“Os Encontros de Anna”
“Olhar de Cinema” chega à sua sétima edição consolidando a capital paranaense como o reduto dos cinéfilos brasileiros, entre 6 e 14 de junho. O “Cabine Cultural” destaca algumas das atrações do evento
Por Adolfo Gomes
Nos últimos cinco anos, é a (única) porta de entrada, no Brasil, para a obra de um dos mais importantes cineastas do mundo em atividade: Jean-Marie Straub. Não fosse por tantos outros ótimos motivos, esse rigor e a atenção sistemática com a qual se dedica a uma forma de fazer cinema rigorosa – completamente “varrida” do cenário “cultural” dos eventos audiovisuais no País -, e tão bem representada pelo cineasta francês, já seriam suficientes para fazer do “Olhar de Cinema”, o Festival Internacional de Curitiba, um ponto de convergência da cinefilia.
Na sua sétima edição, Straub se faz novamente presente na programação com o curta-metragem “Pessoas do Lago” (Gens du Lac, SUI, 2018). É apenas uma das conquistas do “Olhar”, que ainda oferece uma retrospectiva de Jean Rouch e do senegalês – pouco difundido em terras brasileiras – Djibril Diop Mambéty; além de clássicos nada evidentes e desafiadores, como “Os Encontros de Anna” (Les Rendez Vous D’Anna, FRAN/BEL/ALE, 1978), de Chantal Akerman; “AOpção ou As Rosas da Estrada” (BRA, 1981), de Ozualdo Candeias; ou “Santo Contra o Cérebro do Mal” (Santo Contra Cerebro del Mal, MEX/CUB, 1961), de Joselito Rodríguez.
Entre a produção brasileira, a estreia do documentário “Smetak”, sobre o músico suíço que viveu na Bahia, realizado por Simone Dourado, Mateus Dantas e Nicolas Hallet; ao lado do novo curta-metragem de Carlos Adriano: “Sem Título # 4 : Apesar dos Pesares, na Chuva há de Cantares” reforçam a proposta arrojada da curadoria do Festival. Na seleção filmes internacionais contemporâneos, despontam o assombroso “Nação Morta” (Tara Moarta, ROM, 2017), de Radu Jude, e “Boa Sorte” (Good Luck, FRA/ALE, 2017), de Ben Russel.
Baianos
Além de “Smetak”, que traz os baianos Mateus Dantas e Simone Dourado estreando na direção de um longa; há, ainda, vários filmes realizados na Bahia ou por cineastas do Estado em incursões por outras filmografias brasileiras. Caso de Letícia Simões, que se debruça sobre a poética e os personagens criados pelo grande escritor paraense Dalcídio Jurandir no documentário “O Chalé é Uma Ilha Batida de Vento e Chuva”. “Diários de Classe”, da dupla soteropolitana Maria Carolina da Silva e Igor Souza, um registro vigoroso do cotidiano de três mulheres – uma jovem trans, uma mãe encarcerada e uma empregada doméstica –, estudantes de centros de alfabetização para adultos em Salvador; e o diário visual “Fervendo”, de Camila Gregório, completam a participação baiana nas mostras paralelas, “Exibições Especiais” e “Outros Olhares”.
“Smetak”
Única produção da Bahia a participar da mostra competitiva do Festival, “Maré”, da documentarista, pesquisadora e profunda conhecedora do cinema africano, Amaranta Cesar, lança um olhar ancestral sobre diferentes gerações de mulheres negras, que processam de maneiras distintas suas relações com o tempo e o espaço onde vivem – os desejos de mudanças e partidas – com fortes vínculos de pertencimento à terra e, neste caso, também à água que cerca um mangue.
Olhar essencial
Confira a seguir, outros filmes imperdíveis, que fazem parte da programação do evento curitibano:
“A Viagem da Hiena” (Touki Bouki, SEN, 1973), de Djibril Diop Mambéty
Casal sonha em abandonar as dificuldades do Senegal rumo ao paraíso idealizado na França, onipresente na trilha sonora graças à voz de Josephine Baker.
Exibições: 9/06, no Espaço Itaú (Sala 2), às 18h45; e 10/06, no Espaço Itaú (Sala 1), às 20h45.
