Crítica

Crítica Cinderela: um verdadeiro conto de fadas

Cinderela

Nova versão do clássico de Charles Perrault não traz mudanças na história e recria quase que totalmente o universo já conhecido do público

Por Luis Fernando Pereira

Ano passado a Disney bancou uma nova versão da história de Malévola e foi muito bem sucedida, sobretudo nas bilheterias. E neste filme em questão, uma particularidade chamou atenção: a história possuía mudanças muito visíveis, principalmente na relação existente entre a mocinha e a vilã. A Disney viu em Malévola uma chance para não criar de modo tão latente essa relação maniqueísta do bem contra o mal.

Em 2015, entretanto, com o lançamento nos cinemas de Cinderela, essa perspectiva não vingou e estamos novamente de volta àquela ideia de que nos contos de fadas há a mocinha que corre perigos e é injustiçada, e a vilã, no caso a madrasta, que faz de um tudo para ver sua enteada triste e miserável. E como em qualquer conto de fadas que se preze, no fim das contas, o bem vence, para a felicidade do público.

Porém, mesmo seguindo esta estrutura tradicional, Cinderela consegue estabelecer uma relação de bastante empatia com quem assiste. Mesmo não encontrando nada de subversivo e de diferente, a história continua com aquela áurea mágica que faz todas as garotas (e garotos, por que não) abrirem um enorme sorriso ao final da história.

História
Para quem ainda não conhece a história de Cinderela, aqui vai um resumo: após a morte do seu pai, Ella (a bela atriz Lily James) fica sob os cuidados da sua terrível madrasta, Lady Tremaine (Cate Blanchett), e suas filhas Anastasia e Drisella. Ella então passa a ser chamada de Cinderela e se transforma numa empregada em sua própria casa. Um dia, entretanto, ao passear pela floresta, ela se encanta por um corajoso estranho (Richard Madden), sem saber que se trata do príncipe do castelo. Cinderela recebe um convite para o baile e acredita que pode voltar a encontrá-lo, mas a madrasta má rasga seu vestido. Resta então uma fada madrinha fada madrinha (Helena Bonham Carter) socorrê-la.

O primeiro ponto de destaque do filme é o seu elenco, principalmente os nomes de Cate Blanchett como a madrasta má e a sempre estranha, mas adorável Helena Bonham Carter, que aqui faz somente uma ponta, porém consegue de modo bem competente deixar a sua marca. Lily James consegue passar aquele ar angelical, de garota de ingênua e otimista, mas ainda falta certa experiência para a atriz que vem sendo reconhecida por sua participação na série britânica Downton Abbey. Já Richard Madden, o eterno Robb Stark da série Game of Thrones, não convence tanto como o príncipe encantado de uma garota, pois sua imagem no filme aparenta ser de alguém acima da idade para ser um príncipe encantado dos sonhos. Mas os dois enquanto par romântico até que não compromete e as sequências da dança e a final são bem bonitas de se ver.

Cinderela

A direção de Kenneth Branagh é competente, isso não resta dúvida. O diretor, que tem em sua filmografia Sete Dias com Marilyn, Thor, Operação Valquíria e alguns outros menos famosos, consegue evocar todo um universo de fantasia nas cenas. A narração em off, tão desgastada atualmente, aqui tem coerência, pelo ar de contos de fadas que a história não queria de forma alguma perder.

Como é normal em filmes grandiosos e fantasiosos, a direção de arte, o figurino e elementos mais técnicos são destaques, e há todo um apuro técnico que agrada aos olhos. A trilha sonora, típica de histórias do tipo, ajuda o público a entrar no clima da trama e torcer desde o início pela bela Cinderela.

Essa torcida é ajudada pelo fato da madrasta má ser má desde sempre nn filme. Não há muita explicação, talvez em uma pequena conversa dela com Cinderela mais pro final da trama, mas ainda assim é bem pouco para entendermos o porquê dela ser tão cruel com alguém. Assim, com uma vilã realmente má e sem motivos aceitáveis, resta-nos torcer pela mocinha, que além de bela, é ingênua e muito otimista com a vida.

Cinderela retorna aos cinemas com uma nova roupagem, mas mantendo os mesmos princípios de sua já eternizada história. É, em suma, um verdadeiro conto de fadas, pois neste caso ela (a fada) está lá para resolver os problemas da protagonista, e servir de cupido para que uma das histórias mais contadas por mães e avós continue sendo lembrada por décadas e décadas.

Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site

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