Sense8
Série tem potencial muito grande, pela temática e pelos diretores, os irmãos Wachowskis; piloto de 1 hora foi insuficiente para apresentar a mitologia
Por Luis Fernando Pereira
O primeiro episódio de uma série traz quase sempre consigo aquela complicada fórmula que visa apresentar logo de cara seus personagens, sua mitologia e o esperado fio condutor da história. Normalmente é bem complicado ser bem sucedido no piloto, principalmente para séries como Sense8 – nova aposta da Netflix – que flertam a todo instante com ficção científica e com suspense/mistério.
E é por isso que quando termina o primeiro episódio de Sense8 o sentimento é de certo cansaço, por ter assistido uma hora de trama bem arrastada, que buscou apresentar mais minuciosamente os personagens, mas se esqueceu de dar um ritmo que fizesse essa experiência ser mais gratificante para o espectador. O bom da Netflix é que ela permite que logo após de um episódio você aperte o play e assista tão logo o próximo; caso contrário a sensação de frustração seria ainda mais agravada aqui.
Irmãos Wachowskis
Acredito que a série, novo projeto dos criativos irmãos Wachowskis (de Matrix, A Viagem…) no final das contas seja uma ótima opção de ficção científica, pois se há algo que os irmãos dominam é a arte de criar boas tramas deste gênero. E o potencial que ela possui é absurdo, não devemos negar. Porém, é inegável que este piloto ficou devendo, sobretudo em deixar o espectador com aquele gosto de quero mais, de querer saber o que é que move esta história.
Mas afinal, o que é que move esta história?
Sense8 é uma trama sobre oito pessoas espalhadas ao redor do mundo, cuja as vidas são repentinamente e inexplicavelmente conectadas em uma batalha pela própria sobrevivência. Mesmo lembrando de leve aquela ruindade chamada Heroes (série que está voltando), Sense8 veio com uma abordagem adulta, trazendo personagens com as mais diferentes experiências de vida: de transexual à policial, passando por DJ e ator de cinema.
Mesmo com uma estrada de boas possibilidades para estes personagens, ficamos com um incômodo ao final do episódio, incômodo ainda maior para quem assistiu aos trailers e materiais promocionais durante estes meses: tudo que foi exibido nos trailers e toda a parte de mistério/ação/suspense que a série aborda não estavam no piloto.
Ou seja, a possibilidade da série crescer com o passar dos episódios é enorme, porém, fica evidente que os diretores foram incapazes de produzir um piloto conciso, compacto, que conseguisse dizer a que veio logo de cara.
Daryl Hannah e Naveen Andrews
Ficamos sabendo bem pouco da natureza dos personagens de Daryl Hannah e Naveen Andrews, elementos essenciais para se entender a história. Tudo começa com eles, em uma sequência aparentemente sem sentido, que só terá alguma coerência mais para frente, quando as peças se completarem.
O potencial que a série – e a parte específica de vermos personagens que se conectam por meio de visão telepática – possui é imensa. Já deu para perceber que as história dos personagens são interessantes, todos eles de alguma forma estão perdidos, ou passando por problemas pessoais e emocionais. Falta agora saber como esta conexão fará algum sentido para a trama principal. A resposta muito provavelmente recairá sobre a primeira cena do episódio inicial.
Sense8
O aspecto visual da série é de se contemplar, mas isso não é mais que obrigação de dois cineastas que dominam já há algum tempo esta arte de produzir filmes plasticamente perfeitos. O colorido, e toda a atmosfera confusa, com mistura de cores e trilha sonora que ajuda nesta sensação de confusão (a música eletrônica transmite confusão no seu DNA) é outro elemento que ajuda a série a sair da mesmice em que vivemos em termos de séries de televisão.
Sense8 é uma aposta ousada da Netflix, que cada vez mais se distancia na briga pelo primeiro lugar na produção de bons projetos audiovisuais. Uma série que vem carregada de mitologia, de mistérios e principalmente, de possibilidades. Essa gama vasta de possibilidades, entretanto, é uma via de mão dupla, ou seja, as chances dos responsáveis pela série escolherem o caminho errado são bem maiores.
Só nos resta acompanhar.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site