Cinema

As transformações do mercado audiovisual no Brasil / Cultura Pop ETC

Coluna da jornalista Úrsula Neves sobre tudo que acontece no universo da cultura pop

As transformações do mercado audiovisual no Brasil

Você já deve ter notado que o mercado audiovisual está mudando a cada dia. Assim como em outros setores, ele foi impactado pela inovação tecnológica e a mudança dos hábitos de consumo. Não é à toa que marcas e agências estão repensando as suas estratégias para atrair a atenção dos consumidores. Distribuidoras de conteúdo estão começando a adotar novas tecnologias e as agências de publicidade começam a mudar o modo como comercializam as marcas de seus clientes, fugindo do formato tradicional.

O destaque destes novos tempos é o streaming. Há cinco anos por aqui, a Netflix conquistou o público brasileiro. No final do ano passado, a companhia anunciou um investimento de US$ 8 bilhões para 2018 em filmes e séries originais. Para competir com a concorrência, emissoras de televisão começaram a investir em seus próprios aplicativos para disponibilizar a sua programação e até em conteúdos exclusivos, como o Globo Play, que começou a produzir séries específicas para o streaming.

Oportunidades para jovens roteiristas
É dentro deste cenário promissor que milhares de jovens brasileiros buscam uma oportunidade como roteiristas, em um mercado que precisa muito de sangue e ideias novas. “O mercado brasileiro ainda é muito imaturo, se o comparamos com os grandes centros urbanos pelo mundo. Por isso, ser destaque nele ainda depende de fatores não muito controláveis. Por exemplo, a necessidade de segurança do produtor ao escolher alguém para ser roteirista de um projeto. Somente com paixão alguém se torna bom na sua escolha profissional. No mundo do roteiro não é diferente. Um roteirista bem formado usará a sua paixão para se tornar irresistível aos olhos dos produtores. Mas, só a paixão não basta. É preciso muita formação”, analisa Eduardo Ribeiro, sócio diretor da Roteiraria, escola de roteiro e produção de conteúdo de São Paulo.

Para o experiente diretor de TV, um dos maiores desafios para o crescimento do mercado audiovisual no país é a formação de bons narradores. “Os roteiristas no Brasil foram vistos, por muitos anos, como atores secundários, às vezes terciários, na cadeia produtiva do audiovisual. As novas tecnologias não mudam a necessidade de narrar bem. Ao contrário, um público cada vez mais exigente e exposto aos bons narradores estrangeiros de séries e filmes vai exigir de nossos roteiristas um padrão que ainda não alcançamos. Por outro lado, com a chegada dos investimentos diretos de grandes plataformas de streaming como Netflix, Amazon, HBOGo, Apple, Fox e outras, a tendência é de um avanço ainda mais expressivo no segmento. Vemos com muito entusiasmo este momento do audiovisual, ainda que dentro de uma economia que patina”, destaca Ribeiro.

A Roteiraria
A Roteiraria trabalha formando roteiristas e desenvolvendo produtos próprios, criados por seus alunos e também produtos solicitados pelos produtores parceiros ou diretamente pelos canais de televisão. “O nosso modelo de parceria com o mercado criou mecanismos simples e eficientes para os parceiros investirem no desenvolvimento e, assim, nos tornamos sócios com ganhos para ambos, em toda a cadeia”, conta Ribeiro.

Eduardo Ribeiro – Foto Marcelo Kahn

Entre os ex-alunos da escola que já conquistaram projeção no mercado estão: Elena Soarez (O Mecanismo e Treze Dias Longe do Sol), Caco Galhardo (Mulheres Alteradas), Maria Elisa Berredo (Êta Mundo Bom! e Verdades Secretas), Patrícia Andrade (Entre Irmãs), Paulo Morelli (Felizes para Sempre? e Cidade dos Homens) e Duca Rachid (Cordel Encantado e Joia Rara).

Entre os próximos projetos da Roteiraria estão duas séries em parceria com a O2 Filmes e com a Primo Filmes. Além disso, seis outros projetos seguem em desenvolvimento, sendo dois longas e quatro séries. Destes, dois são projetos de alunos.

O sócio diretor explica que novos investimentos estão vindo por aí com a entrada de mais investidores para o projeto de expansão da Roteiraria. “Serão investimentos de até 6 milhões de reais na implantação de uma nova sede que terá salas permanentes de desenvolvimento, um novo conjunto de salas de aula, dois auditórios para debates e eventos, um coworking a preços simbólicos para jovens roteiristas e uma sala de projeção desenhada para exibição de maratonas de séries e para lançamentos de séries. Estamos negociando com os players de exibição e com as plataformas de streaming para que este seja um projeto de bastante impacto no nosso mercado”, adianta Ribeiro.

Streaming abre novo mercado para produtoras nacionais
A Netflix, depois de lançar a série Narcos na América Latina, decidiu investir especificamente no Brasil. A série “3%” foi o primeiro conteúdo nacional original da popular plataforma de streaming, produzida pela Boutique Filmes. Já em março deste ano foi lançada a série “O Mecanismo”, da Zazen Produção.

Mais recentemente, foi a vez da produtora Losbragas lançar um produto original na Netflix. “Samantha!” conta a história de uma atriz que fez carreira como estrela mirim e que tenta voltar a ficar famosa após ser esquecida.

É possível perceber que o streaming dá mais poder de negociação às produtoras independentes e torna o audiovisual brasileiro mais competitivo. E com a convergência das mídias, o consumidor quer cada vez mais conteúdo, mas não qualquer conteúdo. Conteúdo original e de qualidade.

Ainda há muito mais o que ver e esperar pela frente!

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