Crítica

Análise crítica OSCAR 2020 – os favoritos sempre ganham?

Jojo Rabbit

É comum que, após saírem os indicados ao Oscar, haja os favoritos e haja, consequentemente, as apostas. Há décadas é esse o comportamento da critica especializada em cinema, dos cinéfilos e do público comum – aquele público que pode não ser especialista em ganhadores e perdedores do Oscar, mas que, sempre entre janeiro e fevereiro, fica atento às produções que estarão concorrendo ao maior prêmio do cinema mundial.

Sempre há os favoritos.

A questão é que, nem sempre, os favoritos saem do Oscar com a tão desejada estatueta dourada.

Vamos lembrar o ano passado: Glenn Close, favoritíssima, vindo de uma série de vitórias, com o filme A ESPOSA, perdeu o Oscar para Olivia Colman. Ou, há anos atrás, numa evidente atitude homofóbica, o Oscar não deu a estatueta de Melhor Filme para BROKEBACK MOUNTAIN – que era o favorito do público e da crítica – e preferiu premiar CRASH.

Esse tipo de situação é bastante comum no Oscar. Contudo, creio que nada nem ninguém conseguirá tirar o Oscar de Melhor Atriz e Melhor Ator para Renée Zellweger e Joaquin Phoenix, respectivamente. Os dois hão de sair com a estatueta, ele pela interpretação magistral em JOKER, e Renée por praticamente ter incorporado Judy Garland em JUDY. Torço totalmente pelos dois, por mais que, neste ano, absolutamente todos os atores que concorrem ao prêmio de Melhor Ator estejam perfeitos nos seus papéis. Cito, por exemplo, Adam Driver, maravilhosamente cativante e lindo em HISTORIA DE UM CASAMENTO.

No caso das candidatas à Melhor Atriz, é indiscutível o destaque para Renée, por mais que tenhamos, entre as candidatas, Charlize Theron, concorrendo por O ESCÂNDALO. Renée nos dá uma interpretação visceral: é quase impossível lembrar que ali é uma atriz interpretando um personagem verídico. Porque o que vemos é Judy Garland, no físico, na forma de falar e, principalmente, no jeito de cantar. Vale enfatizar que Renée não foi dublada: ela, de fato, canta no filme com a sua própria voz.

Coringa

Ainda comentando sobre as atuações que concorrem ao Oscar desse ano, temos Laura Dern concorrendo como Atriz Coadjuvante por HISTÓRIA DE UM CASAMENTO.

Lembro que, na primeira cena dela, nesse filme, eu pensei: Laura vai ser indicada por esse papel. Pois, por mais que tenhamos ótimos atores e atrizes nessa produção da Netflix, quem rouba todas as cenas – em que aparece – é Laura como a advogada especializada em assuntos matrimonias.  Ela não só foi indicada como vem ganhando todos os prêmios na categoria de Atriz Coadjuvante.

Já em Ator Coadjuvante, Brad Pitt tem levado todos os prêmios. E, se ganhar o Oscar, terá sido um premio justo: seu papel no filme de Tarantino tem, para mim, um destaque ainda maior que o de Leonardo DiCaprio – que concorre a ator principal. Penso, inclusive, que o papel de Brad é tão principal (ou até mais) que o de Leonardo. Contudo, não torço por ele. Gostaria muito que Anthony Hopkins ganhasse pelo filme DOIS PAPAS, de Fernando Meirelles. Creio que seria uma premiação justíssima.

Entretanto, vale a pena ressaltar que por mais incrível que possa parecer, o Oscar é um premio com características um tanto quanto sentimentais, às vezes até superando o aspecto industrial dessa premiação: os votantes da academia são atrizes, atores, diretores e diretoras, roteiristas, e por aí vai… É colega votando – ou não votando – em colegas. Afirmo isso porque é muito provável que nem Brad nem Hopkins saiam vencedores esse ano, já que, na lista de coadjuvantes, há Joe Pesci, que saiu da sua aposentadoria (olha aí o fato que pode ser emocionalmente tentador para os votantes), a convite de Martin Scorsese, para fazer O IRLANDES. Pelo caráter emocional, Pesci tem grandes chances. Até porque O IRLANDES não receberá nenhum premio no Oscar 2020. Se ganhar algo, será um premio em reconhecimento a Pesci.