“Pessoas no Lago” (Gens du Lac, SUI, 2018), de Jean Marie Straub
Jean-Marie Straub segue com o último trabalho realizado por ele e Danièle Huillet, “Itinerário de Jean Bricard”, com outro conto de resistência. Faz parte do Programa de Curtas “Cinema, Memória, Elegia, Resistência”, com destaque também para o filme experimental de Carlos Adriano: “Sem Título # 4 : Apesar dos Pesares, na Chuva há de Cantares”.
Exibições: 8/06, no Cineplex Batel (Sala 4), às 17h15; e 10/06, no Espaço Itaú (Sala 2), às 16h30.
“Noite dos mortos vivos”
“A Noite dos Mortos Vivos” (Night of The Living Dead, EUA, 1968), de George Romero
Os 50 anos do clássico do cinema de terror, devidamente, celebrados na recente versão restaurada em 4k.
Exibições: 8/06, no Espaço Itaú (Sala 3), às 22h; e 11/06, no Espaço Itaú (Sala 3), às 21h15.
Programa de curtas Alice Guy-Blaché
Alice Guy-Blaché (1873-1968) é hoje reconhecida como a primeira realizadora do cinema, ainda que por décadas sua contribuição tenha sido apagada da história. A diretora, produtora e roteirista francesa participou de mais 700 filmes ao longo de sua carreira. Os oito curtas deste programa-homenagem apontam o pioneirismo dos temas e das técnicas que compõem sua obra: “Algie, O Minerador” (1912), que desafia estereótipos de comportamento de gênero; “Um Tolo e Seu Dinheiro” (1912), com um elenco inteiramente negro; “Harmonia Enlatada” (1912), uma graciosa comédia de sketches; ”Limite de Velocidade Matrimonial” (1913), que cria um instigante paralelismo narrativo de protagonismo feminino. O programa também conta com os filmes “Filhotes Trocados” (1911), “O Grande Amor Não Tem Homem” (1911), “O Cair das Folhas” (1912) e “A Chegada dos Raios de Sol” (1913).
Exibições: 7/06, no Espaço Itaú (Sala 3), às 21h30; e 9/06, no Espaço Itaú (Sala 3), às 21h30.
“Nação Morta”
“A Nação Morta” (Tara Moarta, ROM, 2017), de Radu Jude
Nas palavras da curadoria do evento: “Não é um filme sobre a Romênia dos anos 30 e 40: é um filme sobre o ser humano em seu lado mais negro. Seu efeito é o de uma devastadora bomba de ação retardada”.
Exibições: 8/06, no Cineplex Batel (Sala 4), às 19h; e 10/06, no Cineplex Batel (Sala 5), às 14h30.
“AOpção ou As Rosas da Estrada” (BRA, 1981), de Ozualdo Candeias
No centenário de nascimento do grande cineasta Ozualdo Candeias, um duro retrato da migração rural para as cidades sob o ponto de vista das personagens femininas.
Exibições: 7/06, no Espaço Itaú (Sala 1), às 14h; e 9/06, no Cineplex Batel (Sala 5), às 19h.
“Baixo Centro” (BRA, 2018), de Ewerton Belico
Pelas ruas escuras do Centro de Belo Horizonte perambulam personagens que parecem muitas vezes sem rumo, mas que têm como norte a própria caminhada. Ocupar as cidades como gesto político supremo num tempo que busca afastar as pessoas do convívio no espaço público – praças, vielas, transportes.
Exibições: 11/06, no Espaço Itaú (Sala 3), às 19h; e 12/06, no Cineplex Batel (Sala 5), às 16h30.
“Santo Contra o Cérebro do Mal” (Santo contra Cerebro del Mal, MEX/CUB, 1961), de Joselito Rodríguez
A primeira incursão cinematográfica do “luchador” mascarado mexicano, Santo. O pano de fundo de uma Havana pré-Revolução é uma atração à parte. Recém-restaurado sob orientação do cineasta escandinavo Nicolas Winding Refn.
Exibições: 8/06, no Cineplex Batel (Sala 5), às 16h45; e 10/06, no Cineplex Batel (Sala 4), às 18h45.
“A punição”
“A Punição” (La Punition, FRA, 1962), de Jean Rouch
A única obra de Rouch da retrospectiva que conta com uma protagonista mulher fora de uma dinâmica de grupo, compartilhando as inquietudes e devaneios de uma geração.
Exibições: 7/06, no Cineplex Batel(Sala 4), às 16h45; e 11/06, no Cineplex Batel (Sala 4), às 16h30.