Música e Cérebro
A música em sua origem na mitologia grega deriva-se das musas das artes e da ciência. A etimologia da palavra vem do termo Mousikē, um conceito grego que significa “a arte das musas”, transfigurada pela poesia lírica, alegria e prazer. Esta pode ser uma explicação poética da origem do prazer que sentimos ao ouvir determinados sons.
Hoje, sabemos que a música atua na liberação de dopamina, um neurotransmissor responsável por modular o “sistema de recompensa”, que serve para reforçar alguns comportamentos essenciais à sobrevivência como alimentação ou motivação para execução de uma determinada atividade.
A música em seu conceito simples é a organização dos sons em estruturas sonoras seja em seus aspectos temporais (ritmo) ou na sucessão de unidades sonoras (melodia). E entende-se por funções musicais o conjunto de atividades cognitivas e motoras envolvidas no processamento da música, tal processo exige funções mentais diversas como a audição para apreciar a combinação de uma peça musical, que por sua vez é composta por melodias, ritmos, harmonias e timbres, a coordenação motora necessária para a execução musical que ocorre através da movimentação orquestrada dos diversos músculos do corpo, e por fim, os processos cognitivos e emocionais que estão envolvidos na interpretação musical. Tal mecanismo comprova que a teoria de que usamos apenas 10% do cérebro é no mínimo amadora e equivocada!
Pois já é comprovado cientificamente que quando um indivíduo ouve música, diversas áreas do cérebro são ativadas ao processar o som, maior atividade ocorre com os músicos, que ao tocar um instrumento ativa esta e outras áreas deixando o cérebro em ”frenesi” quando observado em técnicas de imagem. Assim discorrer sobre as relações fisiológicas, comportamentais, psíquicas e afetivas, entre a música e o cérebro humano é mergulhar no diálogo desses dois sistemas autônomos e interdependentes.
O interesse pela relação música e cérebro não reside inteiramente na estimulação sonora e suas funções neuropsicológicas, mas especialmente na sua importância histórica e conotação cultural. A música integra funções do sentir, processar, perceber e comunicar, assim sendo se torna fácil entender que a evolução da estética musical do Ocidente está intimamente conectada com a evolução do pensamento científico. Nós e a música evoluímos juntos… Num processo mútuo de simbiose!
A música não necessita de codificação linguística, ela tem acesso direto à afetividade (áreas límbicas), controlando assim nossas emoções e motivação, também ativa as regiões frontais do cérebro, responsáveis pela linguagem e mímica que acompanha nossas reações corporais ao som. E ainda é capaz de estimular nossa memória não-verbal e nosso sistema de percepção sensorial (visão, olfato, paladar e cinestesia) acionando por exemplo uma lembrança de uma imagem, aroma ou sabor ao ouvir determinada música.
De forma geral, as funções musicais parecem ser assimétricas, pois o hemisfério direito do cérebro parece ser responsável pela altura, timbre, discriminação melódica e criatividade, e o esquerdo responsável pelos ritmos, processamento temporal, linguagem e sequencial dos sons, mas a lateralização das funções musicais pode ser diferente em músicos e em amadores, sugerindo um papel importante da música na plasticidade cerebral, pois viu-se que em músicos há um aumento do tamanho e da atividade do corpo caloso, estrutura do cérebro que conecta os 2 hemisférios.
Pesquisas em pacientes com lesão cerebral mostrou que a perda da função verbal (afasia) não é acompanhada necessariamente da perda das funções musicais (amusia), pois viu-se a existência de afasia sem amusia e vice-versa. Isto indica uma autonomia funcional aos sistemas de comunicação verbal e musical, onde as estruturas envolvidas para o processamento musical são autônomas e funcionalmente diferentes das envolvidas com a linguagem (fala, leitura e escrita).
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Algumas técnicas são utilizadas para investigar os mecanismos cerebrais envolvidos com a música, como as técnicas de neuro-imagem a exemplo da Tomografia com Emissão de Pósitrons (TEP) ou a Ressonância Nuclear Magnética Funcional (RNMf), que permitem “visualizar” as mudanças funcionais e topográficas da atividade cerebral durante o processamento de estímulos sonoros por exemplo. Então, prepare-se para conhecer mais a fundo esta íntima relação da música com o cérebro, pois as descobertas estão só começando.
Sobre a autora
Alana Farias é professora, doutoranda em neurociências e fundadora do Neuro-In, um grupo de consultoria e pesquisa, especializado em ciências cognitivas e comportamento humano. Para conhecer mais do seu trabalho siga-a no Instagram em @neuro.in e no site: http://neuroin.com.br/