Música

Após 2 décadas, Legião Urbana faz show histórico em Salvador

Legião Urbana em Salvador – Foto de Lucas Seixas

“Legionários, alguns com mais de 30 ou 40 anos e movidos pela saudade e lembranças de um passado bom, outros, jovens adultos e adolescentes que sequer viram Renato Russo vivo, mas ouviram e sentiram o seu mais belo legado que ecoa e resiste no tempo. Foram esses que tiveram uma noite inesquecível aos pés dos Orixás do Dique. No dia em que a Bahia comemorou o heroísmo de Maria Quitéria, Joana Angélica e outras guerreiras que livraram o Brasil das mãos portuguesas de uma vez por todas, a Legião trouxe a mais bela trilha sonora para poetizar a nossa independência.”

Por Pedro Del Mar

14 de Janeiro de 1995, Santos, litoral paulista. Nesta data e local, a Legião Urbana, banda brasiliense fundada em 1982, fazia o seu último show. Pouco mais de 1 ano depois, em 11 de Outubro de 1996, as 01:15 da madrugada, Renato Russo, líder e vocalista do grupo, falecia em decorrência de complicações causadas pelo vírus HIV.

23 de Outubro de 2015, Santos, litoral paulista. Nesta data e local, 20 anos após o último show com Renato Russo, a banda volta aos palcos e dá o ponta pé inicial a “Legião Urbana XXX Anos”, turnê que percorre o país em comemoração aos 30 anos do lançamento do 1º disco do grupo. No último sábado, 02 de Julho, dia da independência da Bahia (e do Brasil), a turnê desembarcou em Salvador e levou milhares de saudosos e ansiosos fãs a Arena Fonte Nova.

Composta por dois de seus fundadores, Dado-Villa Lobos (guitarra e vocal) e Marcelo Bonfá (bateria e vocal), mais os novatos André Frateschi (vocal), Roberto Polo (teclados) e Mauro Berman (baixo), a banda chegou em Salvador trazendo uma enorme expectativa na bagagem, afinal, faziam mais de 21 anos que o grupo não se apresentava em terras soteropolitanas. E o tamanho da expectativa foi correspondido pela magnitude da apresentação.

Legião Urbana em Salvador – Foto de Lucas Seixas

Repleto de canções consagradas, como “Será” que abriu o show, “Tempo Perdido”, “Por Enquanto”, “O Teatro dos Vampiros” e “Que país é esse” que encerrou o espetáculo, mas também com músicas menos conhecidas como “Soldados”, “Teorema” e “Angra dos Reis”, o grupo fez uma apresentação memorável, recheada de vitalidade e momentos emocionantes que levaram muitos a um paradoxal mix de lágrimas e sorrisos durante as quase 2 horas em que permaneceram no palco. Destaque para o momento de “Faroeste Caboclo”, que apesar de ter sido a música mais longa do show, tendo quase 10 minutos de duração, pareceu ter sido a que mais levou o público a cantar a plenos pulmões.

Como não era difícil prever, dado o atual momento de polarização política no país, houveram manifestações desta natureza. Em alguns momentos foi possível ouvir na plateia pequenos e tímidos coros entoando o grito “Fora Temer” em desagravo ao impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Em outro momento, durante a execução da música “Meninos e Meninas”, o vocalista André Frateschi emendou a frase “e gosto também de Jean Wyllys”, em referência ao deputado federal baiano do PSOL, eleito pelo RJ, que se destaca na defesa do público LGBT. A manifestação de Frateschi provocou vaias e aplausos do público.

E por falar no vocalista André Frateschi, que muitos conhecem pelo seu trabalho como ator em diversas novelas da Rede Globo, ele mostrou que, embora seja impossível substituir Renato Russo, por tudo que ele representa, o grupo está bem servido nos vocais. E não se trata só de ter uma boa voz e presença de palco, como o próprio André exclamou, ele é um legionário, um fã que ocupa um privilegiado posto.

Legião Urbana em Salvador – Foto de Lucas Seixas

Legionários, alguns com mais de 30 ou 40 anos e movidos pela saudade e lembranças de um passado bom, outros, jovens adultos e adolescentes que sequer viram Renato Russo vivo, mas ouviram e sentiram o seu mais belo legado que ecoa e resiste no tempo. Foram esses que tiveram uma noite inesquecível aos pés dos Orixás do Dique. No dia em que a Bahia comemorou o heroísmo de Maria Quitéria, Joana Angélica e outras guerreiras que livraram o Brasil das mãos portuguesas de uma vez por todas, a Legião trouxe a mais bela trilha sonora para poetizar a nossa independência.

 Pedro Del Mar, baiano, 25 anos, repórter e colunista. Um curioso nato que procura enxergar o mundo sem as velhas e arranhadas lentes do estabilshment. Acredita que para todo padrão comportamental há interessantes exceções que podem render boas histórias.

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