Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil
Documentário foi filmado no Brasil e retrata as percepções da artista sobre diversas manifestações religiosas
Por Karina Balan
Estreia no dia 19 de maio o documentário “Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil”, que retrata a jornada da artista sérvia pelo país em busca de descoberta espiritual. Conhecida pelo “Método Abramovic”, suas performances e instalações exploram as relações entre o artista e a plateia, os limites do corpo e as possibilidades da mente. Envolto em misticismo, seu novo documentário foi dirigido pelo brasileiro Marco del Fior e registra a viagem de Abramovic por diversos estados brasileiros ao visitar guias espirituais regionais.
“Eu vim para o Brasil, tive contato com todos estes xamãs contrastantes, e me curei”, disse Abramovic em coletiva de imprensa em São Paulo. Num misto entre filme de arte e documentário etnográfico, “Espaço além” acompanha Marina em sua experiência exploratória e ritualística. Ao transitar por diferentes culturas e crenças, a artista também embarca em um mergulho íntimo na própria espiritualidade, passando por experiências físicas e emocionais intensas.
Além de conhecer as religiões afrobrasileiras, Marina visita figuras espirituais marcantes, como o médium João de Deus, famoso por suas “cirurgias espirituais”, a curandeira Dona Filhinha, além de locais místicos como o Vale do Amanhecer e comunidades xamânicas. “O que eu absorvi durante a experiência no Brasil foram as forças e coisas que a gente não pode explicar racionalmente, mas isso não significa que elas não existam”, diz ela.
Numa espécie de peregrinação, Marina se deparou com imaginários culturais diferentes, revelando um fascínio pelo sincretismo brasileiro e os processos ritualísticos de cada localidade. Este fascínio, no entanto, deixa transparecer o fetichismo diante do exótico, tão comum quando a religiosidade brasileira é abordada sob o olhar estrangeiro.
A relação da artista com o Brasil não é de hoje, Abramovic veio para o país pela primeira vez em 1989 procurando por minerais. Em Minas Gerais, descobriu os cristais, que viriam a ser alguns dos seus “objetos transitórios”, conhecidos por estarem presentes em suas performances e instalações interativas como elementos energéticos. Para Marina, o Brasil ajudou a moldar sua performance ao longo dos anos. “Eu amo este país, vocês são cheios de surpresas e contradições. Tudo é possível, então pra mim é um lugar muito especial”, diz ela.
Num ritmo que transita entre o documental e o ensaístico, o diretor del Fior também abusou das paisagens e fotografia deslumbrantes para dar um tom metafísico ao filme. A fronteira entre ritual e performance artística também é posta em cheque à medida que a artista narra sua experiência.
Marina conta que a experiência de beber ayahuasca foi o momento em que mais sentiu medo durante a trajetória. “Eu não uso drogas e não bebo, não sou religiosa, só não gosto porque realmente acredito na pureza do corpo e no jejum. Mas eu estava afoita demais para entrar nesse estado de expansão de consciência. Senti muito medo, não conseguia controlar minha mente”, revela a artista.
O filme traz também registros da exposição “Terra Comunal”, que teve espaço no Sesc Pompeia no ano passado, em São Paulo. Nestes registros, Abramovic explora a relação do público com sua obra. “Não sou mais eu que tenho que fazer performance em frente ao público. O público é a minha obra, mais cedo ou mais tarde eu não vou mais estar aqui, o que eu deixo como legado são as ferramentas para a experiência pessoal”, avalia.
“Espaço Além: Marina Abramovic” estará em cartaz nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Curitiba e Recife.
Karina Balan é correspondente do Cabine Cultural em São Paulo