Coluna de Pedro Del Mar sobre política, educação, cultura e muitos outros assuntos
A intolerância religiosa
A intolerância religiosa é mesmo algo desprovido de quaisquer resquícios de racionalidade e bom senso.
Eis que na quarta-feira, 25/11, a Câmara Municipal de Salvador aprovou a indicação da vereadora Cátia Rodrigues (PHS) que pede a colocação de um monumento em referência a Bíblia no Dique do Tororó. Apenas alguns vereadores de oposição votaram contra o projeto. No executivo, o prefeito ACM Neto (DEM) já afirmou achar o empreendimento “desnecessário”. Aqui, devo concordar com o prefeito. Questiono: qual a necessidade e motivação, se não por intolerância e pirraça, de se colocar um monumento em referência a bíblia para dividir espaço com as já consagradas estátuas dos orixás? Vale lembrar que esse não é o primeiro ataque as figuras de orixás em Salvador. Em 2014, o então candidato a Deputado Federal, Pastor Elionai Muralha (PRTB), propôs o “fim da exposição de Orixás emlugares públicos, com a retirada de imagens de Divindades do Candomblé (Orixás) do Dique do Tororó, do pátio e entrada da sede dos Correios da Pituba e do Centro Cultural Mãe Mirinha de Portão, em Lauro de Freitas, numa total demonstração de intolerância religiosa, contribuindo enormemente para propagação do ódio religioso” como afirma Partido Popular de Liberdade de Expressão Afro-Brasileira na Bahia (PPLÊ) em denúncia apresentada ao Ministério Público Eleitoral. Da Bahia (MPE/BA).
Orixás do Dique
Salvador, assim como a grande a maioria das cidades brasileiras, já possui centenas, talvez milhares, de símbolos cristãos espalhados por toda a cidade. Basta andar alguns minutos pela capital baiana para nos depararmos com cruzes, imagens de santos e etc. Só a título de exemplo, somos a urbe que possui o maior número de igrejas católicas no mundo, 365, uma para cada dia do ano. Sem falar nas igrejas evangélicas que se espalham pelos rincões da cidade em velocidade e número cada vez mais vertiginosos.
No outro polo, são pouquíssimos os locais que possuem referências às religiões e crenças negras, a exemplo da umbanda e do candomblé. Um contraste perante o alto número de adeptos destas crenças na cidade. Um destes poucos locais, e justamente o mais expressivo, é o Dique do Tororó, com suas belíssimas imagens dos Orixás, que agora querem destruir.
Espero, sinceramente, que o prefeito vete essa aberração de projeto, em respeito à diversidade religiosa, ao povo negro e suas crenças.
Pedro Carvalho (Del Mar) é graduando em Direito e em Ciências Sociais. Desde a adolescência participou ativamente de movimentos estudantis e sociais na Bahia e em Minas Gerais. À margem destas atividades, mas não menos importante, cultiva o hábito da escrita, sempre atento ao que acontece na política, sociedade, comportamento, educação, cultura e entretenimento no Brasil e no mundo.