churrasquinho na esquina, de fazer piada, ter bom humor, acho que neste quesito chega muito perto da realidade do trabalhador brasileiro, as pessoas vão se identificar.

– CC: Na construção deste seu personagem você teve uma preocupação extra em dotá-la de características próprias ao ponto do público não procurar resquícios de personagens que você já fez e ficaram famosos, como o Juninho Play do Zorra Total e a Jéssica do Vai Que Cola?

– SS: Com certeza, essa é uma preocupação fundamental. Cada personagem tem o seu jeito, a sua maneira de falar e de agir, então eu me preocupo em dissociar cada um. É claro que as vezes escapa uns trejeitos iguais, afinal, por trás de todos os personagens tem a mesma pessoa, eu. Uma vez rolou uma coisa muito legal, 2 crianças com síndrome de down foram assistir minha peça, uma foi num dia e outra foi no outro, e as duas fizeram o mesmo comentário. Era uma peça onde eu fazia 5 personagens distintos e depois eu perguntei para cada uma delas qual personagem elas tinham gostado mais, ambas me responderam da mesma forma: “como assim? Todos são você”. Então assim, a minha essência está ali em todos os personagens. Mas acho que o papel do ator é esse, viver vários personagens e dá uma vida própria para cada um.

– CC: Logo após a consumação do impeachment de Dilma Rousseff, você postou em suas redes sociais uma declaração se colocando contra este processo, afirmando que a constituição fora rasgada. Algumas pessoas comentaram sugerindo o boicote do seu filme, afirmando que você é petista, algo semelhante o que ocorreu com o filme “Aquarius”. Como você vê isso? Acha que as pessoas não sabem separar as coisas?

– SS: Hoje em dia você não pode ter opinião, as pessoas acham que artista não pode opinar sobre política. Você pode discordar de mim, mas a gente pode se respeitar e continuar amigo, sabe? Você apresenta seus argumentos, eu apresento os meus, talvez a gente chegue em um consenso, talvez não, isso é normal. Mas as pessoas estão muito agressivas, tipo, tem gente que fala assim “se você não pensa como eu, vou parar de te seguir nas redes sociais, odeio você”. Como assim? Gente, calma! Me segue vai, eu sou legal [Samantha ri]. Então é importante falar disso, gostei dessa pergunta porque é uma questão que o artista tem que saber lidar. Será que se eu me posicionar eu vou prejudicar o filme? Ou será que é o inverso, se eu me posicionar eu vou ganhar ainda mais o respeito das pessoas e elas vão querer assistir ao filme? É uma faca de dois gumes. Mas no fim eu acho que a gente tem que se posicionar sim, sabe? Eu como artista tenho que ajudar meu país de alguma forma, se eu tenho uma voz que pode ser ouvida por 1 milhão de pessoas no Instagram ou Facebook, por que eu vou ficar calada? Não posso me calar. Mas é uma preocupação mesmo, bom tocar neste assunto.

– CC: Você é bem identificada com o humor, a grande maioria dos seus personagens circula por ai, como foi a sua ida para este lado humorístico? Foi planejado? Foi algo natural?

– SS: Na minha família tem muita gente naturalmente engraçada, meu pai, meu tio e tal. Tudo que meu pai queria me ensinar ou me dá esporro, era pela comédia. Um dia ele descobriu que eu estava fumando, ai ele deixou em cima da mesa um maço de cigarro, assim, brilhando, é claro que eu fui lá e peguei. Quando eu abri o maço, tinha a foto e uma caveira dentro e ele escreveu: “vai, pode fumar!” [Samantha ri]. Então assim, eu já cresci nesse meio, já cresci palhaça. Então toda peça que eu podia colocar algo de comédia, eu sempre colocava, vinha naturalmente, não era forçado. Mas eu já fiz vários trabalhos bem sérios também no teatro, fiz a vida da Elis Regina, a vida da Elizete Cardoso, a vida do primeiro músico clássico do Brasil, o padre José Maurício Nunes Garcia que era um negro que teve que virar padre para se tornar músico, porquê na época os negros não podiam tocar música clássica. Então eu fiz muita coisa que não era comédia também. Mas ai eu fui fazer a peça O Surto, em 2004, e eu já tinha a mania de imitar meus amigos de Niterói, ai surgiu o Juninho Play. Nessa época também surgiu o Minha Mãe É Uma Peça do Paulo Gustavo, porquê eu levei ele para O Surto e embora ele ainda não fosse um ator formado, ele já imitava a mãe, só por sacanagem mesmo, mas ai deu certo. Ai eu entrei na comédia mesmo, um diretor da Globo foi assistir a peça, gostou e me chamou pra fazer o Zorra Total.

– CC: Qual a sua relação com Salvador? Vem sempre aqui? Gosta? Tem críticas?

– SS: Eu amo Salvador, quem não ama? A primeira vez que vim aqui foi a convite e Ivete Sangalo e Dito Espinheira (produtor de Ivete). Nos conhecemos no Faustão, nos bastidores, Ivete ganhou o prêmio de melhor cantora e eu de melhor atriz, e ai eles me chamaram pra vir pro réveillon, fiquei na casa do Dito, e ai a partir disso ficamos super amigos e eu fiz outros amigos em Salvador. Ai quando fui pro show de Ivete nos EUA, em Miami, depois do show eu e Dito fomos para uma boate, e ai Dito viu um cara e disse que ele estava me paquerando, esse cara virou meu marido. Então é isso, venho sempre pro carnaval, para as praias, tô sempre por aqui.

Pedro Del Mar  baiano, 25 anos, repórter e colunista. Um curioso nato que procura enxergar o mundo sem as velhas e arranhadas lentes do estabilshment. Acredita que para todo padrão comportamental há interessantes exceções que podem render boas histórias.

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