Literatura

Entrevista com a escritora Daiane Coll

Daiane Coll

“O autor também é seu próprio vendedor. Se ele não se relaciona bem com aqueles que divulgarão e comprarão o seu livro, ou deve estar num patamar de superstar ou escreve só para agradar a si mesmo.” (D.C.)

Por Elenilson Nascimento

A escritora Daiane Coll diz que sempre cultivou o hábito da leitura e o amor pelos livros, em especial romances de ídolos como Nicholas Sparks, Meg Cabot e Nora Roberts, mas nunca imaginou escrevê-los. Sempre tive sonhos muito nítidos. Quase toda manhã acordava e descrevia para o meu marido alguma história estranha com que havia sonhado. Uma noite, no último período da faculdade de Direito, li uma entrevista da Stephenie Meyer, onde ela contava que ‘Crepúsculo’ nascera de um sonho, e como passava algumas madrugadas acordada por causa do filho pequeno, decidira escrever. Naquele momento veio o insight – tinha sonhos nítidos e um filho pequeno que também me cobrava algumas horas de sono”, disse.

O seu livro “Irresistível”, sobre uma estudante de Direito que se apaixona por um advogado, nasceu no ano de 2009, do desejo de narrar às filhas uma das histórias que perambulavam em sua mente e incentivá-las a criarem suas próprias narrativas. Coll além de escritora também trabalha como policial civil – tipo Kate Marrone, da famosa série que foi um grande sucesso na TV e no cinema – em sua cidade natal, Curitiba, onde reside com seu marido e os três filhos.

E, se no princípio, o que era para ser um simples conto ganhou tantos detalhes que se transformou num livro e deu início a sua carreira de escritora. Além de “Irresistível”, ela também já escreveu “Inesperado”. Leiam muito. Não só livros, como jornais, revistas, gibis. E conheçam os autores nacionais. Não estou pedindo que abandonem seus ídolos internacionais (eu mesma tenha um monte), mas tem muito escritor perto de você, esperando pela chance de conquistá-lo”, disse. Essa entrevista tem algo de sobrenatural, ou quase, depois de meses, enfim, as respostas chegaram (do nada) na minha caixa de mensagens. E para não perdê-las novamente, segue na íntegra.

Elenilson – Quando você soube que queria ser escritora? Quais foram suas maiores fontes de inspiração?

Daiane Coll – Quando resolvi escrever minha primeira história, não tinha intenção de me tornar uma escritora. Foi apenas uma maneira que encontrei de tornar mais interessante aos olhos das minhas filhas, os mirabolantes e vividos sonhos que tinha na época. Jamais imaginei que o conto renderia tantas páginas e acabaria em um livro impresso, tanto que já fazia dois anos que eu havia escrito “Irresistível”, quando decidi mandá-lo para a editora. Minhas fontes de inspiração foram e são até hoje, meus sonhos. Sou muito criativa quando durmo.

Elenilson – De que maneira você descreveria o processo de escrita dos seus livros? Você faz algum tipo de pesquisa ou preparação?

Daiane Coll – Quando acordo com uma ideia nova, gosto de ficar na cama relembrando cada detalhe e inserindo novas cenas. Depois digito tudo muito rápido, sem me preocupar com erros, ortografia ou coesão. Quando o bruto da história está inserido, volto com calma ao início e vou corrigindo o texto, ao mesmo tempo em que elaboro os diálogos e insiro novas cenas. Como escrevo romances atuais, em situações de cotidiano, o máximo de pesquisas que faço é com relação a lugares em que nunca estive pessoalmente.

Elenilson – O que você esperava despertar nos leitores de “Inesperado” e “Irresistível”?

Daiane Coll – Quando decidi que a história se transformaria em livro, minha única preocupação foi acabar cada capítulo com um “gostinho de quero mais”. Um suspense contínuo que prendesse o leitor e o fizesse querer chegar ao final o quanto antes. E, claro, estimular o gosto pela leitura.

Elenilson – O que você considera necessário para escrever um livro?

Daiane Coll – Criatividade, tempo, persistência e paciência.

Elenilson – Você acredita que qualquer um pode se tornar escritor?

Daiane Coll – Não. Criar histórias e saber transmiti-las é um dom.

Elenilson – O que você acha mais difícil na hora de escrever uma obra?

Daiane Coll – A correção ortográfica. Leva tempo e o escritor ainda precisa contar com a ajuda de profissionais. Quanto mais vezes você lê seu próprio texto, menos você consegue visualizar seus erros.

Elenilson – Você está trabalhando em algum livro atualmente? Tem algum projeto para o futuro?

Daiane Coll – Tenho vários livros iniciados, outros prontos para serem revisados, mas a prioridade para 2015 é a continuação de “Irresistível” e “Inesperado”, intitulado “Inesquecível”.

Daiane Coll

Elenilson – O que você diria para os que almejam escrever um livro? Que dicas você daria a futuros escritores?