O IRLANDES não tem nem chances à categoria Melhor Diretor muito menos Melhor Filme.

O páreo para Melhor Filme ficará entre 1917, ERA UM VEZ EM… HOLLYWOOD e PARASITA.

Parasita

PARASITA concorre a Melhor Filme Estrangeiro e ganhará. Nem o excelente DOR E GLORIA, de Almodóvar, é capaz de tirar esse premio desta grande surpresa que é o filme coreano PARASITA. Sendo assim, temos o filme de Sam Mendes e o de Tarantino. E minha torcida, honestamente, vai para ERA UM VEZ EM… HOLLYWOOD, não só pelo excelente roteiro original de Tarantino, como pelo conjunto dessa produção: a sequencia final é de uma beleza impar, ainda mais quando saímos do cinema pensando – com tristeza – que todo aquele final, que acabamos de assistir ali, poderia ter, de fato, acontecido na vida real.

Já 1917 não me cativou do ponto de vista da narrativa. Gostaria que nem estivesse concorrendo a Roteiro Original, pois é um roteiro com personagens vazios, nem um pouco cativantes e, para mim, por mais que tenhamos maravilhosos movimentos de câmera, num filme (e há, em 1917!), por mais que tenhamos exuberantes planos sequencias, num filme (e há, em 1917!), se não tivermos personagens que nos digam algo, que nos passem emoção, por mais simples e/ou precários que sejam os planos pensados pelo diretor, se não houver… Para mim, o filme não pode ser considerado uma obra excepcional (como alguns estão considerando 1917) nem uma obra minimamente ótima.

Não torço por 1917 para Melhor Filme. Não torço por 1917 para Melhor Roteiro e, pasmem, nem para Melhor Diretor. Como imagino que Tarantino não ganhará como Melhor Diretor, minha sincera torcida vai para Bong Joon Ho, pela sua impecável direção em PARASITA, um filme que, de fato, tem uma historia – que nos prende à tela – e tem personagens incrivelmente sedutores do ponto de vista da dramaturgia.

Pra variar, o Brasil não conseguiu emplacar um filme de ficção. A VIDA INVISIVEL não está concorrendo.  Porém, na categoria Documentário, há o brasileiro DEMOCRACIA EM VERTIGEM. Que é um excelente documentário, assim como a maioria dos seus concorrentes ser também boa. Se o filme de Petra Costa ganhar, será um prêmio não só inédito para o Brasil como também será um prêmio justíssimo. Entretanto, suas chances são poucas, pois temos dois fortes concorrentes nessa categoria: o muito bom INDÚSTRIA AMERICANA e FOR SAMA, ambos já contemplados em premiações cinematográficas anteriores.

Democracia em Vertigem

O fato é que, neste ano, temos filmes com ótimas e excelentes características artísticas e técnicas. Até aqueles que perderam força, fôlego, no caminho, pouco lembrados e citados, e muito menos premiados, são filmes dignos de nota. Por exemplo, ENTRE FACAS E SEGREDOS, que concorre a Roteiro Original e que, se não tivesse PARASITA e ERA UMA VEZ EM… HOLLYWOOD, na mesma categoria, mereceria ganhar. E mereceria ser indicado a outras categorias também. E JOJO RABBBIT, que podia ter sido, sim, indicado a Melhor Ator, pois o garoto Roman Griffin Davis dá um show de interpretação.

No domingo, dia 09, há a cerimônia do Oscar. E, mais uma vez, estaremos à frente da TV e similares, torcendo pelos nossos filmes e artistas favoritos. Que ganhem aqueles e aquelas que tenham nos dado, no ano de 2019 e nesse início de 2020, a emoção que toda obra cinematográfica – longa, curta, ficção, documentário – deve nos proporcionar.

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