Literatura

Adultério, de Paulo Coelho – Parece um livro escrito por um autor amador

Adultério

“Seria mesmo Paulo Coelho vítima de uma visão estreita e arbitrária de uma patrulha elitista do que cabe no campo literário?”

Por Elenilson Nascimento

O Brasil além de incompetente politicamente é incipiente também em sua área cultural, em especial, na literatura de entretenimento. Um bom exemplo, é a presença constante do autor Paulo Coelho nas principais premiações no mundo inteiro, mas literalmente ignorado pela crítica do seu país de origem. Seria mesmo PC vítima de uma visão estreita e arbitrária patrulha elitista do que cabe no campo literário, uma “definição literária do literário, típica do sistema brasileiro, que nega assento ao artesão competente no âmbito do entretenimento”?

Acredito que, do ponto de vista raso da nossa cultura, as nossas universidades têm boa parcela de culpa, pois, além de não incentivar seus alunos a abrirem livros, pesquisarem e pensarem por si, os bancos acadêmicos também estejam em dívida com PC. No entanto, antes de começar a saldá-lo aqui seria, enfim, recomendável erradicar qualquer traço de preconceito e ufanismo que transparece numa afirmação de patente falsidade como a de que “o escritor mais lido no mundo… é o brasileiro Paulo Coelho”.

Quanto à arrogância da crítica literária tupiniquim, que seria típica das “camadas letradas” e mais arrogantes deste país afeito à lógica do privilégio, do apadrinhamento e da exclusão – bem, é inegável que ela existe. Mas, apesar do PC não ser o meu autor predileto, bato palmas para os seus números em vendas de livros. E, sem dúvida alguma, ele é sim – querendo a academia ou não – um peso-pesado da literatura comercial mundial. Contudo, deve-se mesmo esquadrinhar de vez em quando o campo dos “excluídos” em busca de injustiças.

Levantamentos ponderados indicam que PC perde, apenas entre autores vivos, para Danielle Steel, J.K. Rowling, Jackie Collins, R.L. Stine, Dean Koontz, Stephen King, John Grisham e entre outros. Mas considerar as hierarquias estéticas tão próprias do Brasil quanto a jabuticaba, porém, induz o leitor ao erro, além de ser redutor medíocre encarar a discussão interminável sobre critérios de valor na literatura como uma falha de caráter da nacionalidade, a premissa é falsa.

Porém, eu tentei. Juro que novamente tentei ler outro livro do PC. Mas, sinceramente, ou eu estou ficando muito exigente e chato com relação às minhas leituras de livros ou realmente o mundo se acostumou com essa literatura rasa vendida como remédio para aumentar a auto-estima.

Em “Adultério” conhecemos Linda, uma mulher de 31 anos, muito bem casada, jornalista (*daí vem uma das melhores frases do livro: “A carreira de jornalista é tão curta quanto a de atleta. Alcançamos cedo a glória e o poder, e logo damos lugar à geração seguinte. São poucos os que continuam e progridem. Ou outros veem o padrão de vida cair, tornam-se críticos da imprensa, criam blogs, dão palestras e passam mais tempo do que seria necessário tentando impressionar os amigos…”), com dois filhos e uma vidinha de propaganda de margarina que praticamente toda mulher deseja ter. Até que Linda reencontra um ex-namoradinho, Jacob König, hoje um influente deputado, e do nada ela resolve fazer sexo oral no cara (*das duas uma: ou PC acha mesmo que fazer boquete é só baixar a calça e cair de boca ou ele vive realmente em outro mundo).

Então, depois disso, Linda acaba se envolvendo com o pilantra, que também é casado, mas que passa pela mesma síndrome de infelicidade que ela. Daí pra frente, os argumentos se repetem dezenas de vezes e se resumem basicamente a isso: a essa confusão que uma mulher madura e moderna causa dentro de si mesma. Mas eu não consegui terminar a leitura, aliás cheguei até a metade do livro e desisti. Não consigo entender como um livro fraco, clichê e com argumentos que beiram a baboseira dos livros de bancas de revistas, tipo “Sabrina” e “Bianca”, ou então do mega sucesso de “50 Tons de Cinza”, consegue vender tanto.

O livro de PC, como os outros da sua leva, é maçante e além disso as falas de Linda não são demarcadas, são junto com o texto em primeira pessoa, como se fosse para contextualizar que não faz diferença entre ela pensar ou falar, tudo que se resume a ela. E pelo amor de Deus, PC, se toca, né?

Eu passei a leitura inteira confuso e rezando para o livro terminar logo, cheguei até a conversar com um amigo e brincar supondo que no final Linda deveria ser muda. Fora isso, muitas mulheres sem vida sexual devem se identificar com os problemas de personalidade de Linda, porque na verdade ela não tem grandes defeitos, ela descobre que está com um problema que no caso é a sua tristeza eminente, e então vai atrás de soluções – e o livro fica nesse lenga-lenga.

O problema é que a única solução que encontra é transar loucamente com um homem casado. Mas que, no caso dela, retardada como muitas, acaba se apaixonando. Todos seus questionamentos, o amante e o marido, tudo começa a ter como ponto central a infelicidade, e a história começa se repetir. Linda Infeliz. Linda com o amante. Linda infeliz. Linda com o amante. Linda com a mulher do amante. Linda infeliz. Linda tentando achar a felicidade. Linda resignada. E fim. Me bata um abacate viu, PC!

Aos meus olhos o livro não me trouxe satisfação nenhuma. Fiquei um pouco chateado de, mais uma vez, ficar decepcionado com a agora literatura de auto-ajuda-sexual do bruxo, mas quem sabe em uma próxima reencarnação não me agrade mais. (“ADULTÉRIO”, de Paulo Coelho, romance, 239 págs, Sextante – 2014) ‪#‎LiteraturaClandestina ‪#‎PauloCoelho

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Culturale possui o excelente blog Literatura Clandestina

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