Daiane Coll – Diria para não desistirem. Dedicarem pelo menos uma hora do seu dia para escrever, ou se a inspiração tiver ido momentaneamente embora, dedicar esse tempo para pesquisas. O resultado final, mesmo que só visualizado por pessoas próximas, compensa todo o esforço.

Elenilson – Você tem alguma atividade paralela à de escrever?

Daiane Coll – Sou policial civil. Escrever é a minha forma de relaxar.

Elenilson – Você sempre gostou de ler? Qual a sua vivência com a leitura? Tem algum livro favorito?

Daiane Coll – Eu amo ler. Desde criança adorava os períodos dedicados à leitura na escola. Sou uma verdadeira viciada. Tenho aproximadamente 800 livros em casa e leio uma média de 80 livros por ano. Não tenho apenas um único livro favorito, mas vários que não canso de reler, como “Orgulho e Preconceito”, “Papillon”, “Harry Potter”, “Game Of Thrones”, entre outros.

Elenilson – A que perfil de leitor você indicaria a leitura dos seus livros?

Daiane Coll – Quando o escrevi, visava o público jovem adulto feminino, mas tenho leitores fervorosos de todas as idades e sexo.

Elenilson – Há alguma frase ou trecho de que você mais gosta no livro? Qual?

Daiane Coll – Eu gosto muito da cena de “Irresistível”, em que Alex se declara para Laura sob a luz das estrelas no Haras. Um sonho de consumo para qualquer pessoa romântica.

Elenilson – Vejo com muita tristeza a segregação que os autores, editores e mídia cultural fazem com relação aos autores de outras regiões que não seja o saturado eixo Rio-SP. O que você pensa disso?

Daiane Coll – Também me entristece. Infelizmente, por morar fora desse eixo Rio-SP, você perde a oportunidade de estar presente em vários eventos em que seria importante interagir com profissionais da área. Sem contar que custa muito caro evidenciar um livro na mídia. Outra coisa que me entristece demais é entrar nas livrarias de minha cidade e encontrar livros de vários colegas da mesma editora, a maioria pertencentes a esse eixo, menos o meu.

Elenilson – Há algum personagem nos seus livros de que você gostou mais? Há identificação com algum deles? E, se houver, por quê?

Daiane Coll

Daiane Coll – Assim como uma mãe faz com seus filhos, não consigo eleger um favorito, apesar de nutrir uma simpatia a mais pelo Cássio. Familiares e amigos mais antigos acreditam que me inspirei na minha versão adolescente para elaborar fisicamente a Laura. Como a adoro, quem sou eu para negar?

Elenilson – Alguns autores alegam que aqui no Brasil os livros estrangeiros fazem muito sucesso, enquanto autores nacionais, muitas vezes, são discriminados. Você sente isso?

Daiane Coll – Sim. É só participar de qualquer evento literário para perceber. A grande maioria das editoras colocam livros estrangeiros em grande evidência em seus estandes, enquanto os nacionais lutam pelos espaços restantes. O mesmo acontece nas livrarias, onde os autores nacionais são colocados em espaços reduzidos e em cantos pouco atrativos. Raras são as exceções.

Elenilson – Então o autor paga cinco, dez mil reais para ter seu livro impresso, e termina com sua casa atulhada de exemplares, pois não consegue comercializá-los. Sacanagem, né?

Daiane Coll – Poucos autores nacionais escapam disso. Eu mesma paguei para lançar “Irresistível”, acreditando que todos os meus problemas estavam acabados. Mero engano. A correção ortográfica foi falha, a distribuição nada eficaz e a publicidade inexistente. Por sorte existem blogueiros sérios que ajudam na divulgação.

Elenilson – Qual é a sua avaliação dos novos autores brasileiros?

Daiane Coll – Tenho lido muita obra nacional nos últimos anos, e me surpreendo cada vez mais com a qualidade das histórias. Uma pena que essas preciosidades muitas vezes fiquem restritas aos olhos de outros escritores e blogueiros.

Elenilson – E o mercado editorial? Melhorou para o novo autor?

Daiane Coll – Acredito que não. O mercado está cada vez mais competitivo, e não ajuda quando as editoras preferem investir em obras nacionais de gosto duvidosos, mas escritas por figuras conhecidas do grande público, como atores.

Elenilson – O que você pensa sobre a arrogância de muitos autores com relação ao relacionamento com leitores e críticos-blogueiros?

Daiane Coll – O autor também é seu próprio vendedor. Se ele não se relaciona bem com aqueles que divulgarão e comprarão o seu livro, ou deve estar num patamar de superstar ou escreve só para agradar a si mesmo. Eu mesma tive péssimas experiências com blogueiros, e nem por isso vou generalizar.

Elenilson – O que você ainda espera da Literatura?

Daiane Coll – Muitas novidades, capas criativas e espaços generosos para os autores nacionais em seu próprio país. E claro, que a governo invista mais em educação literária nas Escolas, e financie a publicação de escritores nacionais.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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