Jurados do programa
Programa foi marcado por pequena bronca de Fernanda Lima, que também deve ter percebido a incapacidade de alguns dos jurados em produzir críticas construtivas
Por Luis Fernando Pereira
Se nas primeiras duas semanas do Superstar, reality show musical da Rede Globo, o foco das críticas – boas ou ruins – era o trio de jurados, neste terceiro programa buscaremos entender melhor o processo de seleção das bandas e analisar o que leva um grupo a escolher uma música de outro artista ao invés de suas próprias composições para tocar no programa.
Mas para não deixar totalmente de lado os jurados, podemos somente afirmar o quão gritante é a diferença de qualidade dos argumentos colocados por Paulo Ricardo em comparação com as opiniões de Sandy e Thiaguinho. Óbvio que isso não significa que ele será vencedor, se é que o conceito de vencedor deve ser posto para os jurados ‘padrinhos’, mas que ele é o único que traz algo útil e produtivo ao programa, ah, isso não resta dúvida alguma.
Bandas
Recado dado, agora podemos fazer a primeira pergunta: o Superstar serve para que mesmo? Revelar a próxima grande banda do Brasil? Porque se for isso é muito estranho ver inúmeras bandas fazendo covers de outros grupos e cantores já famosos. O The Voice Brasil permite (quase que obriga) isso, pois o que está em jogo é a voz e a capacidade técnica de um artista. Mas no Superstar, como já foi dito pelos próprios jurados, o que importa é ser original. E como podemos falar de originalidade quando um grupo toca uma cover exatamente do mesmo jeito que o artista principal?
Veja que o problema não é somente o fato da canção ser de outro artista, pois o grupo DEVIR, de Niterói, Rio de Janeiro, tocou um medley de canções famosas Rude/Não Chores Mais (No Woman No Cry) e conseguiu deixar sua marca autoral, fazendo a apresentação ser única e trazendo um quê de novo para as duas músicas. Se desejam tanto utilizar este ótimo espaço de divulgação para cantar músicas dos outros, que ao menos a transformem em algo diferente do que já é.
Banda Devir
Um bom contraponto foi a apresentação da Radio Radar, que reproduziu bem razoavelmente a famosa Time Like These, um dos hinos do Foo Fighters. Fizeram o que qualquer grupo cover faria, sem alteração alguma e nenhum toque de originalidade. Mesmo que o grupo venha com o passar dos episódios a cantar canções próprias, fica a sensação de que se trata de mais uma destas bandas covers da vida.
Tivemos outros dois exemplos de grupos que cantaram músicas dos outros: Piece of My Heart, da banda Supercrow e Corazón Espinado, da banda Yegor y Los Bandoleros. Se foram bons? Claro que foram. Mas será que a nova grande banda da música brasileira irá emergir de uma série de apresentações covers idênticas ao original? Esperemos que não.
Porém, o fato do programa oferecer RS 500 mil em dinheiro (o que acho um erro), leva artistas a pensarem estrategicamente ao invés de somente apresentar sua arte ao mundo. Colocar músicas já conhecidas facilita na identificação delas com o público, e quando a música é minimamente bem executada, a audiência normalmente responde com um sim. Desta forma, a segunda temporada do Superstar vai acabar sendo somente um meio – dos mais mal executados – para fazer um grupo ganhar uma grana e ter um pouco de visibilidade por um tempo. Um erro.
Scambo
Mas falando aqui de coisa boa, tivemos duas apresentações de tirar o chapéu, realmente dignas de aplausos: a da banda baiana Scambo e a do grupo paulista Serial Funkers.
A Scambo vem de Salvador, já bastante conhecida na cena alternativa da cidade, mas sem grande abrangência nacional. O grupo é formado por músicos talentosos, que pregam originalidade e que conseguem sempre produzir músicas das mais bacanas. Depois de ver, uma das canções mais conhecidas (e que foi tocada no programa), é maravilhosa justamente por subverter a estrutura tradicional de uma canção, que sempre exige refrão. Talvez por não pertencer a cena alternativa, Paulo Ricardo e Sandy tenham estranhado (e criticado) esta característica da música. Mas o fato é que a beleza da banda, e da música, é justamente a de oferecer o diferente.
Já o Serial Funkers trouxe aquela vibe do Funk que, quando bem feito, consegue ressuscitar o mais morto dos mortos. Ainda há espaço para muito crescimento deste pessoal (houve pequenas falhas aqui e ali), mas ao final da apresentação o sentimento que sobressaiu foi o de felicidade, por ouvir algo realmente bom.
Para resumir sucintamente: o Superstar continua apresentando os mesmos problemas de sempre, então talvez estejamos próximos daquele momento de aceitar seus erros e assistir ao programa de coração aberto (escancarado) ou então ir buscar outra coisa para fazer na noite de domingo.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site